E quem auditaria esse sistema paralelo? Os técnicos do TSE? Parece piada pronta!
Sem pensar muito, a resposta claramente é um não. Não existe essa função para as Forças Armadas, nem no Brasil e nem em nenhum outro país. Mas os defensores da ideia argumentam isso como uma garantia para a confiabilidade nos resultado das eleições.
Então, vamos aceitar a provocação, e mesmo sem ver nenhum sentido nessa afirmativa, colocaremos aqui argumentos técnicos do porque essa ideia não faz nenhum sentido!
Primeiro, a boa notícia: parece que desistiram de questionar as urnas eletrônicas, já que a sugestão agora é a auditagem (contagem paralela de votos) nos resultados no TSE, onde, segundo eles, existiria uma “sala secreta” na qual os resultados são gerados (e podem ser “inventados”).
Vamos por partes. Em primeiro lugar, as urnas não estão conectadas na internet e nem em nenhuma nuvem. Cada uma das cerca de 570.000 urnas são desconectadas e então não existe a possibilidade de alguém invadir a rede (não existente) de urnas eletrônicas e alterar os resultados inseridos em cada uma.
Segundo: Ao final da votação em cada seção/urna, os resultados daquela urna são impressos (com QR code), afixados nas paredes da seção eleitoral e distribuídos para os representantes dos partidos credenciados.
Ficou claro isso? As 17h (ou no final da votação), em cada seção, os RESULTADOS daquela urna são IMPRESSOS e todos os votos ali lançados, seja para presidente, governador, senador, deputados federais e estaduais são AFIXADOS nas paredes da seção eleitoral e ENTREGUES na mão dos fiscais de cada partido (inclusive um manual com as instruções para leitura do QR Code já foi elaborado e publicado desde 2016!).
Vamos agora para o terceiro passo: aqueles resultados da votação em cada seção, são TRANSMITIDOS para o TSE onde serão somados.
Quarto: Ao mesmo tempo em que resultados de cada seção são transmitidos para o TSE, os computadores centrais (naquela tal “sala secreta”) vão somando os votos e publicando os boletins parciais por estado e município (resolução de 03/03 desse ano), com a identificação, no detalhe, sobre a origem daqueles votos (qual seção/urna foi processada e totalizada).
O detalhe é que esses programas do TSE são auditados previamente por vários técnicos e representantes dos partidos, inclusive com a participação de técnicos das próprias Forças Armadas.
Qual foi a sugestão totalmente desnecessária? Por meio de cabos e links, o exército também receberia os totais de cada uma das 570.000 urnas e faria um processamento paralelo (no quarto passo) para garantir a “lisura” do processo.
Ora, para isso o Exército teria que ter sistemas similares ao do TSE (120 sistemas e 300 técnicos), para processar e totalizar esses votos. Quem pagaria por esse desvio de finalidade do Exército? Nós, eleitores e contribuintes, com certeza! Ou usando verbas das Forças Armadas subtraindo de atividades muito mais relevantes? E quem auditaria esse sistema paralelo? Os técnicos do TSE? Parece piada pronta!
Esse sistema similar teria que ter todas as garantias de segurança e qualidade que os do TSE praticam e informam. Mas, e se os resultados fossem diferentes? Precisaríamos de um terceiro processo independente para desempatar o jogo? Talvez com o Serpro e Dataprev, que, aliás, seriam muito mais adequados do que o Exército.
Mas é possível checar se a totalização do TSE foi feita corretamente? Claro! Qualquer partido ou organização pode coletar uma amostra com alguns (poucos) boletins de urna (ver passo 2), estatisticamente bem distribuídos por estados e municípios, e comparar um-a-um com os do TSE publicados que ficam a disposição de todos. Ou, mais simples ainda, cada fiscal que recebeu cópia de um boletim de urna, faria a comparação. Qualquer divergência, os dados seriam rechecados para identificar as causas.
Espero que a questão colocada no título desse artigo tenha sido respondida, e, com pesar, vemos que, com tantos problemas que temos no nosso país, ainda gastamos tempo questionando um processo que é exemplo para o mundo todo!
PAULO MILET ” BLOG OS DIVERGENTES” ( BRASIL)
(*) Paulo Milet é consultor em gestão, Inovação, TI e EaD, Presidente do Conselho de Educação da ACRJ, formado em Matemática/UnB, ex-SERPRO, com pós em Administração Pública/FGV