“Prender Bolsonaro logo depois do retorno ao Brasil pode ser uma arapuca preparada pela própria extrema direita”, opina Moisés Mendes
Depois do estrago feito pelo rodo de Alexandre de Moraes, com as ordens de prisão contra um coronel da PM e um delegado da Polícia Federal, amplifica-se uma dúvida.
Não é um dilema qualquer. É o que tenta levar a uma conta de chegada os ganhos e as perdas com a eventual prisão de Bolsonaro.
A tentação é uma armadilha. Ser preso pode ser a última chance do fujão de ter um final que, em seus delírios, considere heroico.
Bolsonaro fugiu e se degrada todos os dias. Está fragilizado moral, política e fisicamente.
Em poucos dias, será o líder só dos filhos, porque até os manés o abandonarão, depois de terem sido abandonados.
Prender Bolsonaro logo depois do retorno ao Brasil pode ser uma arapuca preparada pela própria extrema direita.
O que a guerra contra o fascismo ganharia com Bolsonaro encarcerado, se ele talvez não consiga liderar mais nada e se pode ser cercado e preso mais adiante, na hora certa?
O que importa hoje é conter os poderosos que sempre sustentaram a estrutura montada ao redor de Bolsonaro. E eles não são os que alugaram ônibus para a invasão de Brasília.
Não são os donos de fazendolas e biroscas do Mato Grosso, de churrascarias de São Paulo ou de serralherias em Goiás.
Esses devem ser contidos como criminosos financiadores das ações terroristas do domingo, mesmo que nunca mostrem a cara.
Mas o financiador do esquema de Bolsonaro, desde antes da eleição de 2018, não é esse patriota da hierarquia intermediária.
O financiador é o grande manezão que desafia o Supremo e o TSE há anos. O manezão milionário que sustentou o poder paralelo de Bolsonaro e ainda sustenta o manezinho tem expertise.
Já foi cercado, já escapou, voltou a agir, recuou e hoje se apresenta até entre os arrependidos.
Não usa PIX, porque está acima dessa chinelagem, e deve contar com dezenas de operadores sem ligação direta com ele para fazer o trabalho sujo.
O manezão apaga rastros e vai escapando, enquanto Moraes manda prender o coronel Fabio Augusto Vieira, ex-comandante da PM do Distrito Federal. O ministro vai encarcerar o primeiro militar de alta patente.
Logo depois determinou a prisão do ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança do Distrito Federal Anderson Torres. Vai pegar um delegado da Polícia Federal.
Mas ainda falta mandar encarcerar o primeiro civil histórico e graduado do bolsonarismo.
Manés e patriotas amadores e profissionais presos pelos atos terroristas em Brasília foram empurrados para a delinquência pelo ambiente criado por Bolsonaro com o suporte dos militares.
Ambiente que não existiria, com gabinete do ódio, fábrica de fake news e milícias digitais sem a ajuda de gente com dinheiro de fora do governo.
Gente que fez militância golpista contra Dilma, que ajudou a puxar o jogral da prisão de Lula, tumultuou a eleição de 2018 e tentou sabotar a eleição do ano passado. Alexandre de Moraes conhece todos eles e conhece mais ainda o fascistão.
Ninguém pede pressa ao ministro. Mas o Brasil sabe que em algum momento, na hora certa, ele irá pegar o fascistão que o desafia há anos.
Conter o fascistão impune, que escapa sempre do Ministério Público e da Justiça, é mais importante hoje, como ação exemplar, do que pegar qualquer outro extremista.
A prisão do fascistão seria decisiva para tirar a cadela do fascismo do cio. O fascistão é o cachorrão, o cão de guarda de Bolsonaro.
Esqueçam Bolsonaro, que cairá mais adiante, e concentrem-se no manezão.
Mas não esperem muito para tirar o mané fascistão da colônia de férias da impunidade, ou ele escapa de novo.
MOISÉS MENDES ” BLOB BRASIL 247″ ( BRASIL)