O nome Glencore foi pouquíssimo mencionado pela Lava Jato, enquanto o da Petrobras era enterrado na lama.
24 de maio de 2022, Ministério Público Federal assinou acordo de leniência com a Glencore, uma das principais comercializadoras de petróleo e derivados do planeta. Ao lado da Trafigura, foi responsável pelas maiores suspeitas de corrupção da Petrobras.
O ex-diretor Paulo Roberto da Costa já havia apontado ambas as empresas como peças centrais da corrupção na Petrobras. O valor da comercialização de combustíveis é imensamente superior ao das obras civis. E, como a grande maioria dos contratos fecha-se no mercado à vista, há muito pouco controle sobre os preços fechados.
Tanto a Glencore quanto a Trafigura nasceram de operadores do mercado financeiro e criaram uma sólida reputação de empresas corruptas.
Há uma diferença essencial em relação à Petrobras. A Petrobrás foi vítima de corrupção. Já a Glencore e a Trafigura usam a corrupção como estilo de trabalho.
Mesmo assim, a Lava Jato produziu dois prejuízos incalculáveis para a Petrobras. O primeiro, alimentando o mercado americano com informações para ações bilionárias contra a empresa. O segundo, ao desmoralizar a empresa, generalizando uma corrupção que era restrita a determinadas diretorias indicadas por políticos aliados do governo.
Com a justiça americana, a Petrobras fechou um acordo de U$ 3,6 bilhões para encerrar os processos. Outros R$ 10 bilhões foram para acordos com acionistas americanos, e R$ 2,5 bilhões com a Lava Jato
Já o acordo de leniência do MPF com a Glencore foi de um valor pífio: US $ 39,6 milhões, US$ 29,6 milhões a título de reparação de danos e reversão de vantagens indevidas e US$ 9,8 milhões a título de multa prevista na Lei de Improbidade Administrativa.
O acordo da Glencore estendeu-se a 7 outros países. Segundo a promotoria de Manhatan, a empresa pagará US$ 700 milhões para compensar sunornos nos EUA, e maius US$ 485 milhlõies por manipulações de mercado. A empresa teria pago mais de US$ 100 milhões em subornos no Brasil, Venezuela, Nigéria e República Democrática do Congo. Segundo o procurador: “O suborno foi incorporado à cultura corporativa”.
Segundo Merrick Larland, procurador geral dos EUA, “representa a maior ação criminal do Departamento de Justiça até hoje para uma conspiração de manipulação de preços de commodities nos mercados de petróleo”.
O nome Glencore foi pouquíssimo mencionado pela Lava Jato, enquanto o da Petrobras era enterrado na lama. No entanto, segundo a promotoria, “o escopo desse esquema de suborno é impressionante”, segundo o procurador Damian Williams. Segundo ele, a empresa também pagou subornos para evitar auditorias governamentais e pagou juízes para fazer com que processos desaparecessem.
As investigações foram conduzidas em parceria pelo DoJ e pelo Serious Fraud Office (SFO) do Reino Unido, com a participação de procuradores holandeses e suíços. Não há informações sobre a participação de procuradores brasileiros, apesar da ligação estreita da Lava Jato com o DoJ.
Nas últimas semanas, a Glencore anunciou interesse em adquirir a refinaria Alberto Pasqualini da Petrobras.
Logo após a prisão de Paulo Roberto Costa, em 2014, a Polícia Federal apreendeu um documento conhecido como “Relatório Beto”, preparado pelo genro de Costa, Humberto Mesquita, onde aparecia o nome da Glencore e o valor de US$ 9.973, e a indicação de que o dinheiro seria pago em conta no UBS em Luxemburgo.
Só em 2018 a Lava Jato mirou nas comercializadoras de petróleo. Constatou-se que os subornados ofereciam preços mais baixos às tradings assim como tanques de armazenamento em mais de 160 operações.
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LUIS NASSIF ” JORNAL GGN” ( BRASIL)