PM Henrique Gama dos Santos estava a serviço da campanha de Tarcísio, o que é estranho, já que o governo de SP não tinha disponibilizado segurança para Haddad
Há oito dias, escrevi neste espaço que o tiroteio em Paraisópolis que envolveu a campanha de Tarcísio de Freitas tem cheiro de armação.
E expliquei as semelhanças do caso com o de Juiz de Fora em 6 de novembro de 2018, em que Bolsonaro foi alvo de uma facada ou suposta facada.
No dia seguinte, publiquei com exclusividade o boletim de ocorrência sobre o tiroteio em Paraisópolis.
E BO contém informações que reforçam a suspeita de armação: o jovem morto por um PM nas imediações do evento de Tarcísio, Felipe da Silva Lima, não estava armado.
Pelo menos, não foi encontrada nenhuma arma com ele. Os autores do BO especulam a razão:
“Restando a justificativa provável da ausência de localização de arma junto ao corpo de Felipe de que seus comparsas e demais criminosos, que recuavam e chegaram a tentar resgatar de Felipe, podem ter conseguido recuperar a arma utilizada pelo mesmo.”
Diante das informações publicadas pela Folha de S. Paulo nesta terça-feira (25/10), uma hipótese que não pode ser desprezada é que nunca houve troca de tiros, mas execução, com intuito de criar a narrativa de “atentado” contra Tarcísio de Freitas.
O que reforça essa hipótese é o perfil do soldado Henrique Gama dos Santos, apontado no BO como autor do disparo.
O jornalista Artur Rodrigues, autor da reportagem publicada na Folha de S. Paulo, revela que há alguns meses o policial foi treinado pela Escola de Inteligência da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), em Barbacena, cidade que fica a 103 quilômetros de Juiz de Fora.
A Folha omitiu o nome de Henrique Gama dos Santos, de acordo com critérios próprios. Mas, jornalisticamente, não se justifica, já que o nome dele aparece no BO, um documento público.
O boletim informa que Henrique pertence ao “comando do QG da PM, atuando na área da inteligência/P2”.
Mas nada fala sobre o treinamento na Abin, órgão que recebeu em 2019 pelo menos três agentes da Polícia Federal que atuaram na segurança de Jair Bolsonaro em Juiz de Fora, naquele 6 de setembro.
A Abin está subordinada ao ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, que, alguns dias antes do tiroteio em Paraisópolis, declarou que o candidato Tarcísio de Freitas poderia sofrer um atentado.
Logo após os fatos em Paraisópolis, classificou-os como “possível atentado”.
Sua declaração foi dada em entrevista à Jovem Pan, rádio que está no centro do que pode ser uma grande armação, com finalidade de manipular a opinião pública e, consequentemente, fraudar as eleições.
A reportagem da Folha revela a existência de um áudio em que um integrante da campanha de Tarcísio de Freitas se dirige ao cinegrafista da Jovem Pan como se fosse seu chefe.
“Você filmou (inaudível) que mostram policiais atirando? Quando a gente estava… chegou lá pra ver o que estava acontecendo? Você saiu do local e foi até lá?”, pergunta o integrante da campanha, não identificado.
O cinegrafista responde: “Fui”.
O integrante da campanha prossegue: “Você estava ali embaixo filmando? Você filmou então o pessoal trocando tiro?”
O cinegrafista explica: “Não, trocando tiro efetivamente, não. Tenho tiro da PM pra cima dos caras, a hora que você chega, que você me barra…”
O integrante da campanha corta: “Você só filmou lá no canto?”
O cinegrafista responde: “Só. Na hora que você chega ali, eu já tô voltando”.
O integrante da campanha afirma: “O pessoal que tava na ONG ali, no Belezinha, você não filmou?”
Cinegrafista: “Não”.
Integrante da campanha reforça a pergunta: “Você não filmou?”
Vozes inaudíveis, seguidas da resposta do cinegrafista: “Do segurança de colete…”
O integrante da campanha dá ordem ao cinegrafista da Jovem Pan: “Você tem que apagar. Essa imagem que você filmou aqui também. Mostra o pessoal saindo, tem que apagar essa imagem. Não pode divulgar isso, não”.
A Jovem Pan foi a primeira emissora a divulgar o episódio em Paraisópolis como se tivesse sido um atentado.
E já fazia a repercussão do caso, como a entrevista do general Augusto Heleno.
O tom da cobertura só mudou depois que a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo informou que não havia nenhum indício de atentado.
Entre muitas estranhezas nesse caso, está o fato de que Tarcísio tinha na sua segurança integrantes do serviço reservado da Polícia Militar de São Paulo, um deles com curso na Abin.
Fernando Haddad, que disputa o segundo turno com Tarcísio, não tem nenhum PM que faça sua segurança.
“Não me foi colocado à disposição. Sou tão candidato quanto ele”, afirmou, na sabatina à rádio CBN.
Haddad também questionou onde foram parar as imagens das câmeras que os PMs trazem presas ao uniforme.
O policial treinado pela Abin e outros três que também estavam a serviço da campanha de Tarcísio de Freitas são do serviço reservado da PM e não estavam uniformizados.
Mas os demais que foram chamados para atender à ocorrência estavam uniformizados e, portanto, tinham câmeras.
Também não apareceram imagens que poderiam ter sido gravadas por moradores ou câmeras particulares em Paraisópolis.
“Sumiu tudo”, disse Haddad, diretamente interessado no esclarecimento do caso, já que foi atacado pela rede bolsonarista de fake news, que tentavam ligá-lo ao episódio.
Em 2018, a imprensa comprou sem questionar a narrativa oficial sobre a facada ou suposta facada em Jair Bolsonaro. Espera-se que, desta vez, prevaleça o jornalismo.
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Segue BO sobre o evento em Paraisópolis:
JOAQUIM DE CARVALHO ” BLOG BRASIL 247″ ( BRASIL)