“Deixem a indignação para o grande público. Indignada ficava a sua avó! É hora de ação e união”, escreve a jornalista Denise Assis
Houve um tempo, há muito tempo, em que a política funcionava assim. Quando havia alguma ameaça à democracia, um nome de peso entre os deputados subia à tribuna e fazia uma fala contundente, vigorosa, contra o abuso. (Em geral os deputados Pedro Simon, ou Ulysses Guimarães). Os jornalistas plantonistas da casa colhiam a fala e repercussões entre os deputados de oposição e os jornais estampavam em suas páginas o desmando e os protestos.
O respeitável público ao tomar conhecimento do abuso, no café da manhã, se revoltava e comentava em família, nas esquinas, em frente às bancas de jornais, enquanto as lideranças tratavam de se organizar para espalhar a “má nova”.
Os sindicatos chamavam atos, as instituições, como OAB, CNBB, ABI, soltavam notas contundentes e se juntavam às Centrais Sindicais para manifestações e protestos. Foi assim, quando o presidente da Câmara, Ulysses Guimarães, em Goiânia (GO), deu o grito: “Diretas Já!”. Foi o início de uma longa marcha que percorreu ruas e praças em todo país. O primeiro comício pela campanha das Diretas onde o apelo ecoou foi realizado no dia 15 de junho de 1983.
Desde março daquele ano, quando o deputado Dante de Oliveira (PMDB/MT) apresentou no Congresso Nacional PEC nº 5 (Proposta de Emenda Constitucional), conhecida como a “Emenda das Diretas”, sua intenção era devolver ao povo o direito de escolher pelo voto o presidente da República. Logo surgiu a ideia de uma campanha nacional que motivasse a sociedade para se engajar na luta, e a bancada do PMDB encaminhou à executiva nacional do partido documento com planos para a campanha, mas a dúvida era: onde seria o primeiro comício?
O país ainda vivia sob o ordenamento jurídico da ditadura, entre outros a Lei de Segurança Nacional, que vedava a realização de atos contra o regime militar. Eleito para o seu primeiro mandato como governador de Goiás, Iris Rezende desafiou o regime e no dia 15 de junho Goiânia assistiu ao primeiro comício, que naquele dia reuniu apenas 6 mil pessoas.
Dali em diante o povo perdeu o medo, ganhou as ruas e não houve forças regulares que o tocasse de vota para casa. A consciência de que o voto para presidente da República era o direito de retomar o destino do país e a democracia, levou milhões aos comícios.
Esse retrospecto tem sua razão de ser. Além de parecer que entramos no túnel do tempo, quando voltamos a falar em tropas, generais e golpismo, tal como naquele momento o que necessitamos agora é a mesma arregimentação de forças. É acreditar que há perigo na esquina.
A soberba dos “estudiosos” nunca nos levou a uma organização consequente, a ponto de nos permitir fazer frente a uma ameaça golpista, pois descartavam o perigo e se o perigo “não existe”, ou se “não há clima para golpe”, conforme diagnosticavam, organização para que, não é mesmo?
Pois esses “estudiosos” dos cenários políticos erraram todas. Os golpes vieram e nos jogaram no retrocesso. Portanto, não se trata aqui de fazer a apologia da ignorância, mas de dar menos bola para os “teóricos” (que, diga-se de passagem, agora creem), e chamar às falas os deputados que, atualmente, desceram da tribuna e foram parar diante das telas dos celulares e lap tops, para protestar contra os malfeitos do governo, feito eu ou você.
Aparecem no Twitter como indignados, coléricos, posando de “revoltados”, mas com pouca atuação prática no sentido de organizar a sociedade, para: se houver golpe, saber como agir, e se não acontecer, posicionar-se do lado certo para tocar o país rumo à democracia.
Cabe às excelências, convocar suas bases, falarem do que está acontecendo, cara a cara. Usem as suas redes sociais para chamar para as ruas, para a organização! As redes têm esse papel de grandes mobilizadoras.
Vocês que estão disputando uma cadeira na Câmara ou no Senado, têm missões a cumprir e a principal delas é organizar a população, falando da ameaça às eleições. Deixem a indignação para o grande público. Indignada ficava a sua avó! É hora de ação e união.
DENISE ASSIS ” BLOG BRASIL 247″ ( BRASIL)