- Por quase uma década, de 13 de março de 2013, quando foi eleito Sumo Pontífice o argentino Francisco, a 31 de dezembro último, data da morte, aos 95 anos, do Papa Emérito, o alemão Bento XVI, a Igreja teve, simultaneamente, dois papas. Fato inédito desde a profunda Idade Média (476 – 1453). Dois papas e duas trajetórias diferentes de Teologia. Francisco, hoje, aos 87 anos, e Bento XVI passarão à História por terem trilhado estradas que não se cruzam.
- O portenho é, acima de tudo, um populista, de inspiração peronista, portanto, pragmático, beirando à demagogia dos políticos, simpatizante da esquerdista Teologia da Libertação e defensor do ‘liberalismo’ nas questões de comportamento.
- Já seu antecessor, um erudito filósofo do universo germânico, possuía traços conservadores, embora tenha sido, desde a juventude, militante antinazista. Via sem muita esperança a vã tentativa de atrair, com a relativização dos milenares dogmas, famílias que se afastaram da fé Católica, convertidas ao laicismo, sobretudo, na Europa Ocidental. Esvaziando, assim, as monumentais basílicas, catedrais e igrejas paroquiais – de Portugal à Alemanha.
- O grande questionamento nestes dias, não só dentro dos muros do Vaticano, é qual será a tendência teológica do sucessor de Francisco. Dará continuidade ao pontificado progressista do argentino ou se voltará para salvar as almas que restam ao Catolicismo no Velho Mundo? O exemplo ocorrido no Brasil angustia os altos prelados.
- Aqui, ao mergulhar de cabeça na Teologia da Libertação, a Igreja acabaria ‘empurrando’ para os templos evangélicos milhões de fiéis conservadores – principalmente nas populações mais humildes. Contudo, um Papa lusitano, único, aliás, de nacionalidade portuguesa, João XXI (1215 – 1277), parece indicar o caminho da sabedoria e pode ser levado em conta pelo Sagrado Colégio dos Cardeais na hora de eleger o próximo Pontífice.
- Nascido em Lisboa, com o nome de Pedro Julião, esteve como soberano da Santa Sé, quando ainda estava sediada em Viterbo, a 120 quilômetros de Roma, no período de 20 de setembro de 1276 a 16 de maio de 1277, quase ao final da Idade Média. Exerceu um papel importantíssimo ao fazer a Igreja sacudir a poeira medieval e ir se adaptando aos novos tempos do exuberante Renascimento, que tinha como cenário a Florença dos Medici, no centro da Península Itálica.
- A Igreja, com João XXI, começou a mudar e avançou por séculos, apesar da Reforma Protestante, a partir de 1517, e da Revolução Francesa – deflagrada em 1789. Chegou até o homônimo João XXIII (1881 – 1963), patrocinador do Concílio Vaticano Segundo – iniciado por ele, em outubro de 1962, e encerrado, em dezembro de 1965, no pontificado de Paulo VI (1897 – 1978).
- O Papa luso estudou Medicina e Teologia e teve dois ilustríssimos italianos como mestres, na Universidade de Paris, São Tomás de Aquino (1225 – 1274) e São Boaventura (1221 – 1274), considerados os maiores Doutores do pensamento Cristão no Segundo Milênio. Foi o único médico entre os papas e, com o pseudônimo de Pedro Hispano, escreveria doze obras sobre a lógica aristotélica adotada durante o Renascimento nas universidades europeias. Os trabalhos de João XXI mereceram respeito e admiração de Dante Alighieri (1265 – 1321), precursor do Renascimento. Colocou a alma do papa português no Paraíso, na sua soberba A Divina Comédia, entre as que rodeiam a de São Boaventura, sendo denominado “aquele que brilha em doze livros”. Nos ensinamentos do sábio lusitano pode estar a chave do pontificado que sucederá Bento XVI e Francisco.
ALBINO CASTRO ” PORTUGAL EM FOCO” ( BRASIL / PORTUGAL)
Albino Castro é jornalista e historiador