Por tudo isso, merece o título de grande dama da canção popular brasileira.
Um show inigualável, reunindo duas das mais belas vozes do país: Dori Caymmi, nos seus 79 anos, e Mônica Salmaso. Com o estilo contundente dos irmãos Caymmi, Dori ataca o crítico que, analisando o CD de ambos, afirmou que Mônica deveria sair da “zona do conforto”.
A crítica, às vezes, é assim. O crítico descobre um novo termo e fica ansioso por utilizá-lo onde for. E ficamos nós, ali, extasiados com a interpretação de Mônica em 12 canções complexas, padrão Dori, interpretadas lindamente pela cantora.
Ouso dizer que Mônica integra não apenas a seleção das grandes cantoras contemporâneas, mas das grandes intérpretes da música brasileira de todos os tempos, Elizeth, Nanna, Alaíde, Dalva, Ângela.
Ela surgiu na cena paulistana algumas décadas atrás, dividindo palcos e botecos musicais com Renato Braz, outro intérprete maior. Fez parte de um grupo de músicos de primeiríssima – a começar do marido Teco Cardoso – que encantavam os paulistanos no Supremo, um café da família Suplicy onde a música se fazia em um porão.
Nunca foi cantora dos grandes espetáculos. Era a intérprete dos teatros de bolso, sempre em parceria com a nata da música instrumental.
Nem se fale de seu timbre de voz. Décadas atrás, uma moça que trabalhava em casa, ouviu uma faixa e sentenciou:
- Essa moça tem voz de anjo.
O timbre é excepcional, daqueles que se reconhece ao primeiro trinado. Mais que isso, a sutileza com que trabalha as melodias, sem malabarismo, com um discernimento a toda prova, transitando entre a canção brasileira, o caipira clássico.
Na pandemia, ela se descobriu. Montou uma série de lives com grandes instrumentistas, aprendeu a manejar as ferramentas de edição e aqueceu os corações de milhares de fãs que acompanhavam os programas semanais.
Como esta “Vou na Vida”, com Swami Jr, música dele e de Virginia Rosa.
Ou a mais bela canção brasileira, “Todo Sentimento”, de Chico e Cristóvão Bastos, acompanhada pelo imenso Cristóvão.
Uma cantora é sua voz, sua interpretação e sua personalidade. No palco, Mônica é a pessoa comum, sutilmente amorosa, que trata seu marido como “meu amorzinho”, que se expressa através de pequenos gestos e trejeitos. Essa doçura a tornou a intérprete predileta dos maiores compositores brasileiros, como Edu Lobo, que a convidou para o grande evento dos seus 70 anos, interpretando o “Valsa Brasileira”.
E nem se diga do feito de convocar o arredio Chico Buarque para um dos programas de sua série Ô de Casas, com a clássica “João e Maria”.
>Ou os temas folclóricos, só com frigideira e o pandeiro fantástico de Guello.
Ou a Noturno, de Guinga, com ele próprio.
Ao samba de Wilson Baptista, em Diagnóstico.
Por tudo isso, merece o título de grande dama da canção popular brasileira.Veja mais sobre:mônica salmaso
LUIS NASSIF ” JORNAL GGN” ( BRASIL)