Quando essa guerra terminar, Putin poderá ser condenado por crimes de guerra e as mais diversas atrocidades, mas e Zelenski?
“Não posso prever para os senhores a ação da Rússia. É uma charada envolta em mistério, dentro de um enigma. Mas talvez haja uma chave. Essa chave é o interesse nacional russo.” (Winston Churchill, 1 de outubro de 1939)
Há uma frase nos clássicos da política que diz algo como: Quando governantes se sentem fracos diante de seu povo, inventam uma guerra externa para parecerem fortes. Acho que é de Maquiavel, mas não tenho certeza.
Os Cientistas Políticos atuais afirmam que a política externa de um país tem por objetivo estabelecer laços e firmar acordos que sirvam para favorecer a corrente política que apoia o governo internamente, em uma clara confusão entre os papéis de Estado e de Governo
O atual conflito na Europa entre a Otan e a Rússia por causa da Ucrânia, tem suas raízes na debilidade do Presidente norte americano Joe Biden que perdeu popularidade em função das divisões internas do Partido Democrata e da unidade na oposição liderada pelo ex-presidente Donald Trump que se prepara para voltar ao Poder e precisa enfraquecer Biden e por isso empurra o para a guerra, um terreno que ele não domina.
Além de Biden, também contribuíram para essa tragédia anunciada, um atrapalhado Boris Johnson que espera ganhar uma sobrevida como 1º ministro e não um voto de desconfiança do Parlamento Inglês e um inexperiente Olaf Scholz que ainda terá que que conviver por muito tempo com a sombra de sua antecessora, ngela Merkel, uma gigante nesse jogo de poder e diplomacia pela paz.
Putin também poderia entrar nessa categoria de governantes que se sentem fracos diante de seu povo, mas essa lógica vale apenas para as democracias. Putin é um autocrata e autocratas nunca se sentem fracos porque não precisam dar satisfações a ninguém, muito menos ao seu próprio povo.
Estabelecido o conflito, independente de seus motivos, é importante destacar que efetivamente não existe nenhum tipo de ordenamento jurídico internacional para situações de guerra. Em função disso é oportuno esclarecer que as relações entre países soberanas dentro da Comunidade Internacional de Nações são completamente diferentes das relações entre indivíduos dentro de um país onde há a presença de um Estado Nacional.
Entre indivíduos, por definição, iguais entre si, que decidiram viver em sociedades alargadas estabeleceu se um “Contrato Social” que impôs as regras mínimas de convivência e o conjunto de sanções, positivas ou negativas, para os que a elas se submetem, por adesão ou coerção, apesar das assimetrias sociais entre esses iguais.
Já entre Nações, permanece o “Estado de Natureza”, um Estado não jurídico provisório ou um “Estado de Guerra” informal e portanto, um Estado injusto e assimétrico, que também por definição são diferentes entre si, onde as demandas e as pressões internas prevalecem sobre qualquer tipo de pacto ou acordo bilateral entre Estados, valendo-se para isso da capacidade de cada um de mobilizar os recursos necessários para impor coercitivamente aos demais o atingimento de seus objetivos particulares em função das assimetrias entre esses diferentes.
Então, é por isso, e só por isso, que a Rússia pode, e vai, tentar estabelecer um cinturão de segurança, um espaço vital, em pontos-chave de suas fronteiras, sem se importar com os impactos que suas decisões terão sobre outros Estados, salvo se os demais Estados conseguirem mobilizar os recursos necessários para impedi-la, sejam recursos militares, políticos, econômicos ou de propaganda.
Foi o General da Prússia Carl Von Clausewitz (1790 – 1831) quem disse, durante as guerras napoleônicas, que a guerra era a continuação da política por outros meios. Hoje podemos dizer que mais que a guerra, é a propaganda a continuação da política por outros meios e enquanto a guerra real é travada no território da Ucrânia, uma guerra virtual e um festival de propaganda pró Aliança Europa /EUA contra a Rússia invade a internet e as principais redes de comunicação, inclusive do Brasil.
De acordo com os especialistas em política externa, geopolítica e táticas militares da maior parte da imprensa brasileira Putin deveria ter mantido seu avanço militar no Leste da Ucrânia, mas já está cercando Kiev, que fica no Norte, pretende tomar todo o país e a partir dali avançar pelo restante da Europa começando pela invasão da Polônia e/ou das Repúblicas do Báltico.
Este mapa abaixo (figura 1) traz a localizações das bases militares ucranianas segundo um blog russo. Notem que no início dos conflitos a maioria das forças ucranianas estavam estacionadas no Oeste do país porque este posicionamento foi desenhado durante o período socialista para atuar em defesa do bloco soviético contra as forças da OTAN.
Figura 1 – Bases Militares da Ucrânia
Compare essas posições das forças militares com o Leste da Ucrânia, onde ficam as Repúblicas separatistas de Donetsk e Lugansk. No Leste havia muito menos forças militares formais instaladas, primeiro porque a Rússia não permitiria essas instalações e segundo porque até o golpe de 2014 e a eleição do atual presidente não havia motivos para se imaginar a possibilidade de a Ucrânia vir a fazer parte da OTAN.
Não precisa um especialista na Arte da Guerra para saber que se Putin tomasse apenas o Leste da Ucrânia seria levado a uma longa, cara e sangrenta guerra de atrito entre seu Exército e o corpo principal das Forças Armadas ucranianas. A partir do momento que ele se decidiu pela invasão não iria se deter por nenhum limite que não outras Forças Armadas equivalente às suas que lhe pudessem confrontar, como as Forças da OTAN estacionada nos países a Oeste da Ucrânia, mas quem tomaria a decisão de ordenar à OTAN enfrentar militarmente a Rússia em território ucraniano?
Em 2014 o ex-secretário de Estado dos Estados Unidos, cargo equivalente ao de Ministro das Relações Exteriores, no Brasil, Henry Kissinger, já alertava que a Ucrânia não deveria aderir à OTAN. A partir desse alerta dado por uma autoridade em Geopolítica e Diplomacia como Kissinger qualquer analista minimamente informado saberia que Putin não avançaria com suas tropas para além da Ucrânia.
Uma coisa é invadir a Ucrânia, uma ação necessária na visão de Putin para a manutenção da segurança do que ele considera ser seu espaço vital, outra coisa é invadir uma país pertencente à OTAN. Putin jamais faria o que desejam os EUA e a Europa Ocidental dando-lhes a oportunidade de uma retaliação nada diplomática.
Uma retaliação da OTAN a uma agressão a um dos países membros seria o início de uma Guerra por toda a Europa com o envolvimento de dezenas de países e consequências totalmente imprevisíveis e o risco de confronto nuclear.
Segundo o francês Charles Michel, presidente do Conselho Europeu, é preciso evitar uma 3ª Guerra Mundial, mas não é bem assim. Um conflito entre a OTAN e a Rússia não seria a 3ª Guerra, muito menos seria mundial. Sempre é preciso evitar as guerras, mas esse conflito, se ocorresse seria a 12ª Guerra Europeia desde o início do século passado.
Até 1939 a lª Guerra Mundial não era conhecida dessa forma. Era conhecida como a Grande Guerra ou a Guerra das Guerras porque, strictu sensu, não era um conflito mundial. Quando muito envolveu as mesmas potências europeias que lutavam na Europa em alguns conflitos em territórios do Pacífico e da África.
O fato de ser conhecida, até o início da 2ª Guerra, como a Grande Guerra deve-se ao fato de a Europa nunca ter sido um território propriamente pacífico e que até o início do século XX houve dezenas de ‘pequenas’ guerras entre as nações europeias e diversas guerras civis. Segundo alguns historiadores também não é totalmente correto dizer que há uma divisão entre as duas grandes guerras. O que houve, segundo eles, foi uma guerra única de 1914 a 1945 com um longo armistício entre 1918 e 1939.
Primeiro porque, apesar do fim dos combates, a tensão entre os contendores nunca cessou completamente e segundo porque no retorno dos conflitos armado, eram praticamente os mesmos grupos de nações que se colocavam em lados opostos defendendo seus interesses.
Já o entendimento do historiador marxista britânico Eric Hobsbawm é um pouco diferente. Ele defende em seu livro “Era dos Extremos. O breve século XX (1914-1991)” que a Guerra Fria pode ser encarada, razoavelmente, como uma Terceira Guerra Mundial, embora tenha sido uma guerra muito peculiar, sem conflitos armados, pelo menos em solo europeu.
O argumento de Hobsbawn baseia se no entendimento do filósofo, também britânico, Thomas Hobbes que diz que “a guerra consiste não só na batalha, ou no ato de lutar; mas num período de tempo em que a vontade de disputar pela batalha é suficientemente conhecida”.
Portanto, essa guerra entre Rússia e Ucrânia nem de longe pode ser considerada como uma 3ª Guerra Mundial, sobretudo porque não tem potencial para arrastar outras nações europeias, dado o poder de dissuasão nuclear russo. Muito menos de provocar o envolvimento militar, afinal é disso que se trata uma guerra quando falamos objetivamente, de outros continentes.
Nem China, nem EUA vão se meter nesse conflito, para além das questões comerciais envolvidas, da construção de narrativas ou dos seus próprios posicionamentos como polos hegemônicos no cenário do pós-guerra, mas ambos irão lucrar muito com ele, diferentemente de Rússia e Ucrânia.
Por fim, temos que entender que o estado natural da Europa é a guerra e não a paz.
Até o início da Guerra Fria foram 5 conflitos envolvendo países europeus, excluindo-se as Guerras Mundiais: Guerra dos Balcãs (1912 – 1913), Guerra Civil Russa (1917 – 1923), Guerra Civil Espanhola (1936 – 1939), Guerra da Continuação (1941 – 1944) e Guerra da Lapônia (1944 – 1945) e outros 6 com o fim da União Soviética e da Guerra Fria: Guerra da Bósnia (1992 – 1995), Guerra da Chechênia (1994 – 1996), Guerra do Kosovo (1996 – 1999), Guerra da Chechênia (1999 – 2000), Guerra Russo-Georgiana (2008), Guerra em Donbass (2014- 2022).
Ou seja, só durante os 45 anos da Guerra Fria e graças a existência da URSS, os europeus podem dizer que tiveram um período de uma relativa paz no continente. Uma paz muito relativa e bastante armada, diga-se, e com a transferência dos seus conflitos políticos e ideológicos para outros continente. Então, esse discurso pacifista da Europa atual não é propriamente sincero ou verdadeiro, já que a Europa sempre conviveu com os mais diversos tipos de conflitos, inclusive guerras longas, caras e muito violentas
No conflito atual, no entanto por algum motivo a imprensa brasileira insiste em análise de um cenário em que a Rússia resolveria a invasão da Ucrânia de maneira muito rápida, mas como isso não está acontecendo Putin estaria perdendo a Guerra.
Qualquer aluno mediando da História do século XX e sua Guerras ao ver o mapa das movimentações russas em território ucraniano (figura 2) percebe que o que está sendo feito é um clássico “movimento de pinça” que não é algo rápido ou fácil de se executar.
Figura 2 – Movimentação de tropas russas na Ucrânia
Esse movimento é uma manobra militar em que um que os flancos do exército oponente são atacados simultaneamente por duas linhas de combate, movimentando-se como os braços de uma pinça, cercando as forças inimigas por 3 fronts, nesse caso ao Sul e ao Norte e ao Leste.
O objetivo é concluir o movimento completo fechando um círculo em volta das tropas inimigas, isolando completamente o adversário. Sem possibilidade de estabelecer linhas de abastecimento de armas, munições e suprimentos as opções são a rendição ou a derrota.
Essa manobra foi utilizada diversas vezes na história militar russa recente. Na Batalha de Tannenberg (1914) entre russos e alemães na 1ª Guerra pelo controle da Prússia Oriental, na Batalha de Khalkhin Gol (1939) entre russos e japoneses pelo controle da Mandchuria, na Batalha de Stalingrado (1942/3) entre os russos e alemães pelo controle de Stalingrado e na Invasão Soviética da Manchúria (1945) novamente contra o Japão. Nessas 4 batalhas, a Rússia só foi derrotada na Batalha de Tannenberg quando a manobra foi utilizada de maneira defensiva pelos alemães.
Apesar de ser uma manobra onde o tempo não é um fator tão relevante, os avanços russos são relativamente rápidos. Nesse momento Putin domina as regiões separatistas de Donbass no Leste, domina a fronteira Norte com a própria Rússia e com Belarus. O Sul do país, na fronteira com a Criméia, também já está controlado pelos russos e o avanço agora será na direção de Odessa, 3ª maior cidade da Ucrânia.
Controlando Odessa, Putin impede qualquer tipo de abastecimento das tropas da Ucrânia pelo Mar Negro, bloqueado pela Marinha russa. Com isso a chegada de reforços e apoios só poderiam ocorrer pela fronteira com a Polônia, Eslováquia, Hungria ou Romênia no Oeste do país, já que o espaço aéreo ucraniano está fechado pela Força Aérea russa e a OTAN não vai confrontar Putin em uma batalha aérea sobre a Ucrânia.
O problema então, é que essa ajuda terá que vir por terra e essa região Oeste da Ucrânia é formada pelos 1.500 km dos Cárpatos, o 2º mais longo sistema de montanhas da Europa.
Isso obriga que os mais de US$ 350 milhões em armas, equipamentos e suprimentos disponibilizados pelos EUA e pela Europa tenham que chegar por apenas 3 ou 4 grandes estradas que ligam a Ucrânia a Europa Oriental. Os russos podem monitorar, dominar ou bloquear essas poucas rotas viáveis com relativa facilidade.
Alcançado esses primeiros objetivos, Putin deve ordenar o reforço de suas posições e o avanço em direção a Kiev pelo Norte e pelo Sul de maneira simultânea, enquanto forças táticas isolam e controlam cidades onde há usinas nucleares para evitar qualquer tipo de ato desesperado das defesas ucranianas.
Não é possível dizer em quando esses objetivos serão alcançados, mas será só uma questão de tempo. A partir daí será um jogo de paciência. Com o país literalmente dividido ao meio, os fluxos de pessoas e mercadorias impossibilitados e o controle sobre o fornecimento de água, energia e combustíveis Putin aguardará uma rendição de Kiev nos seus termos.
E enquanto Putin aguarda rendição ucraniana nos seus termos o mundo irá perceber que a Ucrânia não cabe na Europa porque a Comunidade Econômica Europeia não é a Europa, a OTAN não é a Europa, nem mesmo o território que vai dos Urais ao litoral de Portugal é a Europa. A Europa há muito tempo deixou de ser apenas um conceito econômico, militar ou geográfico.
A Europa hoje é muito mais um conceito cultural e étnico e por esses conceitos existem várias Europas e a Ucrânia não faz parte delas.
Existe uma Europa rica e capitalista que tenta atuar economicamente como um Bloco, apesar do Brexit. Existe uma Europa neolatina ou mediterrânea, uma Europa anglo saxã e um Europa germânica que nunca se entenderam, apesar das suas fronteiras ou até por causa delas e existe uma Europa católica e democrática que termina nas fronteiras da Alemanha.
A Ucrânia não está integrada à Economia do Continente. Seus principais parceiros comerciais são a Rússia e a China. Sua economia é baseada na exploração de minérios e na produção agrícola e pecuária. Fora de um período de Guerra teria enorme dificuldades para se integrar à Comunidade Econômica Europeia porque precisaria vencer a eterna resistência dos produtores europeus e as políticas protecionistas dos seus governos nacionais que subsidiam suas produções de alto custo e baixa produtividade em relação à países mais especializados como a Ucrânia, por exemplo.
Apesar do bom nível sociocultural da média da população, sobretudo daqueles que estão deixando o país, a Ucrânia não está integrada à Europa Ocidental pelo idioma, pela cultura ou pela história. Nesse momento em função de fatores como raça e recursos econômicos poderão se integrar com mais facilidade aos países do Leste Europeu ou aos Países Nórdicos, mas não terá essa mesma facilidade em relação à Europa Ocidental.
Por enquanto todos se solidarizam com a causa ucraniana, mas em pouco tempo haverá mais 5 milhões de refugiados ucranianos chegando à Europa Ocidental e eles competirão por empregos e recursos públicos com as populações locais, assim como os africanos e os árabes que são empurrados para as periferias das grandes cidades europeias. Claro que favorecidos pela cor da pele, mas ainda assim refugiados e a Europa Ocidental não estará tão receptiva a eles em alguns meses.
A Europa Ocidental nunca viu com bons olhos os países que não abraçaram os princípios basilares da Revolução Francesa e da Revolução Gloriosa inglesa. Países e pessoas que não tem os mesmos valores democráticos e humanistas sempre serão vistos com Estados e cidadãos de 2ª Classe. É assim com árabes, com asiáticos, com africanos e com russos e para a Europa Ocidental a ucrânia é russa, por mais que neguem isso nesse momento.
O número de refugiados que essa guerra está causando impressiona. Segundo O Alto Comissariado da ONU para Refugiados mais de 2,5 milhões de pessoas já deixaram o país e outros 1,5 milhões se deslocaram internamente e devem cruzar as fronteiras através dos corredores humanitários, portanto a expectativa é que esse número dobre nas próximas semanas.
Mais de 5 milhões de pessoas se deslocando pela Europa é um contingente maior que a população de 24 dos 45 países europeus, representa em torno de 50% da população de países como Grécia (10,6), Portugal (10,3), Suécia (10,2) Hungria, (9,8), Áustria (8,9) ou Suíça (8,4). É muita gente.
Figura 3 – Países da Europa por população 2020
Enquanto durar a Guerra os Diplomatas e Governantes europeus manterão as posições, declarações e resoluções em favor do acolhimento dos refugiados ucranianos e as sanções políticas e econômicas contra a Rússia, mas será que quando os eleitores e a opinião pública de seus países exigirem uma solução, qualquer que seja, que possibilite o fim dos conflitos e o retorno desses refugiados à Ucrânia, mesmo que sob domínio russo e em meio à destruição de suas cidades, manterão essas posições favoráveis a integração de uma população tão gigantesca em seus territórios comprometendo parte dos empregos dos seus cidadãos e parte dos recurso dos seus Estados? Creio que não.
Passadas algumas semanas de guerra, dezenas de cidades destruídas, centenas de vilas isoladas, milhares de mortos e milhões de refugiados, o presidente Zekenski já afirma que as portas da OTAN estão fechadas para a Ucrânia.
Essa declaração sinaliza a intenção de Zelenski de encerrar a guerra porque atende a principal reivindicação russa e coloca a Ucrânia em uma situação de neutralidade em relação aos interesses de Putin e às falácias dos europeus e dos americanos sobre a Região.
Neutralidade não por convencimento e entendimento da geopolítica local ou por esforços da diplomacia, mas por absoluta incapacidade militar de continuar sozinho uma guerra perdida desde antes do seu início.
Claro que todos nós somos solidários ao sofrimento dessas pessoas obrigadas a abandonar suas casas e colocar suas vidas e seu futuro em risco.
Claro que ninguém aqui defende a guerra como uma solução racional para um conflito geopolítico.
Claro que ninguém aqui acha que Putin ou Zelenski eram as pessoas mais capacitadas para evitar o conflito e que seriam negociadores hábeis o suficiente para encontrar uma saída pacífica para as disputas em que se meteram.
Claro, claro, claro…
Mas também precisa ficar claro que a maioria das vítimas dessa tragédia também são, mesmo que indiretamente, responsáveis por ela. E não se trata aqui de culpar as vítimas.
A maioria dos ucranianos que hoje sofrem com a guerra se sentiram representados pelos compatriotas que estavam na Praça da Independência, em Kiev em 2014, protestando violentamente depois que o presidente eleito Viktor Yanukovych anunciou sua decisão de não assinar um acordo de cooperação com a União Europeia, que poderia, no futuro, ter a Ucrânia como um de seus membros e, consequentemente, passar a integrar a OTAN.
Também precisa ficar claro que a maioria desses ucranianos deslocados e vitimados pelo conflito compõem a massa de mais de 70% da população (Figura 4) que elegeu um presidente sabidamente inexperiente e despreparado para o cargo.
Figura 4. Resultado eleição Ucrânia 2019
Em 2019 a Ucrânia decidiu entregar o comando político do país a Volodímir Zelenski, um ator e comediante sem nenhuma experiência política e despreparado, não porque era um ator ou comediante, mas porque sempre negou a Política e apostou na falácia da democracia direta.
A campanha de Zelenski se baseou na luta contra a corrupção e contra o sistema político. Depois de eleito fez as piores escolhas, ignorando os interesses e o poderio russo na região.
Respaldado pelo resultado da eleição em que obteve mais de 73% dos votos, confiou em demasia em promessas pouco viáveis da Europa e dos EUA e embarcou em uma aventura militar desfiando uma das maiores máquinas de guerra do mundo, conduzida por um político experiente e militar altamente motivado e governante preparado para as consequências de uma guerra, sem resistência interna. Três características que Zelenski nem faz ideia do que seja.
Quando essa guerra terminar, Putin poderá ser condenado em todos os tribunais internacionais por crimes de guerra e as mais diversas atrocidades, mas e Zelenski?
Se sobreviver viverá da fama e da glória de um herói improvável, graças a cobertura parcial e irresponsável do conflito feita pela mídia ocidental e não será responsabilizado pela cumplicidade com os crimes de Putin.
Sinais dessa tragédia anunciada não faltaram e um líder de milhões de pessoas, com poder de ir ou não à uma guerra, não tem o direito à uma miopia política tão grande, colocando seu país e seu povo em um conflito como esse contando com um apoio militar da OTAN que nunca veio. E qualquer observador mais atento sabia que não viria.
As pessoas só aprendem da pior maneira que voto tem consequências. As pessoas fazem sua história, mas não fazem ideia da história que fazem.
ROBERTO XAVIER ” BLOG BRASIL 247″ ( BRASIL)
Cientista Político, Mestre em Gestão de Políticas Públicas