Não se pode mais conviver com os níveis de miséria e fome que ameaçam a continuidade do Brasil como Nação
2013 marcou o fim de uma época das democracias liberais no mundo. A ultra financeirização, o financiamento das campanhas eleitorais, a alienação dos eleitores, a frustração das promessas de melhoria da vida das pessoas, tudo isso produziu um terremoto mundial e colocou em xeque definitivo o modelo da democracia liberal.
Há dois caminhos pela frente: a autocracia, e até a tomada do poder pelas milícias, como no Brasil; ou o aprofundamento democrático. Não existe terceira via, a sobrevida da ultra financeirização.
A única salvação da democracia será seu aprofundamento, colocando a pessoa como centro das políticas públicas. Não apenas isso: terá que ser agente ativo das políticas que lhe digam respeito.
É interessante analisar o sentimento de Nação interno. Dois segmentos incorporaram – de forma distinta – o amor à pátria. Numa ponta, os vulneráveis, os favelados, os sem-terra, sem Estado, o que cantam o “barracão de zinco, sem telhado”; na outra, o interior, especialmente o interior rural. Sempre me surpreendi nas palestras no interior, quase todas abertas com o Hino Nacional.
Em ambos os casos, os públicos eram meros espectadores de políticas econômicas definidas na Faria Lima ou na Paulista.
O PT conseguiu abrigar as demandas políticas da periferia, organizá-las e trazê-las para o jogo político. Já o nacionalismo do interior ficou órfão. São pequenos e médios proprietários, uma classe média modesta, que se comovem com os símbolos nacionais, mas estão apegados a um imobilismo conservador, envolto em uma manta de preconceitos, esquecidos pelos partidos modernos.
Com as redes sociais, descobriram, inicialmente, formas de manifestação além da vizinhança. Depois, os neopentecostais exploraram seu potencial. E o bolsonarismo deitou e rolou.
Hoje em dia, a antiga sociedade civil desorganizada é uma força política movida a ódio e violência. Não sabe construir, não foi ensinada a se articular. O que a move é apenas a força bruta.
A revolução democrática no Brasil se dará através do aprofundamento da democracia. E, por tal, não se entenda apenas a expansão das políticas sociais e dos direitos, mas a participação expressa na construção das novas políticas.
Daí a necessidade de pactos federativos com estados, municípios, à volta das conferências nacionais, do conselhão, a mobilização de todas as formas de organização – do Movimento dos Sem Terra às Federações empresariais.
Se eleito, Lula terá que ser o maestro, não o solista. Nas gestões anteriores houve algumas experiências iniciais bem sucedidas, mas sem continuidade. Uma delas foi a Associação Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI). Houve um desenho no qual foram constituídos diversos grupos industriais setoriais, que deveriam definir os pontos centrais de inovação tecnológica. A partir daí, entrariam em ação os órgãos de financiamento à pesquisa. Haveria um enorme avanço se, em cada área, forem incorporadas as centrais sindicais.
No caso da agricultura familiar, a melhor tecnologia social é a do Movimento dos Sem Terra. As etapas são conhecidas:
- Avançar na desapropriação de terras improdutivas, de fazendas com passivos fiscais e todas aquelas previstas na legislação.
- Arrendar as terras para os sem-terra, permitindo o usufruto, mas não a propriedade, para evitar a especulação e a concentração de terras.
- Apoio técnico e financeiro para trabalhar a produção, dentro do mesmo modelo abraçado pelo cooperativismo.
Para os pequenos proprietários rurais, o cooperativismo é essencial. E o sistema financeiro das cooperativas têm sido um sucesso, substituindo as taxas excessivas dos bancos. Em relação às pequenas e micro empresas, há várias formas de financiamento, associados a apoio gerencial. No caso das grandes cidades, a revitalização de zonas mortas, com políticas de assentamento de sem-teto.
Enfim, há um enorme contingente de políticas, algumas já experimentadas, outras esboçadas. E um sentimento, que começa a se tornar majoritário, de que não se pode mais conviver com os níveis de miséria e fome que ameaçam a continuidade do Brasil como nação.
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LUIS NASSIF ” JORNAL GGN” ( BRASIL)