O TERRAPLANISMO NÃO É EXCLUSIVIDADE DO BOLSONARISMO

As famílias midiáticas descobrem que, ameaçando derrubar governos, ganhariam popularidade, imporiam temor, o que seria ótimo para as vendas e os negócios.

Análise prospectiva não é tarefa fácil, especialmente em tempos de ruptura como os atuais. Não se trata simplesmente de pegar o passado e somar o presente para se chegar ao futuro, como preconizava Monteiro Lobato em seu romance “A Onda Verde e o Presidente Negro”.

Como no xadrez, há um enorme conjunto de peças. Cada movimento de uma delas altera o equilíbrio anterior, mudando as projeções sobre o desfecho de um jogo interminável – porque refletindo a vida de nações.

Mesmo assim, é chocante o grau de ignorância sistêmica do país. Nem se fale das fakenews, da campanha contra as vacinas e da própria eleição de Bolsonaro. Refiro-me ao Brasil institucional, aquele que comandou as políticas públicas, a mídia, o Judiciário, o mercado, os partidos políticos.

O jogo de desmoralização da política começou nos anos 90, a partir do impeachment de Fernando Collor, quando a mídia descobriu sua força – e descobriu o grande negócio de explorar os sentimentos baixos dos leitores com factoides. Havia muitos elementos concretos para denunciar Collor, as aventuras de seu irmão na Telesp, as jogadas com fundos de pensão.

As famílias midiáticas descobrem que, ameaçando derrubar governos, ganhariam popularidade, imporiam temor, o que seria ótimo para as vendas e os negócios.

Ao dar guarida para o discurso de ódio, em nenhum momento deram-se conta de sua responsabilidade perante o país e perante seu público. Foram incapazes até de perceber que o único ambiente de influência da mídia é o democrático. E sua grande força é a filtragem dos fatos, o respeito aos fatos, a garantia de que, independentemente de sua posição política, o fato é sagrado.

Em vez disso, esmeraram-se em desmoralizar a notícia e a democracia, justamente os pilares de uma sociedade da informação, aquela que garantia seu protagonismo. A Globo conseguiu essa unanimidade rara, de ser  odiada pela esquerda e pela direita.

E o que se passava na cabeça do Ministro Luís Roberto Barroso quando tirou Lula das eleições, apostando em um novo “iluminismo”? Quais as evidências de que dispunha sobre o desfecho dessa aventura político-jurídica? Apenas o fato de tirar do jogo um político que defendia direitos dos trabalhadores e o papel das estatais, inclusive as estratégicas, seria suficiente para o país entrar em uma era iluminista. Reduziu uma realidade complexa a duas peças e jogou o país em uma nova era medieval.

Deixou de lado:

1. As consequências da eleição de um miliciano anti-política.

2. Os efeitos da precarização do trabalho no tecido social.

3. O mau exemplo do ativismo jurídico, que se espalhou por todo o Judiciário, desmoralizando um dos poderes fundamentais.

4. O endosso à manipulação dos processos por seus amigos da Lava Jato, praticando o direito penal do inimigo, um dos aríetes da queda das democracias.

Agora, o que se vê é um jogo desesperado de jornalistas plantadores de ódio e de magistrados manipuladores de leis para impedir o golpe final contra a democracia – a reeleição do monstro que colocaram no mundo. Tornaram-se democratas, defensores de direitos, alguns até ousam críticas ao ultraliberalismo.

Que sejam bem vindos de volta ao jogo democrático. Mas, à falta de uma autocrítica essencial, que me permitam desabafos sobre sua conduta homicida da democracia.Veja mais sobre:democraciagrande mídiaJudiciário

LUIS NASSIF ” JORNAL GGN” ( BRASIL)

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