Em entrevista ao GGN, historiador e professor da UERJ afirma que estratégia semelhante foi usada na vitória de Trump e no Brexit
A estratégia criada pelos bolsonaristas na última semana antes do segundo turno das eleições presidenciais não deu certo, mas tornou a disputa mais acirrada do que o imaginado – e tudo graças às redes sociais, como explica o pesquisador João Cezar de Castro Rocha.
“Entre sexta e segunda, bolsonaristas começaram uma tentativa de criar uma onda artificial – onda artificial que levou à vitória no Brexit, e à eleição do Trump e que foi fundamental para o (presidente Jair) Bolsonaro em 2018 – porque nós, do campo progressista, da esquerda democrática, não entendíamos o que estava em jogo”, explica, em entrevista exclusiva ao Jornal GGN.
O início dessa “onda artificial” pôde ser visto na última sexta-feira, quando apoiadores de Bolsonaro começaram a postar em massa textos ligados à virada das intenções de voto no segundo turno – como “está virando, Bolsonaro começa a virar, eis a virada, vai virar, virou”.
“Aí é que nós temos que nos perguntar: qual é o objetivo de uma tal campanha? Eu proponho: o objetivo dessa campanha é, na reta final da eleição – repito, foi assim no Brexit, foi assim no Trump, foi assim em 2018”, afirma Castro Rocha.
“Na reta final da campanha, (o objetivo era) criar um fato que gera um rumor, que escala em uma bola de neve, que se transforma… o que era uma onda artificial se torna fato político real”, ressalta o pesquisador.
Técnica criada por Steve Bannon para atrair indecisos
Segundo Castro Rocha, os gastos da extrema direita com essa estratégia não teriam como foco aqueles que já foram convertidos ou aqueles que votam na esquerda democrática – e sim com os indecisos.
“Não faz sentido gastar tanta energia para assegurar um voto que já está assegurado, que é o voto dos convertidos. Por que é que a extrema-direita faz isso com técnica, com uma técnica inventada pelo Steve Bannon, pela Cambridge Analytica e usada em vários lugares do mundo”, ressalta o pesquisador.
Esse microdirecionamento tem como foco a atuação nas redes sociais, principalmente pelo fato de as pessoas ficarem conectadas nas redes 24 horas por dia. “Sabe o que acontece então, na reta final: de 3, a 4, a 5% dos indecisos tomam uma decisão. A favor de quem? Da onda”, pontua o professor universitário.
“E é por isso que, geralmente, os institutos de pesquisa não tem como avaliar esta onda e é por isto que essas vitórias apertadas surpreendem, porque eles criam essa onda” ressalta João Cezar de Castro Rocha.
Veja mais a respeito de tal estratégia na entrevista exclusiva de João Cezar de Castro Rocha para o Jornal GGN.
TATIANE CORREIA ” JORNAL GGN” ( BRASIL)