Aos 522 anos de História, 133 de República e 37 de reconstrução democrática, o Brasil não conseguiu desenvolver força institucional para conter um ser como Jair
O sentimento que prevalece nesta campanha eleitoral deveria ser o de coragem, mas é de tristeza. Aos 522 anos de História, 133 de República e 37 de reconstrução democrática, o Brasil não conseguiu desenvolver força institucional suficiente para conter um ser desumano como Jair, alçado ao Planalto por um conluio elitista.
Jair deverá ser derrotado em sua tentativa de reeleição, indicam os prognósticos, mas suas práticas em campanha já deveriam ser bastantes para uma impugnação. Qual o limite da mentira e do uso de recursos públicos para fins eleitorais? Para que servem as leis que tratam de calúnia, difamação e congêneres? Tirar do ar uma notícia forjada basta?
O Tribunal Superior Eleitoral autorizou-se agora a excluir de ofício conteúdos sabidamente falsos que adentrem as mídias. Juristas advertem para a excepcionalidade da medida. Bingo! Se este momento não justifica atos excepcionais, o que justificará?
Alheio a tudo isso parece estar o eleitor, ou parcela do eleitorado. O mundo paralelo em que vive Jair conta com população cativa, ignorante e delirante. Não pode ser menos que delírio acreditar que Jair “é família”, aplaudir Paulo Guedes e sua economia biruta, temer pela implantação do comunismo ou do banheiro unissex, atemorizar-se com o “fechamento de igrejas” ou espantar-se com as “ligações de Lula com o PCC”.
Tudo isso causa tristeza.
Quem ainda hoje acha que a vida deveria ter seguido sem restrições durante a pandemia não tem os pés na terra. Eis o grande desafio de Lula e dos democratas: como alertar contra os riscos à democracia um cidadão que acreditou – e ainda acredita – na cloroquina? Como mudar a mentalidade do sujeito que quer andar armado e que normaliza racismo, misoginia e homofobia?
Este colunista respeita os institutos de pesquisa e compreende como e por que o resultado das urnas pode contradizer as sondagens. Mas algo parece estranho quando vemos o Datafolha afirmar, como na tarde de quinta-feira 20, que 79% da população brasileira apoiam a democracia. Como assim, se mais de 40% do eleitorado votam em Jair? Outro dado estarrecedor: dos pesquisados que se dizem eleitores do mau capitão, 80% declaram-se apoiadores da democracia.
Alguém está mentindo. Ou estamos todos loucos.
PAULO HENRIQUE ARANTES ” BLOG BRASIL 247″ ( BRASIL)