‘No caso pessoal de Jair Bolsonaro, amigo é para essas coisas: encobrir crimes e criminosos cúmplices de seus próprios abusos’, diz o colunista Eric Nepomuceno
Quando se soube do escândalo dos exploradores da fé e da miséria
alheia autonomeados pastores evangélicos no ministério da Educação, Jair
Messias foi enfático ao defender o seu titular, Milton Ribeiro. Disse que
poria a cara no fogo por ele.
Quando Milton Ribeiro foi preso, Jair Messias disse que ele teria de
prestar contas à Polícia Federal.
Quando Milton Ribeiro foi solto no dia seguinte, Jair Messias disse
que continuava confiando nele. E fez uma ligeira correção: falou que não
poria a cara no fogo, mas a mão.
Nem por isso deixou de dar amplas e sólidas provas de amizade
profunda ao homem que permitiu que grossos rios de recursos do
ministério da Educação fossem navegados por corruptos.
Se Ribeiro abrisse a boca na cadeia certamente uma avalancha de
escândalos desabaria sobre a cabeça presidencial. Por isso era preciso duas
coisas. A primeira: que ele ficasse preso pouquíssimo tempo, nem que para
isso fosse necessário manipular a parte manipulável da Polícia Federal.
Segunda: que ele se livrasse de qualquer indício comprometedor.
E aí entrou a amizade sincera: Jair Messias avisou o amigo, num
telefonema, que haveria uma operação de busca e apreensão em sua casa.
Seria um escândalo a mais no oceano de escândalos que banha cada
dia do governo do pior e mais abjeto presidente da história brasileira.
Seria, mas não é: trata-se de uma prova inconteste da interferência de
Jair Messias na Polícia Federal e de nova tentativa de obstruir a Justiça.
Não custa lembrar que nesses três anos e meio de governo ele puniu
de diferentes formas – afastando de chefias ou não concedendo promoções
– nada menos que quinze delegados da Polícia Federal que investigavam
gente próxima, do quarteto de filhos presidenciais a sabujos palacianos.
Por isso mesmo o de agora tem tudo para se consolidar como o mais
escandaloso escândalo envolvendo Jair Messias.
De maneira um tanto surpreendente o Ministério Público Federal
cumpriu duas de suas funções: defender a ordem jurídica e fiscalizar o
cumprimento da lei.
Ao antecipar a Milton Ribeiro que ele sofreria uma operação de
busca e apreensão em sua casa, Jair Messias filtrou informação secreta.
Resultado: o caso saiu das mãos do mais bolsonarista dos tribunais
regionais federais, o TRF-1 de Brasília, e caiu nas mãos do Supremo
Tribunal Federal. E pior: nas mãos da severa ministra Carmen Lúcia, e não
nas dos supremos sabujos Kássio Nunes Marques e André Mendonça.
Não é preciso especular sobre o que vai acontecer daqui para a
frente: essa história absurda mancha de vez a imagem já imunda de Jair
Messias.
No seu caso pessoal, amigo é para essas coisas: encobrir crimes e
criminosos cúmplices de seus próprios abusos.
ERIC NEPOMUCENO BLOG BRASIL 247″ ( BRASIL)