E aí Caetano se transforma em novo João Gilberto, trazendo para o circuito da MPB de Vicente Celestino a Peninha.
A moderna música popular brasileira teve algumas bússolas relevantes. Desde a passagem das músicas de salão para o maxixe, dele para o samba, passando pelas marchinhas e choros, criou-se um rio caudaloso com alguns capítulos evolutivos.
Nas primeiras décadas, o sincopado de Ernesto Nazareth incrementado por Pixinguinha. Depois, a era das marchinhas e do samba-choro, riquíssima. Essa trajetória é enriquecida por dois compositores fundamentais: Dorival Caymmi e Luiz Gonzaga. Caymmi traz uma nova estrutura de composição, fora do A-B-B-A que imperava até então.
Gonzaga, em parceria com Humberto Teixeira, traz os ritmos nordestinos. Escolheram o baião, porque julgavam que os sulistas não conseguiriam reproduzir o côco.
Os anos 40 foram riquíssimos, década fundamental para as bases da futura música popular brasileira. A guerra e os cassinos trouxeram os ritmos americanos para o Brasil, de forma muito mais intensa. A música cantada avança em direção a um gênero riquíssimo, o samba-choro, primo irmão do samba sincopado, interpretados por conjuntos vocais.
Como esse saborosíssimo, “Helena… Helena”, do grande Antonio Almeida e Constantino Silva, com os Anjos do Inferno.
É o caso de “Escurinha”, de e com Geraldo Pereira.
Esse gênero seria imortalizado na década seguinte por um show inesquecível de Cyro Monteiro e Dilermando Pinheiro, o “Teleco Teco” – que é como os cariocas se referem ao samba sincopado. Aqui, “Foi uma pedra que rolou”, do grande Pedro Caetano.
Na passagem dos anos 40 para a modernidade dos anos 50, surge o primeiro grande formador de opinião, João Gilberto. Ele traz o melhor dos anos 40, o repertório dos conjuntos vocais e junta com as composições da nova geração, Tom Jobim e Carlos Lyra, entre outros, incorpora o bolero e o samba canção e dá a linha evolutiva da música brasileira. Como “Bolinha de papel”, de Geraldo Pereira.
Passada a fase da bossa nova, entrou-se na era dos festivais e de programas musicais nas grandes redes de televisão, ao mesmo tempo em que o rock brasileiro ganhava espaço. Esse período é inteiramente dominado por Elis Regina. Inspirada no clima político do período, usa-se a música popular como um anteparo para a política e a economia do regime militar. Cria-se o sentimento de grupo, anti-guitarra, incorporando o novo samba de Ze Keti, Paulinho da Viola, aceitando Jorge Ben, mas não indo muito além. O que valia era a MPB, nada que extravasasse Chico, Edu, Lyra, Vandré. O momento mais patético foi a passeata contra a guitarra elétrica.
O corte ocorre com a Tropicália, uma construção dos baianos Caetano e Gil, e um suporte teórico de intelectuais e músicos paulistas, como os irmãos Campos, Julio Medaglia. O ápice foi a música “É proibido proibir”, que os baianos colocaram no Festival Internacional da Canção. Antes dele, Gil e Caetano já haviam feito parcerias inesquecíveis com os roqueiros “Os Mutantes” em “Sem Lenço, Sem Documento”. com metade do auditório cantando e outra metade vaiando.
Especialmente no épico “Domingo no Parque”, de Gilberto Gil.
O clima da guerra às guitarras inundou todos os shows. Nos festivais da Tupi e da Record, a principal arma dos militantes musicais eram as vaias. “É proibido proibir” rompe as barreiras, acaba com a história de “movimento” e permite que todas as vertentes musicais se encontrem na grande represa musical brasileira.
E aí Caetano se transforma em novo João Gilberto, trazendo para o circuito da MPB de Vicente Celestino a Peninha.
E aí, a linha evolutiva da música brasileira prosseguiu, mais generosa e aberta, com os gênios de Milton, Chico, Edu, Jobim se juntando ao bolero e ao que era tratado como música brega.Veja mais sobre:caetano veloso, Gilberto Gil, mpb
LUIS NASSIF ” JORNAL GGN” ( BRASIL)