As verbas milionárias do orçamento secreto seduziram e neutralizaram as oposições, que se tornaram cúmplices de um gigantesco casuísmo eleitoral
Como diria doutor Ulysses Guimarães, os políticos brasileiros, inclusive os de oposição, estão fazendo piquenique na borda do vulcão. Atropelam a Constituição, as leis eleitorais e de responsabilidade fiscal como se não houvesse amanhã. O maior perigo é que, ao abrirem a porteira da legalidade por casuísmo eleitoral, pode tornar difícil fechá-la de novo em investidas contra as eleições e a democracia.
Por mais que pareça à deriva, Jair Bolsonaro voltou a nadar de braçada. Lula, Ciro Gomes e Simone Tebet nem podem reclamar porque, por medo ou letargia, foram incapazes de propor e costurar apoios para alternativas legais para atender às agruras e miséria de boa parte da população.
Só o tal orçamento secreto, que beneficia deputados e senadores de todos os naipes, explica o porque de uma oposição calejada levar tantos dribles e gols. Parecem esquecer a partida principal para cada um se dar bem em sua própria várzea.
É nesse terreno baldio que mora o perigo. Nessa quinta-feira (14), o ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Oliveira, foi ao Senado e praticamente sem contestação usou o relatório de um coronel, que alega fragilidades nas urnas eletrônicas, para uma proposta que pode melar as eleições: a volta do voto impresso, já rejeitada pelo Congresso Nacional.
Ele desfilou no Senado como autor de uma causa impositiva e vitoriosa de apuração paralela, um carimbo de desconfiança na justiça eleitoral, um sucesso internacional do Brasil. Onde estava a oposição? Onde estavam os democratas que se dizem independentes? O Congresso parece de cócoras diante de bravata de generais bolsonaristas que tentam manter o chefe Jair Bolsonaro no poder, mesmo se ele não tiver os votos necessários para isso.
No final da tarde da quinta-feira, a sessão do Congresso de promulgação da emenda constitucional (a tal dos R$ 41 bilhões) que atropelou a própria Constituição, virou palanque de Bolsonaro. Ele deitou e rolou. Seguiu o script da campanha com afagos em discurso eleitoral a mulheres e nordestinos, eleitorado em que toma sova de Lula. O chororô das oposições, em boa parte com as burras cheias com a grana do orçamento secreto, soou falso. Eles deram gás a um monstro. Tomara que consigam ajudar a contê-lo.
A conferir.
ANDREI MEIRELES ” BLOG OSDIVERGENTES” ( BRASIL)