A troca era esperada devido à falta de alinhamento do general com o presidente eleito Lula e por sua atuação diante dos acampamentos golpistas
O general Júlio César Arruda foi demitido do posto de comandante do Exército na manhã de hoje, dia 21. Anunciando sua saída do Comando da Força chamou, às pressas, uma videoconferência com o intuito de ‘informar os colegas seu desligamento’.
A sua demissão foi determinada pelo presidente Lula, e foi uma surpresa para os generais por ter ocorrido um dia após a reunião das Forças com Lula e o ministro José Múcio. Parte da surpresa vem do fato do general Arruda ter relatado que a conversa havia sido positiva.
A troca era esperada devido à falta de alinhamento do general com o presidente eleito Lula e por sua atuação diante dos acampamentos golpistas montados em frente ao Quartel General do Exército, em Brasília. Segundo interlocutores, Arruda teria feito corpo mole para a desocupação e, após os atos terroristas de 8 de janeiro, mostrou-se resistente e sem atuação na pacificação do presidente com a tropa.
Outro ponto de atrito teria sido sua resistência em revogar a designação do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordem de Bolsonaro e apontado pelo jornal Metrópoles como o responsável pelas contas do casal no cartão corporativo, como comandante do 1º Batalhão de Ações e Comandos, unidade de Operações Especiais. O Planalto esperava a anulação da nomeação.
Segundo o jornal O Globo, o afastamento do general Arruda já vinha sendo aventada pelo Exército e Ministério da Defesa por questões de saúde. Mas a hipótese caiu por terra com a informação de que a cirurgia eletiva necessária era de baixa complexidade e não atrapalharia seu trabalho no cargo.
O Exército ainda não se manifestou sobre a troca, devendo se pronunciar após o Ministério da Defesa.
O general Tomás Miguel Ribeiro Paiva, atual Comandante Militar do Sudeste, é quem assume a função. Paiva defendeu abertamente o processo eleitoral e as funções das Forças Armadas na manutenção da democracia no país.
O especialista em Forças Armadas da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Francisco Carlos Teixeira da Silva, teceu algumas considerações sobre o ocorrido. Leia a seguir e, ao final, escute o áudio gravado por ele.
por Francisco Carlos Teixeira da Silva
A demissão do Comandante do Exército foi inevitável e marca a nova disposição do Governo Lula em buscar todos os culpados, seja por ação, seja inação.
No caso do General Arruda houve um notório ato de defesa dos extremistas no dia 8/01 e nessa mesma noite ameaçou autoridades civis, inclusive o próprio Ministro da Justiça.
A proteção a elementos extremistas tornou-se uma constante com a proteção do TC Cid, filho do General Lorena Cid e “chefe” do Gabinete do Ódio de Bolsonaro. Entregar a este elemento o Batalhão de Comandos situado na proximidade de Brasília (em Goiânia) é um desafio a ordem constitucional.
Além disso, o TC Cid é alvo de vários inquéritos por ações antidemocráticas, não poderia assumir tamanho comando.
Da mesma forma, a reunião hoje, no modo remoto, para “discutir a atual situação” é uma ingerência inconstitucional nos assuntos republicanos.
Assim, o Governo Lula explícita uma nova abordagem na questão democrática, abandonando o gradualismo defendido pelo Ministro da Defesa.
Mais do que nunca devemos estar atentos em defesa da Democracia.
Francisco Carlos Teixeira da Silva – UFRJ.
Hoje, o ministro da Defesa, José Múcio, fez o anúncio da destituição do general Arruda e sua substituição pelo general Tomás Paiva.
LOURDES NASSIF ” JORNAL GGN” ( BRASIL)