A única lógica desses movimentos é acenar para o Congresso a ideia do grande pacto, para facilitar a aprovação do “waiver”, e manter o mercado calmo em relação a esse movimento, até que se defina o nome do futuro Ministro da Fazenda.
Ainda é cedo para qualquer diagnóstico sobre a política econômica de Lula. Sabe-se apenas que, neste momento, a prioridade máxima é conseguir o “waiver”, o espaço de R $150 a R $170 bilhões para complementar o orçamento destroçado por Paulo Guedes.
As primeiras indicações para a equipe de transição econômica revelam muito mais a disputa entre Aloizio Mercadante e Geraldo Alckmin do que qualquer linha econômica.
Até agora, são quatro nomes indicados: os pais do Real, André Lara Rezende e Pérsio Arida, o ex-ministro do Planejamento de Dilma Rousseff, Nelson Barbosa, e o professor da Unicamp Guilherme Mello.
Parte-se do pressuposto de que da discussão nascerá a síntese. Aconteceu nas Conferências Nacionais, mas em temas em que as diferenças eram apenas nas ênfases. As ONGs educacionais privilegiavam os indicadores de desempenho; as associações de professores defendiam salários e melhores condições de trabalho. Chegou-se à síntese: tem que melhorar o salário dos professores e dar condições de trabalho; atendidas essas premissas, tem que se avaliar e cobrar.
No caso dos economistas em questão, não há maneiras de tirar sínteses.
André é defensor da Nova Teoria Monetária – que não vê empecilhos para a emissão de moeda. Pérsio tornou-se um ortodoxo, preocupado apenas em prosseguir com o esvaziamento do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Nelson Barbosa é seguidor de um neo-keynesianismo meio torto, que acredita que os investimentos voltarão quando a taxa longa de juros cair. E nenhum deles parece inclinado a abandonar suas certezas.
Restará ao jovem Guilherme Mello operar como um administrador de egos.
A única lógica desses movimentos é acenar para o Congresso a ideia do grande pacto, para facilitar a aprovação do “waiver”, e manter o mercado calmo em relação a esse movimento, até que se defina o nome do futuro Ministro da Fazenda.
Esqueçam Henrique Meirelles. O último a cair na esparrela foi João Dória Jr, que juntou Planejamento e Fazenda e passou o bastão a Meirelles. Tempos depois, deu-se conta da insuficiência operacional do secretário, criou uma nova secretaria, trouxe Mauro Ricardo, e passou para ele todas as tarefas essenciais, que Meirelles não dava conta de tocar.
Além disso, hoje em dia a idade parece pesar. Meirelles foi flagrado cochilando em várias reuniões.
A Fazenda precisa estar nas mãos de alguém que conheça, de fato, os problemas e as prioridades nacionais, e que tenha conhecimento econômico suficiente para não ser engabelado pelos ecos do mercado e também saber quais limites superar, para que a política econômica deixe de ser um entrave ao desenvolvimento.
LUIS NASSIF ” JORNAL GGN” ( BRASIL)