A renovação empresarial do país passa por uma reforma no sistema S, que devolva às federações e confederações a legitimidade perdida.
Um dos grandes desafios, na tentativa de recuperação do país, é a crise de representatividade das entidades empresariais.
Uma legislação anacrônica, jamais modernizada, fossilizou os sistemas internos de poder de algumas das maiores entidades do país – Federação das Indústrias de São Paulo, Federação das Indústrias do Rio de Janeiro, Confederação Nacional do Comércio, entre outras.
Quem compõem as federações são os sindicatos setoriais. A economia mudou, houve setores que praticamente desapareceram da economia, mas os sindicatos continuaram tendo voz ativa, com uma divisão setorial absolutamente irracional, principalmente sabendo-se que cada sindicato tem direito a um voto..
Tome-se o caso da FIESP. Integram a entidade, entre outros:
- Sindicato das Indústrias de Artefatos de Borracha e da Reforma de Pneus.
- Sindicato das Indústrias de Calçados e Vestuário de Birigui e, ao mesmo tempo, o Sindicato da Indústria de Calçados do Estado de São Paulo.
- Sindicato da Indústria de Chapéus.
- Dois Sindicatos das Indústrias da Construção e do Mobiliário, de Leme e de Santa Gertrudes..
- Sindicato das Indústrias de Extração de Areia.
- Três sindicatos das Indústrias Gráficas, de Campinas, outra de São José do Rio Preto e outra do estado.
- Sindicato da Indústria da Mandioca.
- Cinco Sindicatos da Indústria de Panificação e Confeitaria, de Ribeirão Preto, Santo André, Santos e São Vicente, São Paulo,
- Sindicato Nacional da Indústria de Fósforos.
- Sindicato Nacional da Indústria de Rolhas Metálicas.
Esse amontoado de sindicatos convive com sindicatos de setores fortes, como da Indústria do Açúcar. E permite o exercício do populismo mais barato e da instrumentalização da FIESP para fins políticos. Foi a esse expediente que recorreu o ex-presidente Paulo Skaf. Em sua gestão foram afastados da entidade as principais lideranças industrialistas do Estado, enfraquecendo toda a discussão sobre políticas industriais e tornando a FIESP um instrumento de suas aventuras políticas.
Este ano, Skaf abriu espaço para Josué Gomes, de um grupo têxtil poderoso. Josué trouxe de volta para a entidade empresários que integravam o IEDI (Instituto de Estudos de Desenvolvimento da Indústria); renovou o Conselho de Economia com economistas de mente aberta; e assinou um documento em defesa da democracia.
Agora, Skaf planeja sua destituição, contando com os votos de presidentes de sindicatos inexpressivos.
Não é apenas a FIESP. No Rio, a FIRJAN (Federação das Indústrias do Rio de Janeiro) está há décadas presidida por um presidente cujo único elo com a industrialização é o pai, o grande João Pedro Gouvêa Vieira, advogado e dono de uma das primeiras distribuidoras de combustível nacional, a Ipiranga. O discurso do filho é uma repetição dos mantras do mercado, mostrando que a praga da financeirização atingiu muitos dos herdeiros da geração pioneira dos industrialistas.
O mesmo acontece com a CNC, há décadas dirigida por um mesmo grupo político, sem nenhuma expressão na formulação de políticas públicas, mais interessado em administrar as verbas do Sistema S do que promover a modernização do comércio.
A renovação empresarial do país passa por uma reforma no sistema S, que devolva às federações e confederações a legitimidade perdida.
LUIS NASSIF ” JORNAL GGN” ( BRASIL)