O jornalista decora algumas frases e bordões, não se dá o trabalho de pesquisar, estudar, e dispara seus comentários com a certeza férrea dos ignaros.
O jornalismo ideológico é uma câmara de eco. O jornalista decora algumas frases e bordões, não se dá o trabalho de pesquisar, estudar, e dispara seus comentários com a certeza férrea dos ignaros.
Lula assumiu a presidência em 2003 amarrado pelos dogmas do Plano Real, o tal “tripé virtuoso”, que consistia em política fiscal amarrada, política monetária de juros elevados e câmbio apreciado.
Mudou o estilo em 2008, com a eclosão da crise mundial. Aumentou os investimentos públicos, acelerou a economia. E os resultados foram melhores, desbancando os dogmas ortodoxos.
Depois disso, houve uma início de crise mundial, um arrefecimento da economia brasileira e estratégias incorretas do governo Dilma, culminando com o pacote Joaquim Levy, de 2015, provavelmente o mais desastroso pacote econômico do Brasil moderno, ao lado do pacote de Delfim em 1980 e da apreciação cambial com juros elevadíssimos do governo FHC de 1995.
Aí começa esse jogo escandaloso de atribuir os problemas do governo Dilma às virtudes do segundo governo Lula, como maneira de desqualificar o sucesso do segundo governo, de se libertar de dogmas irracionais.
É o caso do comentarista da CNN, Alexandre Borges. Segundo seu discurso, no primeiro governo Lula ia tudo otimamente bem, graças à continuidade do governo FHC. Aí, no 2o governo entraram os esquerdistas porra-loucas, os economistas da Unicamp, o Guido Mantega, e tudo se perdeu. É de uma ignorância ampla, a começar do fato de que Guido não teve nenhuma participação na formulação das políticas econômicas na crise de 2008.
No 1o governo gov FHC o PIB cresceu 10,51%; no 2o, 9,58%;no 1o governo Lula 14,76%; no 2o, 19,71%.
Em relação à responsabilidade fiscal, leia os estudos do IBRE
Em relação às reservas cambiais, foi outro sucesso.
Em cima desse conjunto de conclusões falsas, Borges menciona uma suposta “esquerda moderna” europeia, que defende o “tripé virtuoso”, em um momento em que todos os círculos econômicos fora do mercado questionam os pontos centrais dessa financeirização.
Deveria mencionar as fontes dessas afirmações.
Em todo caso, apenas mostra que, no plano econômico, muitos comentaristas ideológicos se comportam como os setoristas da Lava Jato: são meros repassadores de releases ou de bordões.
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LUIS NASSIF ” JORNAL GGN” ( BRASIL)