POR QUE MINAS GERAIS E O NORDESTE DECIDEM ELEIÇÃO

CHARGE DE AROEIRA

O Datafolha divulgou ontem a 3ª e mais instigante pesquisa de intenções de votos para o 2º turno, que vai decidir o destino de 215.2 milhões de brasileiros nos próximos quatro anos. À pergunta “Em quem você votaria se a eleição fosse hoje”, o ex-presidente Lula seguiu à frente, com 49% das citações, contra 45% de intenções ao presidente Jair Bolsonaro. Os que disseram votar em branco ou nulo eram 4%, e os que “não sabiam”, 1%. Assim, nos votos válidos (excluídos brancos e nulos), Lula liderava com 52% a 48%. Porém, como a margem de erro da pesquisa é de dois pontos percentuais (para cima ou para baixo), o Datafolha declarou um prudente “empate técnico”. Suspense geral.

Os diversos cortes da pesquisa mostram que Lula se sustenta nos votos dos que ganham até 2 salários mínimos (R$ 2.424, a maioria mais pobre da população) com 57%, contra 37% de Bolsonaro, mas perde na faixa de 2 a 5 SM – (R$ 6.060) por 41% a 53%, na faixa de 5 a 10 SM (R$ 12.120) e entre os que ganham mais de 10 salários mínimos por 55% a 41%; e no eleitorado feminino (53% do total) por 51% a 42%. Entre os homens, Lula perde por 49% a 47%.

Lula vence a guerra das religiões

Liderados por pastores que viraram os mais ativos cabos eleitorais, os evangélicos (que são 30%) preferem Bolsonaro, mas a grande força de Lula está no eleitorado católico, que responde por mais de 50% dos votos, onde a vantagem de Lula cresceu após a tentativa de Bolsonaro fazer comício eleitoral na Basílica de Aparecida do Norte (SP) no dia 12 de outubro, data da celebração da padroeira do Brasil. O padre, que lembrou à comitiva de Bolsonaro que a cerimônia era um rito religioso e não cabiam ações eleitoreiras, foi xingado e vaiado pelos apoiadores do mito.

Resultado: na pesquisa Datafolha de 7 de outubro, Lula tinha 55% e Bolsonaro 38%. Na pesquisa divulgada dia 14, captando as primeiras reações à desastrada incursão do presidente que se diz evangélico na celebração (como já ocorrera dias antes na procissão do Círio de Nazaré, em Belém-PA), Lula recebeu 57% de menções e Bolsonaro caiu para 37%. Na pesquisa de ontem, realizada entre os dias 17 e 19 (4ª feira), Bolsonaro se manteve em 37% e Lula subiu para 58%. Ou seja, no 2º turno, Lula ganhou 3 pontos percentuais entre a maioria dos eleitores e Bolsonaro perdeu um ponto.

A disputa travada há duas semanas pelo eleitorado dito evangélico e levou a campanha de Lula a lançar um tardio e extenso manifesto em que rebate as suspeitas difundidas por diversos pastores de que haveria perseguição às igrejas num governo do PT, situação que não ocorreu nem nos oito anos de Lula (2003 a 2010) ou na gestão Dilma (2011 a abril de 2016), tem mais a ver com a força eleitoral dos pastores. Sua recomendação de voto é seguida à risca pela maioria dos fiéis. Bolsonaro tinha 66% das intenções de votos entre os evangélicos no último Datafolha, (ganho de um p.p. em relação aos 65% de 14.10), contra 28% de Lula. O ex-presidente perdeu 3 pontos percentuais frente aos 31% que exibia em 7 de outubro e 14 de outubro. Bolsonaro avançou 4 p.p. frente aos 62% que apontavam voto nele em 7 de outubro.

No balanço de outubro, Bolsonaro ganhou 4 pontos entre os evangélicos. Como são 30% dos eleitores, isso representa 1,2 ponto percentual. E Lula perdeu 0,9 p.p. Entretanto, como os católicos são metade do eleitorado e Lula avançou 3 pontos, isso significa avanço de 1,5 p.p. no total para Lula. E Bolsonaro perdeu 1 ponto ou 0,5 p.p. 0u seja, até aqui, (sem contar as demais religiões), Lula ganhou uma empatia maior que Bolsonaro. Resta saber se a carta aos evangélicos vai estancar a sangria entre os guiados pelos pastores.

Nordeste e Minas são mais católicos

Não é mera coincidência que os nove estados do Nordeste, onde vivem 58 milhões dos brasileiros e 27% dos eleitores, e Minas Gerais (o 2º estado mais populoso do Sudeste e do Brasil, com 21,5 milhões de brasileiros e 10,5% dos eleitores) sejam palco das mais acirradas batalhas pela conquista dos votos neste 2º turno.

Um estudo divulgado hoje pelo Banco Central, com o balanço da atuação do sistema de cooperativas de crédito pelas diversas regiões, estados e municípios do país, indica que dos 5.570 municípios brasileiros, o Nordeste concentrava a maior parte – 1.794 -, superando os 1.668 do Sudeste, dos quais praticamente a metade (853 estão em Minas Gerais). Juntos, MG e os nove estados do Nordeste reúnem 2,647 municípios (47,5% do total) e a maioria dos habitantes e eleitores professam a religião católica.

Por coincidência, os municípios do Nordeste são os que concentram, ao lado dos de Minas Gerais e dos da região Norte (onde há 450 municípios), as populações de menor renda (a média da renda no Nordeste é de R$ 560 milhões por município). É nessas cidades que vivem a maioria dos que ganham até dois salários mínimos (R$ 2.424), dos que são católicos, das mulheres e dos eleitores de Lula.

Já na região Sul, os três estados que reúnem 1.191 municípios, têm renda municipal de R$ 1.004 milhões (ou seja, 79% acima da média nordestina). No Norte, a média da renda municipal é de R$ 861 milhões). No Centro-Oeste, a existência de Brasília, onde estão as sedes de grandes estatais, além do Judiciário e do Legislativo, infla um pouco as estatísticas (embora a capital tenha 3,141 milhões de habitantes, o entorno do DF se apresenta como a 4ª região metropolitana do país, com 4,75 milhões, superando Salvador e Fortaleza).

Por fim, o Sudeste, com seus 1.668 municípios (São Paulo sozinho tem mais de 9 milhões de habitantes e a Grande São Paulo reúne 22 milhões de habitantes, contra 13,2 milhões do Grande Rio e 6 milhões da Grande Belo Horizonte), tem renda média municipal de R$ 2.231 milhões, quase R$ 1.000 milhão acima da média nacional (R$ 1,257 milhão) e quase quatro vezes a da média do Nordeste. É esse quadro de desigualdade que irá definir a eleição.

Macaque in the trees
. (Foto: OLM)

GILBERTO DE MENEZES CÔRTES ” JORNAL DO BRASIL” ( BRASIL)

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