Daqui a um ano e pouco, vão explodir os mercados de criptoativos, deixando uma legião de famílias iludidas e quebradas. Ao mesmo tempo, o jogo, se implantado, vai deixar um rastro de problemas sociais e criminais.
A xepa da Câmara Federal, comandado pelo deputado Arthur Lira, prepara duas leis escandalosas: uma delas, legalizando os cassinos; a outra, legalizando os criptoativos.
Nas semanas anteriores, grandes jornais se esmeraram em páginas abundantes louvando as criptomoedas. Ao mesmo tempo, a publicidade de cassinos virtuais inundou sites de jornais e da imprensa alternativa. O resultado tem sido um silêncio constrangedor em relação aos dois temas – com exceção de uma boa reportagem da Folha sobre os golpes com criptoativos.
O mercado de criptoativos têm dois tipos de públicos. Um deles, é a contravenção, as organizações criminosas, o dinheiro da corrupção política, que necessita do anonimato. O outro são investidores, correndo atrás da valorização dos ativos. Há dois tipos de investidores: os profissionais e o investidor comum. Sempre foi assim em todas as bolhas registradas nos últimos 50 anos, seja com prata, ouro, obras de arte, ações. Cria-se uma espiral de alta, controlada pelos profissionais. A valorização inicial atrai os amadores. Cria-se uma espiral de alta. Quando chega no pico, os profissionais começam a vender seus ativos. E quem morre com o mico são os amadores.
A razão de Roberto Campos Neto anunciar apenas para o fim do ano o início da regulação dos criptoativos têm uma explicação única: os profissionais estão ganhando dinheiro. Grandes instituições entraram no jogo. Mais que isso, bancos internacionais perderam uma enorme fonte de receita quando teve início o ataque aos paraísos fiscais. As criptomoedas trouxeram de volta ao circuito o dinheiro criminoso.
Hoje em dia, há informações de famílias vendendo bens para aplicar em criptomoedas, da mesma maneira que as vítimas do Boi Gordo, da avestruz, da Telexfree e tantos outros golpes. O problema no Brasil é que as instituições agem apenas quando a bolha explode.
O caso Telexfree foi um exemplo. Aqui no GGN, denunciamos por meses o golpe. Fomos alvos de ataques hackers e de ameaças físicas. Mas a reação do então Ministro da Justiça, José Eduardo Cardoso, é que não havia como atuar sobre a operação, embora fosse óbvio que houvesse transações internacionais de recursos, golpes na poupança popular.
Foi necessário a ação individual de uma juíza, no Norte, para que Ministérios Públicos e poder público em geral atuasse contra o golpe. As autoridades norte-americanas agiram de forma muito mais rápida contra o golpe, que visava exclusivamente a população brasileira no país.
Já os cassinos estão no centro dos maiores escândalos políticos brasileiros desde o governo Itamar, quando Danilo de Castro abriu espaço para a GTec, empresa ligada à máfia de Las Vegas, prestar serviços à Caixa Econômica Federal. Sua entrada no mercado brasileiro levou Carlinhos Cachoeira e se associar à máfia espanhola, deixando um rastro de corrupção na área pública e na mídia – leia, a propósito, “O Caso Veja”, que narra essa parceria criminosa.
Sheldon Adelson, chefe da máfia do jogo de Las Vegas, participou ativamente da eleição de Donald Trump, Jair Bolsonaro e Benjamin Netanyauh. De Israel. A abertura dos cassinos no Brasil foi tratada por Bolsonaro em seu primeiro encontro com Trump. A expansão das milícias para a região de Angra dos Reis coincidiu com as declarações de Bolsonaro, de permitir a abertura de cassinos na região.
Daqui a um ano e pouco, vão explodir os mercados de criptoativos, deixando uma legião de famílias iludidas e quebradas. Ao mesmo tempo, o jogo, se implantado, vai deixar um rastro de problemas sociais e criminais.
Só aí, então, cairá a ficha da mídia, da mesma maneira que em todos os abusos recentes no Brasil.
LUIS NASSIF ” JORNAL GGN” ( BRASIL)