É admissível que um litro de gasolina esteja mais barato do que um litro de leite?
Diante da escusa dos dois líderes das pesquisas até o momento – o ex-presidente Lula (PT) e o atual presidente Jair Bolsonaro – de se exporem, o que poderia abrir brechas para o avanço de postulantes como Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB), o “pool” da mídia, integrado pela Rede Globo, O Globo, G1, O Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo e Uol, desistiu de promover um debate eleitoral ao vivo entre os principais candidatos à Presidência da República. O fato é lamentável. Deixa o debate político mais pobre, bipolar. E o eleitor brasileiro com menos possibilidade de esclarecer dúvidas sobre o que os postulantes trazem em termos de projetos e esperanças para o futuro do país.
O amplo debate político é fundamental para o eleitor identificar nas ideias dos candidatos rumos com os quais comungue em termos de visão política, econômica e social para o futuro de sua família e do país. O debate de ideias é o oxigênio da política. Pois não apenas leva o eleitor a solidificar suas escolhas. Ele força os postulantes, não raro, a rever pontos de vista equivocados e a se comprometerem com causas importantes.
Pode-se comparar a variedade de ideias e visões apresentadas nos debates aos cardápios de restaurantes. Nos cardápios costumam haver opções para que veganos, vegetarianos, apreciadores de massas, de peixes, aves ou carnes bovinas façam suas escolhas. Ao fugir aos debates, os dois líderes das pesquisas estreitam as opções dos eleitores oferecendo-lhes só dois tipos de pratos feitos. Os populares PF dos restaurantes populares. Até as “quentinhas” que viraram “prato de resistência” para muitas famílias desempregadas, que usam o patrimônio do lar e do automóvel para que marido e mulher, que já dividem as tarefas de compra e feitura dos alimentos, exponham à venda nas ruas de grandes cidades, apresentam mais opções de escolha que os dois “PFs” prontos de Lula e Jair Bolsonaro.
É como uma feira “museu de novidades”, em que os pratos das balanças expostos vão oferecer um “mais do mesmo” que pode ser intolerável para o radicalismo dos adeptos dos dois contendores principais e se tornar “intragável” para paladares democratas mais apreciados e ávidos por conhecer quais as mensagens que os dois líderes das pesquisas têm para tirar o Brasil do atoleiro econômico, social e ambiental em que se encontra, e para que o país se conecte com os passos da transição energética e tecnológica já posta em prática pelos países mais avançados, sejam os Estados Unidos, o Canadá, a Europa, o Japão e outras nações asiáticas, como Coréia do Sul, China e Índia.
Ligar o ‘foda-se’?
Há muita gente que não se conforma com o visão irresponsável e desrespeitosa compartilhada pelo “guru” econômico do governo Bolsonaro, o ministro da Economia, Paulo Guedes, que, em palestra a empresários do ramo de turismo e hospedagem, desdenhou das exigências francesas em relação ao meio ambiente, dizendo que a França se tornou um parceiro irrelevante para o comércio brasileiro, comparado à expressão da China, para onde vai a maior parte das exportações brasileiras (29%, contra 11% para os Estados Unidos e menos de 1% para a França que não figura entre os 10 maiores compradores do Brasil). Como a França de Emmanuel Macron tem sido crítica à gestão ambiental brasileira na Amazônia e outros biomas, sendo isso arguido como óbice ao fechamento do acordo comercial da União Europeia com o Mercosul e ao próprio ingresso do Brasil na OCDE (há uma série de requisitos a serem preenchidos em termos de avanços sociais na saúde, na educação, em índices de IDH, onde houve regressão no governo Bolsonaro, a ponto de a fome voltar a assolar mais de 33 milhões de habitantes do “país celeiro do mundo”), numa vergonha planetária, Guedes tem buscado desqualificar as posições francesas.
Num excesso de reducionismo, o governo Bolsonaro costuma dizer que a oposição francesa ocorre porque o Brasil virou importante competidor da França na exportação mundial de alimentos (a rigor, o Brasil só compete na exportação mundial de carne de frango, onde graças à enorme produção de soja e milho, ingredientes básicos das rações animais, superou, pela ordem, os EUA e a França). Países asiáticos também estão crescendo na avicultura, o que explica também o declínio francês, que era o 2º exportador até a virada do milênio. Mas o que dizer das restrições da Noruega e da Alemanha em fazer novos aportes ao Fundo Amazônia, por não concordarem com a condução do governo brasileiro na gestão ambiental da Amazônia? Guedes, que já imitara o presidente Bolsonaro quando este, para desqualificar uma crítica de Macron ao Brasil, disse (antes da pandemia da Covid-19) que o mandatário francês era casado “com uma mulher feia”, emendou, como “no cordão de puxa-sacos”, que a primeira-dama francesa era “feia e velha”. Após este horror diplomático, o ministro da Economia do Brasil disparou esta semana que se Europa continuar perdendo importância para o Brasil e (a França) “não nos tratar melhor, vamos ligar o foda-se” (sic), perdão, leitores. Depois do tombo, o coice.
Ora, a França não é um país qualquer. Trata-se de uma das maiores e mais tradicionais democracias do mundo, berço do ideal “Liberté, Égalité, Fraternité”, que provavelmente são palavras que causam urticária nos membros mais proeminentes do governo de Jair Bolsonaro. País nenhum do mundo, nem com um adversário político eventual (governos passam, as nações ficam, não custa lembrar) merece tamanha grosseria. Menos ainda o país que é o 3º maior investidor estrangeiro no Brasil. Segundo os últimos dados divulgados pelo Banco Central, em 2020 (o censo de capitais estrangeiros do ano passado ainda não foi publicado), dos US$ 521 bilhões investidos no Brasil, as empresas e investidores da França figuravam com o 3º posto, num total de mais de 6% do total (US$ 32,3 bilhões). A liderança era dos EUA, com 23% (US$ 123,8 bilhões), seguida pelos 11% da Espanha, cujas empresas respondiam por US$ 58,2 bilhões. As Ilhas Cayman, paraíso fiscal do Caribe, onde Paulo Guedes mantém uma “offshore”, era sede de US$ 12,389 bilhões investidos no Brasil, representando 2% do total. Mas o DNA dos donos é predominantemente de brasileiros que esconderam dinheiro do fisco brasileiro. Seriam as ilhas mais respeitadas que a França para a “diplomacia” bolsonarista? A diplomacia europeia e dos países mais democráticos, que já se assustara com a pregação do presidente da República contra as urnas eletrônicas e o sistema eleitoral brasileiro, na ridícula reunião de 18 de julho, no Palácio da Alvorada (o Youtube até retirou o vídeo de circulação esta semana), ficou mais horrorizada ainda. Os principais jornais franceses de centro, como o “Le Figaro” (o “Le Monde” não conta para o governo Bolsonaro, por ser de “esquerda”), ficaram estupefatos com tamanha estupidez e grosseria.
O que mostram as nuvens das pesquisas
A política e as pesquisas eleitorais são como nuvens: a cada hora mostram um cenário. Esta semana, as pesquisas eleitorais vão mostrar como estão se comportando os eleitores na véspera do início da campanha no rádio e TV, dia 16 de agosto. Nesta 2ª feira, o Ipec (sucessor do Ibope) divulga pesquisa nacional e decompõe a situação nos três maiores colégios eleitorais do país: São Paulo, que reúne 31,9871 milhões de eleitores (21,8% dos 156 milhões de brasileiros aptos a votar no 1º turno, em 2 de outubro); Minas Gerais, com 15,368 milhões (10,5% do total) e Rio de Janeiro (12,466 milhões e 8,5% do eleitorado). Os três estamos somam 40,8% dos eleitores. Junto com os 10,177 milhões da Bahia (4º colégio do país, com 7%), e os 8,385 milhões do Rio Grande do Sul (5,7% do eleitorado) representam mais de metade dos votantes (53,5%). Na 5ª feira será a vez da pesquisa do DataFolha, que começará a reduzir a periodicidade (antes era mensal, na última semana de cada mês).
As duas pesquisas vão captar as primeiras reações às reduções de preços dos combustíveis e da energia elétrica – que são trunfos de Bolsonaro, assim como os primeiros pagamentos de duas parcelas acumuladas das benesses eleitorais de R$ 41,2 bilhões que serão liberadas até 31 de dezembro de 2022, quando estão valendo as reduções de impostos de energia, combustíveis e telecomunicações e as “mesadas eleitorais”, como os R$ 200 reais extras que elevaram o Auxílio Brasil para R$ 600, e o auxílio caminhoneiro de R$ 1 mil. No caso do DataFolha, haveria ainda o primeiro reflexo da campanha dos candidatos no rádio e TV. Isso seria melhor avaliado na pesquisa Quaest/Genial Investimento que deve sair até 6ª feira. Na última pesquisa da Quaest, feita de 28 a 31 de julho, Bolsonaro tinha reduzido a dianteira de Lula. Nesta, o impacto da queda da inflação pela caneta BIC será melhor avaliado.
Como numa feirinha de bairro, cada um dos dois candidatos vai tentar expor da forma mais ilusória as suas mercadorias. Jair Bolsonaro imaginou, no final do ano passado, que a entrega da água da transposição do Rio São Francisco para os principais estados do Nordeste (ao assumir o governo, em 1º de janeiro de 2019, 88% das obras e dos gastos estavam feitos pelos governos Lula, Dilma e Temer) iria fazer jorrar votos no Nordeste, o bastião eleitoral do PT em 2018. O aprofundamento da crise social, com o aumento do desemprego e da fome, não mudou o panorama local, antes de Bolsonaro jorrar dinheiro na região e no Sudeste, através do Auxílio Brasil e dos demais programas de transferência de renda direto no bolso dos eleitores. É a reedição da velha tática dos “coronéis” dos rincões do Brasil, que nos tempos do voto com cédula entregavam aos eleitores (cujo transporte às urnas garantiam) um pé de sapato junto com a cédula preenchida pelos candidatos que desejava eleger (para reafirmar seu poderio político). Se o candidato fosse eleito, o outro pé seria entregue. Do contrário, o eleitor ficava calçado pela metade. As urnas eletrônicas acabaram com essa velha prática, que Bolsonaro gostaria de ressuscitar. Hoje, no Brasil urbano (mais de 85% vivem nas cidades com mais de 20 habitantes), os novos “coronéis” são os pastores das diversas seitas.
Os campos de batalha
Na última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), divulgada pelo IBGE esta semana, referente ao 2º trimestre de 2022, quando o país teve taxa de desocupação de 9,3%, algumas das maiores taxas de desocupação estavam concentradas no Nordeste: 15,5% na Bahia, o 4º colégio eleitoral do país; 13,6% em Pernambuco, 7º maior colégio eleitoral do país, com 4,3% dos votos, e 12,7% em Sergipe (22º colégio). As menores taxas eram em Santa Catarina (10º colégio), com 3,9%, Mato Grosso (18º colégio), com 4,4% e Mato Grosso do Sul (21º), com 5,2% de desocupação. Juntos esses três estados têm 6,3% dos votos (menos que os 7% da Bahia).
Na composição do eleitorado brasileiro, as mulheres são maioria, com 52,65%, mas elas tinham taxa de desocupação de 11,6% (54,66% maior que os 7,5% dos homens). Os brasileiros que se declaram de cor preta ou pardos eram 56% da população, que chegará a 215 milhões em 2 de outubro. Mas, por estarem na base da pirâmide social do país e por terem tido menos acesso à educação, são eles que também sofrem muito mais que os bancos para encontrar emprego/ocupação. Enquanto apenas 7,3% dos brancos estavam sem ocupação, segundo o IBGE, no fim do 2º trimestre, a desocupação era 54,8% maior para os pretos (11,3%) e 48% maior para pardos (10,8%). Retrato da desigualdade de oportunidades, o grau de escolaridade e o nível de instrução têm razão direta com a empregabilidade. A desocupação nas pessoas com ensino médio incompleto (15,3%) foi 54,54% superior à de pessoas com nível superior incompleto (9,9%) e mais que o dobro das com nível superior (4,7%).
Para fechar o círculo da desigualdade, o IBGE usa ainda o conceito de taxa composta de subutilização da força de trabalho (percentual de pessoas desocupadas, subocupadas por insuficiência de horas trabalhadas e na força de trabalho potencial em relação à força de trabalho ampliada). O índice nacional foi de 21,2% (mais do que o dobro da desocupação pura e simples). E o estado do Piauí liderou a precariedade do mercado de trabalho com quase o dobro da média nacional (42,3%), seguido por Sergipe (37,4%) e Bahia (34,9%). Na taxa de informalidade, que foi de 40% da população ocupada na média nacional, as maiores taxas ficaram com Pará (61,8%, o 9º colégio eleitoral), Maranhão (59,4%, 12º colégio) e Amazonas (57,7%, 17º colégio). As menores, com Santa Catarina (27,2%), São Paulo (31,1%, maior colégio eleitoral, com 21,8% dos eleitores) e Distrito Federal (31,2%).
Os pratos da balança
Como dois pratos da balança ou como os extremos da gangorra, quando um dos lados ganha mais peso, mexe com o outro. E no radicalismo binário da eleição até aqui, cada qual vai tentar explorar uma faceta. A “barraca” da feirinha de Lula no horário eleitoral deve bater fundo no avanço da desigualdade, da miséria e da fome no Brasil durante o governo Bolsonaro. A má gestão da pandemia, que provocou a morte de 681,5 mil brasileiros e fez explodir o desemprego e a carestia dos alimentos devem ser explorados por Lula. Ele, certamente, vai lembrar que em seus dois mandatos, encerrados em 2010, retirou o Brasil do mapa mundial da fome da FAO, órgão de agricultura e combate à fome no mundo, da ONU, enquanto Bolsonaro devolveu 33 milhões de brasileiros à falta de recursos para comprar alimentos, enquanto 63 milhões carecem de segurança de que terão recursos para as três refeições básicas (café da manhã, almoço e jantar) por falta de ganho regular em seu trabalho.
Há vários indicadores para Lula (e os demais adversários de Jair Bolsonaro) mostrarem como o Brasil regrediu nos últimos quatro anos. A reedição, nesta 5ª feira, da “Carta aos Brasileiros e Brasileiras”, com quase 1 milhão de assinaturas, e o manifesto, em paralelo, das maiores centrais sindicais e federações empresariais do país, que fizeram veemente defesa do Estado Democrático de Direito, pode ser a demonstração mais eloquente. Para relembrar a manifestação em 11 de agosto de 1977, quando o jurista Goffredo da Silva Telles Jr defendeu, nas arcadas da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, a liberdade e a volta da democracia e do Estado de Direito Democrático, ato que se repetiu em todo o país, mostra a regressão institucional a que o país estava ameaçado com as pregações do presidente Jair Bolsonaro contra as urnas eletrônicas, o processo eleitoral brasileiro e a independência do Poder Judiciário, guardião da Constituição Federal de 1988.
Em 1977, no governo do general Geisel, o país estava, desde 1º de abril, sob o que hoje se poderia ser classificado como um meio AI-5, de 13 de dezembro de 1968, a face mais dura da ditadura militar, no governo do marechal Costa e Silva, e que continuou com seu sucessor, o general Emílio Garrastazu Médici, após a inabilitação de Costa e Silva por ter sofrido uma isquemia, e a posse da junta militar dos “três patetas”, segundo classificação do jornalista Elio Gaspari. Em 1º de abril, o governo fechou o Congresso, cassou mandatos de políticos e baixou o “Pacote de Abril” para mudar as regras eleitorais que formariam o Colégio Eleitoral para a sucessão, por voto indireto, do presidente da República no regime de bipartidarismo (Arena e MDB), criando a figura do senador biônico (não eleito pelo voto popular, mas indicado pelo governo. A reação dos estudantes e professores de direito começou quando vazou a informação de que os festejos de comemoração dos 150 anos de promulgação da lei que criou, em 11 de agosto de 1827, seriam conduzidos pelo professor Alfredo Buzaid, ex-ministro da Justiça do governo Médici (novembro de 1969-março de 1974). Ante tal desvio, três estudantes articularam a reação e Goffredo Telles proclamou o princípio democrático de que “Todo poder emana do povo e por ele será exercido”, dentro do Estado de Democrático de Direito.
O presidente Bolsonaro, como já deixou claro na sua manifestação em 11 de agosto de 2022, continua a desprezar o Estado Democrático de Direito e a defesa da Constituição. Em “live” para anunciar nova redução do litro do óleo diesel nas refinarias da Petrobras (agora sob total domínio de dirigentes indicados pelo governo, que tem como ministro das Minas e Energia, desde maio deste ano, o economista Adolfo Sachsida, que era responsável por acompanhar a inflação no Ministério da Economia de Guedes), Bolsonaro disse (e o bordão foi repetido por seu filho 01, o senador Flávio Bolsonaro, e os ministros Ciro Nogueira, da Casa Civil , e Fábio Faria, Comunicações, trio que conduz a campanha) que “aquela era a carta [na manga?] mais importante”.
Ele certamente vai explorar a deflação de 0,68% em julho, provocada pelas canetadas BIC que deu nos impostos (o ICMS que leva recursos a estados e municípios custearem a educação, a saúde e a segurança pública) e pelas reduções diretas da gasolina e demais combustíveis e a queda da energia elétrica. Acontece que os adversários vão contrapor que a baixa da gasolina vai beneficiar a camada mais rica da sociedade, que ganha acima de cinco salários mínimos mensais (R$ 6.060). Para as camadas de menor renda, o que importa é que os preços dos alimentos seguem em disparada. Nos 12 meses terminados em julho, enquanto a inflação do IPCA caía dos 11,89% de junho para 10,07%, a alimentação acumulada alta de 14,72% (13,93% nos 12 meses terminados em junho). Os artigos de vestuário e calçados subiam 16,67% (16,61% em junho). Vale lembrar que, em 2020, os alimentos subiram 14,09%, para uma inflação de 4,52%. No ano passado, graças à supersafra, os alimentos subiram 7,94%, menos que a inflação, que acumulou 10,06%.
Bolsonaro terá uma safra de indicadores temporariamente favoráveis na economia. A inflação está baixando artificialmente (nos índices oficiais). Mas é admissível que um litro de gasolina esteja mais barato do que um litro de leite? O Banco Itaú já está prevendo que o IPCA, o medidor oficial da inflação caia a 7% em dezembro, e feche em 2023 em 5,3% (uma pequena baixa frente à previsão anterior, de 5,6%). O banco, que até maio esperava modesto crescimento de 1% para o Produto Interno Bruto e foi elevando a projeção nos meses seguintes, reviu esta semana para 2,2% a previsão de avanço do PIB deste ano. Mas manteve em apenas 0,2% a expansão do ano que vem. O IBGE vai divulgar dia 1º de setembro o resultado do PIB do 2º trimestre, quando as previsões, como as do Bradesco, apontam crescimento de 1%.
Lula pode dizer que números não enchem barriga e que quem tem fome tem pressa e, com isso, manter o estado de espírito de reação à reeleição de Bolsonaro. Por ora, o país caminha para o 2º turno, em 30 de outubro. Até no auge do milagre brasileiro, quando o PIB crescia acima de 10% ao ano, o general Emílio Médici, depois de conhecer a dura realidade da fome no Nordeste, bradou na Escola Superior de Guerra, no Rio de Janeiro, perante todo o estamento militar: “a Economia vai bem, mas o povo vai mal”.
O indicador mais realista da qualidade de vida de um povo, o IDH (o Índice de Desenvolvimento Humano da ONU) nos coloca em 79º lugar este ano, entre 180 países. Em 2010, o Brasil estava em 73º lugar. Se formos medir o Brasil em termos de PIB, também descemos a ladeira. Se convertermos os indicadores da economia em dólares, moeda tão apreciada por Paulo Guedes e que mantém o poder de compra mesmo com a alta inflação nos Estados Unidos, a situação é vexaminosa. O PIB per capita (a divisão aritmética do que foi gerado em dólar em produção e renda em 2021 foi de apenas US$ 8.729. Para este ano, com as projeções de crescimento, o PIB per capita está estimado pelo Itaú em US$ 8.729. Mas ele era de US$ 11.262 em 2010, último ano dos governos Lula (superior em quase 30% ao ano valor atual), US$ 9.189 em 2018, no final do governo Temer, quando Bolsonaro foi eleito. Ou seja, o PIB per capita (seguindo o cinto apertado da maioria dos brasileiros) encolheu 5% no governo de Jair Bolsonaro, sob a batuta de Paulo Guedes.
A grande fraude americana
Durante boa parte do 2º semestre de 2020, quando percebeu que a mobilização do eleitorado negro e dos latinos pelo partido Democrata poderia custar a sua reeleição, que, antes do desastre de sua gestão na pandemia da Covid-19, que deixou os Estados Unidos com 1,033 milhão de mortos, considerava como certa, o presidente Donald Trump começou a distribuir tuítes diários para desqualificar o voto pelo correio, prática habitual no país, onde o voto não é obrigatório, como medida para evitar aglomerações.
Derrotado, como previa, lançando seguidas mensagens de que o voto pelo correio teria fraudes, Trump perdeu por mais de 3 milhões de votos na contagem total e em colégios eleitorais onde esperava vencer. Derrotado, não parou de bradar “fraudes”. Induziu seus seguidores a cerrarem fileiras em torno da ideia e patrocinou a infame invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021, quando o vice-presidente Mike Pence (Republicano) comandava a sessão de homologação da eleição de Joe Biden e da vice Kamala Harris. As investigações sobre o maior atentado à democracia americana trazem robustas provas da responsabilidade de Trump pelas mortes na ação.
Mas Trump ainda mantinha legião de fanáticos seguidores entre os republicanos. Esta semana, com a divulgação de seus crimes de ocultação de documentos da presidência dos Estados Unidos, que deveriam ir para o Arquivo Nacional, mas foram escamoteados em sua mansão, na Flórida, caiu o véu do farsante. Os desdobramentos do caso terão repercussão mundial e nas eleições legislativas em novembro. Quem sabe alguns entusiastas de Trump no Brasil também mudem de ideia.
GILBERTO DE MENEZES CÔRTES ” JORNAL DO BRASIL” ( BRASIL)