Finalmente se chegou a um consenso sobre os efeitos deletérios da financeirização sobre a economia americana.
A aprovação da Lei de Redução da Inflação pelo Congresso americano deflagrou uma ampla discussão sobre seus efeitos.
A Lei dá créditos fiscais e descontos sobre energias renováveis aos consumidores, financiados por tributação adicional de lucros de monopólios considerados “socialmente improdutivos”.
A lógica inicial é ajudar o FED no combate à inflação. Juros altos reduzem a demanda, mas tem pouco impacto sobre choques de oferta. A intenção do IRA, portanto, é baratear os produtos na ponta, reduzindo os impactos dos choques,.
Um segundo objetivo é acelerar a transição para energia renovável. E dará alguma folga no orçamento dos mais pobres para administrar os aumentos de preços, especialmente em saúde, medicamentos e energia.
Mas os especialistas, consultados pelo Instituto para o Novo Pensamento Econômico, julgam que terá que se avançar mais, com investimentos públicos em energia limpa e tecnologia sustentável, eliminação gradual do carvão e proibição de prospecção de combustíveis fósseis.
Outro ponto relevante é obter do Congresso a rescisão da Regra 10b-18, que criou facilidades para empresas de capital aberto recomprar as próprias ações, desviando recursos de pesquisa e inovação.
Esse modelo permitiu que, no período 2011-2020, a Intel aplicasse 57% do lucro líquido na recompra das ações; a Cisco aplicasse 90%; a GE 155% e a Boeing 126%. Ao mesmo tempo que enriqueciam gestores e acionistas, perdiam vantagem competitiva global na fabricação de semicondutores, 5G, energia eólica e aeronaves comerciais.
As empresas farmacêuticas seguiram o mesmo caminho, confiando na manutenção dos preços elevados de medicamentos. No período 2011-2020, a Pfizer usou 59% do lucro líquido, a J&J 49% e a Merck 73%.
Agora, a IRA permitirá ao Medicaid (o plano de saúde popular) negociar preços de medicamentos prescritos de alto custo. O que induzirá as empresas farmacêuticas a investirem em pesquisa para obter medicamentos mais eficientes e baratos.
O exemplo da Apple é significativo. Atualmente, ela pode gastar US $2,5 bilhões em recompras por dia de negociação. De outubro de 2012 a junho de 2022, investiu US $529 bilhões em recompras, 96% do lucro líquido, além de US $122 bilhões em dividendos (22%). A única captação que fez no mercado foi de US $97 milhões em seu IPO de 1980.
Com uma pequena parcela desses gastos – segundo William Lazonick, professor emérito de economia da Universidade de Massachusetts e cofundador e presidente da Academic-Industry Research Network – ela poderia ter investido na fabricação de semicondutores avançados, em vez de terceirizar para Taiwan.
Mesmo assim, o IRA previu um imposto de apenas 1% sobre as recompras.
- Finalmente se chegou a um consenso sobre os efeitos deletérios da financeirização sobre a economia americana.
- Ainda não se formou um pacto político capaz de reduzir drasticamente os vícios do modelo.
O projeto mostra duas coisas:
Enquanto isto, a economia da China continua deslanchando.
LUIS NASSIF ” JORNAL GGN” ( BRASIL)