É JUSTO CONSIDERAR OS LUSOS IMIGRANTES ?

SOARES MORENO
  • O Brasil começou a se tornar independente, a bem da verdade, em 1815, quando o Rei de Portugal Dom João VI (1767 – 1826), sediado no Rio de Janeiro, elevou a antiga colônia à Reino Unido a Portugal – algo semelhante à Coroa da Inglaterra, que coloca sob a égide de Londres, com o mesmo título de Reino Unido, não só o País de Gales, Escócia e Irlanda do Norte, mas também Canadá, Austrália e Nova Zelândia.
  • A elevação do Brasil a Reino Unido foi o reconhecimento de que o imenso Portugal das Américas deixava de ser uma colônia – ou província ultramarina. A Proclamação da Independência, ocorrida há 200 anos, em 1822, com o célebre Grito do Ipiranga de Dom Pedro I (1798 – 1834), representou, a rigor, a separação do Brasil do Reino Unido. Afinal, Pedro I, mais tarde Pedro IV, ao assumir a Coroa de Lisboa, era filho de Dom João VI – de quem, aliás, ouvira o conselho para se apoderar da nação antes que um aventureiro o fizesse.
  • O Brasil permaneceu, portanto, fortemente vinculado à Metrópole durante todo o período Imperial (1822 – 1889). E, por isso, milhares e milhares de portugueses continuaram a vir para cá, como destino preferencial, e não aos territórios nas Áfricas e à Índia, China ou Indonésia. Desde então, aos olhos brasileiros, passaram, infelizmente, a ser simples imigrantes que vieram em busca de uma vida melhor.
  •  Justamente como imigrantes são rotulados os lusitanos em inúmeras regiões que desbravaram no País – criando estados, capitais, cidades e vilarejos. Tão ‘estrangeiros’ são classificados os descendentes dos construtores do Brasil, que nos legaram, inclusive, a língua e o Cristianismo, quanto coreanos, palestinos, sírios, gregos e armênios. Sempre considerei uma injustiça o tratamento de ‘isonomia’, com os demais imigrantes, dado, aqui, aos portugueses – embora filho de pai espanhol e mãe franco-libanesa. Deparei-me com um dos exemplos, recentemente, dessa ‘injustiça’ no Ceará – onde uma reportagem num canal televisivo local, sobre a presença de imigrantes, apresentava os portugueses quase como alienígenas.
  • Esquecendo que o Estado foi fundado em 1612 por um heroico guerreiro lusíada, o Capitão-Mor Martim Soares Moreno (1586 – 1648) – relegado a um segundo plano na nossa historiografia. Até o nome do Estado, conforme alguns estudiosos, é uma corruptela de uma expressão cunhada pelos portugueses quando lá avistaram as áridas terras – similares ao Deserto do Saara, ao Sul do Marrocos, nação na qual, antes da Descoberta do Brasil, em 1500, ergueram grandiosas fortalezas em toda a costa Mediterrânea e Atlântica.
  • Soares Moreno era natural da localidade de Santiago de Cacém, na área de Setúbal, distante 48 quilômetros de Lisboa. Setúbal é notabilizada pelo seu esplêndido vin de dessert, ou seja, vinho de sobremesa, o adocicado moscatel, bem como pelo poeta Manuel Maria Barbosa du Bocage (1765 – 1805), mestre do arcadismo.   Bateu-se também Soares Moreno, cujo retrato ilustra a coluna, contra a ocupação holandesa do Nordeste, na primeira metade do século XVII, e participou, como comandante militar, da Restauração da Coroa de Bragança na região setentrional do País.
  • Morreria, porém, em Portugal, possivelmente, por volta dos 65 anos. Existe hoje, no Ceará, o Prêmio Martim Soares Moreno atribuído, anualmente, a um português ou luso-brasileiro que se destaca no Estado. Um dos ganhadores foi o jornalista lusitano Graciano Coutinho, de 80 anos, residente no Ceará. Ele foi o diretor em São Paulo do semanário Voz de Portugal e colaborador do Mundo Português, ambos do Rio de Janeiro. Coutinho, como milhares de portugueses, não pode ser considerado um mero imigrante.          

ALBINO CASTRO ” PORTUGAL EM FOCO” ( BRASIL / PORTUGAL)

Albino Castro é jornalista e historiador

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