Há um longo caminho de reconstrução nacional pela frente. Mas ele passa, fundamentalmente, pela melhoria da qualidade da imprensa, especialmente a econômica,
Há uma diferença fundamental entre os debates pela televisão e o debate econômico pela mídia. No primeiro caso, deram voz a candidatos sem votos. No segundo caso, não apenas deram voz, mas deram protagonismo principal para porta-vozes de grupos em votos.
É impressionante a discussão sobre superávit fiscal. O gênio da economia, Paulo Guedes, anuncia superávit este ano. O mercado celebra. Para alcançar os números, cortou todos os recursos das Universidades, capou os financiamentos para pesquisa, cortou gastos com creches, com programas de defesas de mulheres, enfim, todos aqueles gastos que fazem a diferença entre a barbárie e a civilização. E o único defeito visto pelo mercado é que talvez não se repita o superávit no próximo ano.
Aí abre-se espaço nobre para os gritos de analistas que possuem os votos apenas de seus investidores, para proclamar que Lula não levou as eleições no primeiro turno porque queria um “cheque em branco”, pretendendo empurrar Henrique Meirelles goela abaixo de Lula.
Lula já declarou que terá uma “lei do emprego”, acima da “lei do teto”. Ou seja, a prioridade será geração de emprego e renda. Já definiu que seu governo repetirá os ensinamentos de 2008, que utilizará as estatais, os bancos públicos e o orçamento para financiar a infraestrutura. Garantiu que, nos financiamentos – inclusive do BNDES – a prioridade serão as pequenas e médias empresas. Definiu como prioridade máxima de seu governo o combate à fome e à miséria.
O que pretendem supostos “pensadores” como Ricardo Lacerda, da BR Partners, um sujeito tão pobre intelectualmente que a única coisa que lhe resta é riqueza monetária? O espaço que consegue na mídia é similar ao sem-voto Felipe “Á Meia Noite Privatizarei Sua Alma” D´Ávila. São de uma pobreza intelectual extrema, pertencem ao submundo intelectual do liberalismo. No entanto, conseguem espaço na mídia para repetir os mesmos mantras de 25 anos atrás.
Ora, o liberalismo é composto apenas de antas intelectuais? É evidente que não. No entanto, abre-se espaço apenas para os que repetem mantras simplórias, já assimiladas pela imprensa econômica. Não há diferença entre esse tipo de jornalismo e o gado de Bolsonaro, que só aceita a anti-ciência dele.
Poderiam ser apenas menções breves e esporádicas para um tipo de pensamento ultrapassado, mas não, a essas tolices é dedicado o espaço nobre das seções econômicas, e mesmo repórteres experientes – de outras áreas – embarcam nessa história do “cheque em branco”.
Lembro-me de um jornalista de Brasília, bastante prestigiado em um canal de notícias, que periodicamente escrevia artigos atribuindo declarações a “fontes do mercado”. Não era do ramo da economia, nem do mercado, o universo de empresários com que convivia era o de Brasília, que está longe de ser um exemplo genérico de “fontes do mercado”. Mas dia sim, dia não, vinha ele com as tais “fontes do mercado”.
Há um longo caminho de reconstrução nacional pela frente. Mas ele passa, fundamentalmente, pela melhoria da qualidade da imprensa, especialmente a econômica, pela compreensão correta dos fatores que promovem desenvolvimento, civilização e igualdade.
LUIS NASSIF ” JORNAL GGN ” ( BRASIL)