Paulo Guedes chegou a Brasília exibindo poderes hipertrofiados. Não precisava tocar em maçanetas. As portas se abriam sozinhas para o superministro. Decorridos três anos, continua dispensado de virar maçanetas. Reduzido por Bolsonaro à condição de aspone do centrão, o ex-czar da economia virou um asterisco que passa por baixo da porta.
Contrário à redução do preço dos combustíveis por meio de malabarismos, Guedes topou uma gambiarra que zeraria os tributos sobre o diesel. Recebeu de Bolsonaro um tratamento de moleque. O presidente enviou ao Congresso proposta de emenda constitucional mais ampla. Além do diesel, incluiu gasolina, etanol e gás de cozinha.
A emenda foi redigida por um assessor do chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira. O deputado Christino Áureo, homem do centrão, filiado ao partido do ministro (PP), apresentou-se como autor da proposta —como se nada tivesse sido descoberto sobre a origem palaciana da peça.
Não se sabe se a PEC será aprovada. Se passar na Câmara e no Senado, é improvável que resolva o problema da alta dos combustíveis. De concreto por ora apenas a previsão da pasta da Economia de que a eventual aprovação produzirá um buraco na arrecadação. Seria de R$ 17 bilhões na versão admitida por Guedes. Será de R$ 54 bilhões no formato definido pelo centrão.
De resto, a movimentação eleitoreira de Bolsonaro e dos seus operadores políticos consolidou a desmoralização de Paulo Guedes. Já houve casos em que o presidente fritou ministros. Guedes ultrapassou a fase da frigideira. Agora, já bem tostado, o ministro está sendo esquartejado por Bolsonaro.
Guedes chega ao ocaso do governo em posição constrangedora. Terá de se habituar a uma nova rotina. Desfigurado, arrisca-se a ser barrado pelo porteiro do ministério, que passará a exigir um crachá. No final do dia, o garçom levará o cafezinho do ministro. Gelado.
De volta à Granja do Torto, onde reside, Guedes será mordido pelo cachorro. Ao acordar, o sub-ministro fará o seu próprio café. E iniciará a leitura dos jornais procurando a sessão de empregos. Descobrirá que ela já existe.
JOSIAS DE SOUZA ” SITE DO UOL” ( BRASIL)