Bolsonaro põe as Forças Armadas dentro da chapa, mais uma vez, mas o novo vice não é um Hamilton Mourão
Podem ser classificadas como obviedades subululantes as informações, consagradas pela repetição, que atribuem ao general Braga Netto a responsabilidade pela trincheira que abrigará Bolsonaro quando o sujeito aplicar o golpe.
A linha geral das análises é a de que o general foi escolhido para vice para que Bolsonaro se sinta protegido e confortável. É o previsível, mas talvez nem tanto.
O tenente confia no general, e a escolha do seu nome prevaleceu, depois das especulações em torno da opção Tereza Cristina, porque a primeira virtude a ser considerada é a fidelidade incondicional, mesmo que isso não exista.
Braga Netto tem tropas fardadas e apijamadas dentro e fora do governo. Tereza Cristina tem as boiadas inconfiáveis do centrão.
Bolsonaro não confia na direita civil paga por ele para levar seu mandato até o fim. Uma vice indicada pelo centrão seria muito mais uma ameaça do que a garantia de suporte político civil e parlamentar.
E agora a segunda parte das subobviedades que germinam em torno da manutenção da escolha de Braga Netto. Bolsonaro põe as Forças Armadas dentro da chapa, mais uma vez, mas o novo vice não é um Hamilton Mourão.
O nome e as circunstâncias são outras. Bolsonaro nem sabia direito o nome de Mourão, a quem chamava de Augusto. Braga é o general que passou à frente de todos os outros nas gincanas do Planalto e tem nos ombros 10 estrelas do bolsonarismo.
Mas, ao contrário de 2018, desta vez a eleição tem Lula. Bolsonaro está a caminho do desastre e puxa junto Braga Netto.
Se o Bolsonaro optar pelo caos, com o envolvimento dos militares no que seria o restabelecimento da ordem ou da desordem, Braga Netto será o primeiro empurrado para a confusão.
Os generais da sua turma e a instituição deixarão digitais e pegadas por todo lado. Se o golpe fracassar, depois da interferência direta de gente fardada, terá sido o fracasso de Braga Netto, do seu entorno, da sua geração, do militarismo bolsonarista e, o que é pior, das Forças Armadas.
Agora, mais uma variante de um golpe em que Bolsonaro se farda de comandante supremo e grita avante, mas nesse caso os generais se fazem de surdos.
Se Braga Netto, dentro da chapa, como embarcado num projeto de vale tudo, negar-se a aplicar o golpe, sendo o grande general na trincheira do bolsonarismo, estará criado um impasse que pode salvá-lo e salvar a instituição.
Mas pode acontecer também, na última alternativa das obviedades subululantes, de Braga Netto e os militares sentirem que eles, e não Bolsonaro, devem assumir o controle da situação.
Nesse caso, não há pressentimento capaz de nos sugerir o que pode acontecer, com Bolsonaro num canto e os militares finalmente dizendo que o projeto é deles, e não do tenente.
Hoje, nesse exato momento, nessa situação em que Bolsonaro é um moribundo caminhando em direção ao penhasco, e por isso tudo num contexto de pré-golpe, Braga Netto é mais importante do que Bolsonaro.
MOISÉS MENDES ” BLOG BRASIL 247″ ( BRASIL)