SOB RECESSÃO MUNDIAL, BRASIL PIORA ECONOMIA

CHARGE DE NEF

A análise foi feita ontem à noite pela LCA Consultores. Na atualização do cenário da economia internacional e seus reflexos sobre o Brasil, a consultoria vê o ambiente externo sob ameaça crescente de recessão mundial (previsões negativas para o PIB dos Estados Unidos, Reino Unido e países da União Europeia). Isso levará a forte desaceleração da economia brasileira em 2023: após crescer 2,7% este ano, o PIB patinaria em 0,5% no ano que vem.

E os efeitos deflacionários do pacote de benesses eleitorais começam a se esgotar na véspera do 2º turno: a consultoria já prevê a volta da inflação no IPCA-15, que o IBGE divulga 3ª feira, 25 de outubro. O IPCA-15 funciona como prévia do IPCA do mês, que só será conhecido em 10 de novembro, depois que o presidente estiver eleito. Na projeção da LCA, após deflação de 0,37% em setembro, o IPCA-15 terá pequena alta (+0,05%), puxada pela subida em Alimentação e Bebidas, e ameaça de terreno positivo em Transportes, (gasolina subiu nos postos na pesquisa semanal na ANP). Vestuário, Artigos de Residência, Despesas pessoais, Saúde e Cuidados pessoais continuarão pressionando a inflação. Pode-se esperar baixa (embora com menor intensidade) em Comunicações e em Habitação, pela nova redução do GLP. Em setembro, o IPCA cheio teve queda de 0,29%.

As ameaças que vêm de fora

Ao analisar o cenário internacional, a consultoria mostra um quadro pessimista, para o crescimento do grupo das oito maiores economias do mundo, todas praticando juros elevados para tentar conter as taxas inflacionárias (próximas a 10%) decorrentes da alta dos preços do petróleo e dos combustíveis, como reflexos da invasão à Ucrânia pela Rússia e das sanções dos países ocidentais e do Japão e Coréia do Sul à Rússia, de Vladimir Putin.

O freio dos juros no crescimento, que já afetou a cotação das commodities metálicas e dos alimentos (dois trunfos das exportações brasileiras, que encolheram em quase US$ 30 bilhões as estimativas do saldo da balança comercial frente às projeções otimistas iniciais de que passariam de US$ 85 bilhões este ano), fez o crescimento do PIB de 2022 contrariar as projeções, ficando 50% menor que o índice de 2021 e reduziu as projeções para 2023.

Um quadro particularmente preocupante é o da forte desaceleração da economia chinesa. Às voltas com sucessivos “lockdowns” para frear os surtos de Covid-19, o país de Xi Jinping vê a contração da demanda interna se juntar à contração da demanda mundial, pela prática de juros altos pelos principais bancos centrais. Vale lembrar que a China recebia mais de 30% das exportações brasileiras. Este ano as compras caíram mais de 20%. O 2º destino mais importante é a União Europeia, vindo os Estados Unidos em 3º. Juntos, representaram mais de 60% das vendas brasileiras em 2021. Somando Argentina e Reino Unido (após sair da UE, com o Brexit), mais de dois terços das exportações foram afetadas no cenário de expansão (um motor a menos na economia brasileira). Como os impactos das medidas eleitoreiras acaba em 31 de dezembro, está desenhado o quadro difícil e recessivo de 2023.

Nos Estados Unidos, maior economia do mundo, a última previsão para 2023, conforme o consenso do mercado é que um avanço de 0,2% (o que configura recessão, pois ficaria abaixo do crescimento da população). A previsão da LCA, no entanto, é um pouco mais otimista: +0,4%.

No cenário europeu, as previsões também são sombrias. A LCA lembra que “os principais bancos centrais, como o Banco Central Europeu (BCE) e o Banco da Inglaterra (BoE), também estão apertando as condições monetárias. (…) Em conjunto com a crise energética que o continente vem atravessando na esteira da conflito russo-ucraniano e de condições climáticas adversas, o aperto monetário vem igualmente exercendo pressão de baixa sobre as expectativas econômicas europeias para 2023.

Para culminar, a situação de nosso principal cliente é desanimadora. Graças ao “boom” comprador da China, notadamente de soja e minério de ferro (depois o leque se ampliou para açúcar, carnes de aves, carne bovina, petróleo e celulose) que o 1º governo Lula virou o jogo na balança comercial e acumulou gigantescos saldos comerciais que engordaram as reservas cambiais.

Na China, “onde a inflação vem correndo bem abaixo da média mundial”, a LCA sublinha que “a política monetária vem sendo afrouxada para fazer frente aos efeitos adversos da grave crise imobiliária sobre a atividade econômica. Mas a capacidade dos estímulos monetários de impulsionar a atividade vem sendo prejudicada pelos elevados níveis e endividamento pessoal e corporativo, de modo que as projeções para o crescimento do PIB da China também vêm recuando – tanto para 2022, como, mais recentemente, para 2023.


Os dilemas do Brasil?

Para a LCA, “a descompressão inflacionária recente, ao aliviar os orçamentos familiares, tem conferido resiliência ao consumo doméstico nos últimos meses, sobretudo no setor de serviços – como mostrou a Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) do IBGE referente a agosto, divulgada semana passada. Outros estímulos pré-eleitorais, como o reforço dos programas federais de transferência de renda, a liberação extemporânea de recursos do FGTS e a antecipação de 13º salário para aposentados e pensionistas, também ajudaram a sustentar a demanda doméstica. Mas sinais de esfriamento da economia doméstica já começam a ser observados.

Nas leituras mais recenes a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) e a Pesquisa Industrial Mensal (PIM) revelaram uma desaceleração da atividade nestes setores; e vários indicadores coincidentes conhecidos nas últimas semanas – como o fluxo de veículos nas rodovias pedagiadas, a expedição de papel e papelão para embalagens, a produção e comercialização de veículos, o consumo de eletricidade, as consultas aos sistemas de proteção ao crédito e os indicadores proprietários construídos por instituições financeiras a partir dos gastos de pessoas físicas com cartões de crédito e débito – também têm sinalizado um certo esfriamento da atividade na passagem de agosto para setembro.

“Esses sinais (ainda que incipientes) de moderação da atividade doméstica vêm reafirmar a nossa expectativa de que a economia brasileira perderá fôlego na passagem de 2022 para 2023”, diz a LCA.

Para a consultoria, “o esfriamento econômico global é fator importante de contenção do crescimento de nossa economia no ano que vem, assim como a manutenção de uma política doméstica restritiva na seara monetária. Ademais, os efeitos estimulativos das medidas pré-eleitorais adotadas nos últimos meses começarão a sofrer gradativa diluição a partir da virada do ano, mesmo que algumas dessas medidas sejam renovadas para 2023 (como no caso da majoração do Auxílio Brasil a R$ 600 mensais).

Ainda no âmbito fiscal, vale registrar que as contas dos governos regionais (estados e municípios) vêm apresentando piora relevante diante da perda de arrecadação produzida pela redução das alíquotas de ICMS sobre itens com grande peso nas suas receitas (combustíveis, energia, telecomunicações e transporte urbano).

Isso sugere que, na passagem de 2022 para 2023, os governos regionais poderão adotar amplas medidas de contenção de despesas, sobretudo se não despontarem medidas compensatórias de vulto (que poderiam abarcar desde elevações de alíquotas de outros tributos estaduais e municipais até um aumento de transferências da União, ou mesmo a redefinição dos termos de serviço das dívidas federalizadas dessas esferas de governo).

PIB cresce só 0,5% em 2023

“Como temos argumentado, avaliamos que a partir do começo do ano que vem os impactos restritivos da política monetária e do esfriamento econômico global passarão a preponderar sobre o comportamento da atividade doméstica – de modo que continuamos a projetar crescimento modesto, de 0,5%, para o PIB do Brasil em 2023.

Ademais, é preciso, uma vez mais, alertar de que esse crescimento doméstico (…) mesmo que modesto, será desafiado por dois fatores principais: 1 – pelo risco de uma recessão global mais pronunciada e/ou mais prolongada do que ora consideramos em nosso cenário base; 2 – pelo risco de que o próximo governo não consiga obter um mínimo grau de sucesso em elaborar tempestivamente e viabilizar politicamente um novo arcabouço de regras fiscais (insucesso que poderia provocar deterioração aguda da confiança privada doméstica)”, assinala a LCA Consultoria.

GILBERTO DE MENEZES CÕRTES ” JORNAL DO BRASIL” ( BRASIL)

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