A era PSDB já acabou, mas os paulistas não odeiam o passado tucano. É hora de colocar Geraldo Alckmin no centro da sua campanha, assim como Márcio França
Não sou paulista. Assim como Tarcísio de Freitas, sou um forasteiro. Nasci em Brasília, alguns acham que tenho sotaque carioca, mas, ao contrário do candidato bolsonarista, há mais de vinte anos vivo em São Paulo e me identifico com o estado. Até porque em São Paulo não há forasteiros. Todos aqui podem ser ou se sentir paulistas.
Como jornalista, acompanhei os governos de Mário Covas, Geraldo Alckmin, José Serra, João Doria e Rodrigo Garcia. E por mais acirrada que tenha sido a polarização PT-PSDB nas últimas décadas, os tucanos não reinaram durante 28 anos por mero fruto do acaso.
Sem nenhum bairrismo, até porque não tenho ‘lugar de fala’ para isso, posso dizer que os paulistas, aqui nascidos ou não, têm orgulho de São Paulo. Não apenas porque é o estado mais desenvolvido, que abre oportunidades, ou aquele com as melhores estradas, os melhores serviços, os melhores pastéis e as melhores pizzas. São Paulo também é um estado organizado e, por isso mesmo, invejado por outras unidades da federação.
Como morador da grande São Paulo, também acompanhei as prefeituras de Paulo Maluf, Marta Suplicy, José Serra, Gilberto Kassab, Fernando Haddad, João Doria, Bruno Covas e Ricardo Nunes. De todas, a que mais avanços proporcionou para seus moradores foi a de Haddad, que só não se reelegeu prefeito em razão da artilharia pesada contra o PT nos últimos anos. Haddad modernizou e humanizou São Paulo.
Hoje, não há uma disputa entre civilização e barbárie apenas no plano nacional. A mesma batalha se trava no estado de São Paulo. Por isso mesmo, eu pergunto: de que valerá derrotar Jair Bolsonaro no Brasil se permitirmos que o fascismo se refugie e procrie no estado que dita a agenda cultural e ideológica do País?
Neste segundo turno, vejo com grande preocupação o conformismo que prospera entre certos setores progressistas sobre uma inevitável derrota de Haddad para o bolsonarismo. É preciso que se diga com todas as letras que Haddad NÃO PERDEU a eleição para Tarcísio de Freitas, do mesmo modo que Lula ainda não derrotou Jair Bolsonaro.
Dito isso, avalio que é necessário fazer ajustes na campanha de Haddad. O erro, ao contrário do que muitos dizem, não foi ter apostado num segundo turno contra Tarcísio de Freitas. Aparentemente, seria mais difícil derrotar o atual governador Rodrigo Garcia do que será derrotar o candidato bolsonarista. O que me parece equivocado é não dar o devido protagonismo ao ex-governador Geraldo Alckmin, assim como ao também ex-governador Márcio França.
A era PSDB já acabou em São Paulo. É possível que o próprio PSDB também esteja vivendo seus últimos capítulos. Mas os eleitores paulistas não rejeitam seu passado. A derrota do PSDB se deve mais às manobras recentes de João Doria, que provocaram a saída de Geraldo Alckmin, do que propriamente a uma repulsa do eleitor pelos últimos 28 anos.
Neste momento, Alckmin e França precisam estar no centro da campanha de Haddad. E é preciso buscar e valorizar o apoio das mesmas forças do chamado ‘centro democrático’ que estão declarando publicamente o voto em Lula. É também necessário transmitir aos prefeitos, muitos deles tucanos, a mensagem clara de que em São Paulo haverá uma mudança segura para Fernando Haddad – e não um salto no escuro com Tarcísio.
O problema do candidato bolsonarista não é ser nascido no Rio de Janeiro. É o fato de representar um campo político que defende a destruição da educação, promove a violência policial, exalta a ignorância e se submete passivamente aos interesses dos bilionários, como no caso do magnata da cana que tem interesse total na privatização do porto de Santos, incluindo a própria autoridade portuária.
Como centro cultural do País, São Paulo deve ser um farol da civilização brasileira – e não o refugo dos fascistas.
LEONARDO ATTUCH ” BLOG BRASIL 247″ ( BRASIL)