No JORNAL DO BRASIL, onde ingressou em 1958, como estagiário, logo foi deslocado, no ano seguinte, como setorista do velho aeroporto do Galeão, para fazer a cobertura das personalidades que desembarcavam na então capital federal…
Elegante, competente e suave, na voz e no trato, como o jazz que tanto amava e entendia como poucos no Brasil, partiu nessa quarta (12), aos 84 anos de idade, o jornalista Luiz Orlando Carneiro, decano da cobertura do Supremo Tribunal Federal (STF), onde atuou por 28 anos até se aposentar há duas semanas, por problemas de saúde, como produtor incansável de matérias para o site JOTA, especializado em assuntos judiciais, incluindo a cobertura dos tribunais superiores: Supremo Tribunal Federal e Superior Tribunal de Justiça.
Mas foi no JORNAL DO BRASIL, onde ingressou em 1958, como estagiário, e logo foi deslocado, no ano seguinte, como setorista do velho aeroporto do Galeão, para fazer a cobertura das personalidades que desembarcavam na então capital federal, que Luiz O. como ficou conhecido na redação do JB, ainda na velha sede da Avenida Rio Branco, fez brilhante carreira. Embora fosse parente da Condessa Pereira Carneiro, a dona do jornal, se comportava como os demais colegas, sem qualquer afetação.
Do Galeão, onde ficou até 1963, voou alto para a redação. Fluente em inglês e francês, sua argúcia para identificar boas pautas no aeroporto o guindou à chefia de reportagem (1964-1969). Em seguida passou a editor de notícias (1969-1974), na época de ouro do JB, que tinha Alberto Dines como Editor-Chefe e o Chefe de Redação era Carlos Lemos, período em que o conheci. De 1974 a 1979 L.O. foi chefe de redação e um grande conselheiro, quando como subeditor de Economia, em 1975, participava diariamente das reuniões da “cozinha” do jornal. No governo Figueiredo, mudou-se para Brasília, atuando como chefe da sucursal local e diretor-regional (1979-1992).
A paixão pelo jazz
Quase todo mundo conhecia a admiração de L.O. pelo jazz. Ele integrava o grupo fundador do “Clube do Jazz e Bossa”, em 1965. Uma “orquestra” que tinha como expoentes nomes como Jorge Guinle, Ricardo Cravo Albin, Ary Vasconcelos, Sérgio Porto, Vinicius de Moraes e um tal de Tom Jobim. O clube manteve reuniões semanais até 1967.
Sua paixão pelo jazz se traduziu em vários livros sobre o tema: Uma Introdução (1982); Obras-Primas do Jazz (1986); Elas Também Tocam Jazz (1989); A Nova Constituição para Crianças (1989), em coautoria com Inês Carneiro Cavalcanti; e Entrevistas Imaginárias (2017). Também é o autor do Guia de Jazz em CD (2000). Também são de sua autoria os verbetes sobre jazz das enciclopédias Delta-Larrousse e Mirador.
Mas poucos sabiam de outra função de L.O. nos tempos duros do regime militar. Ele era o redator das falas dos dois personagens desenhados por Lan que retratavam a situação nacional na página 11 do JORNAL DO BRASIL. Com sua erudição, L.O. “batizou” um deles de Cagliostro. O outro a memória me falha.
Em Brasília, Luiz Orlando Carneiro conheceu o mundo da política e as principais figuras dos três poderes. Um jantar para o presidente eleito Tancredo Neves reuniu em sua casa cerca de 300 convidados. Sempre discreto e elegante, passou a fazer a cobertura dos atos do Judiciário desde 1992, no JB, quando percebeu que a Constituição de 1988 seria motivo para muitas discussões judiciais. L.O. tinha o Direito no DNA, pois seu pai foi desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. O site JOTA foi sua trincheira depois que saiu do JB em 2014.
E as sucessivas homenagens iniciadas em 2008, quando o então presidente do STF, Gilmar Mendes, o presenteou com uma placa pelos 50 anos de profissão, mostram a reverência e o respeito da Suprema Corte a L.O. e à excelência de seu jornalismo. Viúvo desde 2016, quando faleceu Branca, sua adorada esposa, L.O. deixou suas filhas, Lúcia e Teresa, e o filho Paulo.
L.O sendo homenageado pelo então presidente do STF, Gilmar Mendes, e entrevistado pelos coleguinhas setoristas do tribunalLuiz Orlando Carneiro (à esq.) conversa com Ella Fitzgerald e Jorge Guinle (1° a partir da direita) em almoço promovido pela Embaixada dos EUA nos anos 60
GILBERTO DE MENEZES CÔRTES ” JORNAL DO BRASIL” ( BRASIL)