A CRISE MUNDIAL É O PREÇO DA INSANIDADE

A crise energética levou a uma explosão no consumo de carvão. Apenas a província de Shanxi aumentou a produção de carvão de 100 milhões de toneladas para 1,3 bilhão de toneladas.

Para as instituições multilaterais, os próximos anos serão os mais desafiadores em décadas, para a economia mundial. Haverá mais dificuldade para conter a inflação. A vice-diretora gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Gita Gopinath, previu um período com choques de oferta muito mais voláteis.

Em parte, pela interrupção das cadeias de suprimento, decorrentes do Covid-19. O apoio fiscal e monetário dos diversos países estimulou um aumento da demanda. Finalmente, a invasão da Ucrânia pela Rússia gerou novos choques de commodities, pressionando ainda mais os preços.

David Malpass, presidente do Banco Mundial, considerou os instrumentos dos Bancos Centrais inadequados para combater pressões inflacionárias provocadas pela oferta. Assim, o aperto monetário provocará um período de crescimento lento e enfraquecimento do mercado de trabalho, segundo Jay Powell, presidente do FED (o Banco Central americano).

E aí entra em cena a marcha da insensatez. Quando os países da União Europeia se curvaram aos Estados Unidos, atuando para prorrogar a guerra – em vez de pressionar pela paz -, atendiam às demandas imediatas dos eleitores. Mas sem um pingo de visão estratégica sobre o dia seguinte.

A consequência óbvia era uma explosão nos preços da energia, devido à dependência europeia do gás russo. Agora, há o risco concreto de que os preços da energia levarão à recessão, confirmando a miopia coletiva de seus governantes em relação à guerra. 

Na semana passada os preços no atacado de gás e eletricidade atingiram o maior valor de todos os tempos. As expectativas negativas derrubaram o valor do euro e promovem uma fuga para o dólar. A moeda, enfraquecida, estimula mais ainda a inflação. Mais inflação exige mais juros. E mais juros prolongam a recessão.

E onde moram as esperanças dos europeus? Segundo o Financial Times, na China. Maior comprador mundial de gás natural liquefeito, a China está revendendo algumas de suas cargas excedentes para a Europa. Nos seis primeiros meses do ano, as importações europeias cresceram 60%, em termos anuais, permitindo uma taxa de ocupação de armazenamento de gás para 77%. Cálculos mostram que a China pode ter revendido cerca de 4 milhões de toneladas, equivalente a 7% das importações de gás europeu de janeiro a junho.

Mas trata-se de um período transitório, provocado pelo desaquecimento da economia chinesa. Mesmo assim, a maior refinaria de petróleo da China, a Sinopec Group, reconheceu estar canalizando o excesso de GNL para o mercado internacional. 

Por outro lado, a crise energética levou a uma explosão no consumo de carvão. Apenas a província de Shanxi aumentou a produção de carvão de 100 milhões de toneladas para 1,3 bilhão de toneladas.

Os sinais de crise se espalham por todos os países. A Uniper, da Alemanha, e a Wien Energie, da Áustria, foram atrás de apoio emergencial do governo para enfrentar os custos crescentes do gás e da energia.

Uma das maiores concessionárias de serviços públicos da Alemanha, a Uniper pediu aumento de 4 bilhões de euros para garantir a liquidez de curto prazo da empresa. Historicamente, era a maior compradora de gás russo na Europa. As compras caíram quase 80% desde junho

Já a Wien, que tem 2 milhões de clientes domésticos, também fez um pedido de suporte adicional, depois que o preço de referência do gás subiu quase um terço em apenas uma semana.

LUIS NASSIF ” JORNAL GGN” ( BRASIL)

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