Bolsonaro fica apoplético com a perspectiva dele e seu clã serem punidos pela Justiça após o fim do governo
Qualquer “psicólogo” de botequim sabe de cor o diagnóstico quando alguém que, com umas a mais ou a menos, transfere seus próprios defeitos para outrem. Na manhã da segunda-feira (13), em entrevista à CBN Recife, Jair Bolsonaro deu a seguinte declaração, referindo-se ao rival Lula: “O temor que eu tenho não é por mim, é continuar a política que ele fazia no passado. Vai ser pior agora, no meu entendimento. Ele está crente que não cometeu crime nenhum. No meu entender, se voltar, vai ser pra nunca mais sair”.
O maior medo de Bolsonaro é de que ele e todo seu clã tenham que passar uma boa temporada na cadeia. É isso que realmente o atormenta. No sábado (11), ele conversou com apoiadores ao sair de uma churrascaria em Orlando, nos Estados Unidos. Manifestou o medo de ter o mesmo destino da golpista ex-presidente da Bolívia Jeanine Añez, depois de ser derrotada nas urnas:
— A turma dela perdeu, voltou a turma do Evo Morales. O que aconteceu um ano atrás? Ela foi presa preventivamente. E agora foram confirmados 10 anos de cadeia para ela. Qual a acusação? Atos antidemocráticos. Alguém faz alguma correlação com Alexandre de Moraes e os inquéritos antidemocráticos? Ou seja, é uma ameaça pra mim quando deixar o governo?
Quando Bolzonaro fala que Lula está crente que não cometeu crime nenhum, tá dizendo também que ele e seu enrolado clã também nada devem à Justiça. Quando afirma que se Lula voltar vai ser para nunca mais sair, Bolsonaro não esconde o delírio de se perpetuar no Palácio do Planalto e só sair de lá se “for vontade de Deus”.
Nessa mesma segunda-feira, Bolsonaro voltou a dizer que teria feito uma barganha com o ministro Alexandre de Moraes, intermediado pelo ex-presidente Michel Temer, para recuar na pregação golpista do 7 de setembro em troca do fim do inquérito das fakes news e uma aliviada para seu aliado Zé Trovão:
“Eu assinei a carta. Eu me descapitalizei politicamente. Levei pancada para caramba em troca de um cumprimento do outro lado da linha, coisa simples, até sobre esse inquérito que não tinha cabimento. Lamentavelmente, do outro lado “, numa confissão de uma suposta, vergonhosa e ilegal trapaça entre o presidente da República e um ministro do Supremo Tribunal Federal. Evidentes crimes de responsabilidade.
Na semana passada, Temer afirmou que que “não houve condicionantes” na conversa que ele intermediou. Nessa segunda-feira, Bolsonaro disse que, entre os pontos acordados, havia a promessa de encerrar o inquérito das fake news (terror do seu filho Carlos Bolsonaro, o 02), e um alívio para seu aliado Zé Trovão, foragido no México.
– Envolvia sim (inquérito das fake news). Um ou dois meses e ia botar um ponto final. Até tratamos sobre o [Zé] Trovão. Tínhamos o risco do Trovão voltar para cá, ser preso e o Brasil parar. Como vamos tratar o caso do Trovão. Foi discutido ali. ‘Eu vou tratar dessa maneira.’ E nada foi cumprido, nada, zero.
O líder dos caminhoneiros teve uma ordem de prisão decretada por atos antidemocráticos nas manifestações de 7 de setembro. Se entregou depois à Polícia Federal, e está usando tornozeleira eletrônica. Moraes também conduz o inquérito das fake news, que tem Bolsonaro entre os investigados.
Trovão é apenas um pretexto. O medo real de Bolsonaro, que o faz conspirar contra a democracia no país, é a possibilidade de cadeia para ele e seus filhos. Ele anda apoplético nos bastidores palacianos, assustando até aliados fiéis. Mas, pelos seguidos crimes cometidos, trata-se uma probabilidade plausível.
A conferir.
ANDREI MEIRELES ” BLOG OS DIVERGENTES” ( BRASIL)