Contratado para ser o Pizzaiolo Geral da República em setembro de 2019, a fama de Augusto à frente do forno vem crescendo a cada dia. Sua fama já é internacional.
Prepara suas pizzas com carinho, calculando, sempre com acerto, a impunidade, ingrediente que há muito não pode faltar na Pizzaria Geral de República, casa carinhosamente conhecida por PGR.
Os sabores variados lhe garantem as boas graças do patrão que, em 2021, renovou seu contrato para alegria de todos os que ali se alimentam.
A especialidade da casa é o Arquivamento Sumário, mas dependendo do humor do pizzaiolo pode ser servido sem este último ingrediente.
Quando a fila de pedidos está muito grande, e Augusto não quer ficar mal com o público, é sempre possível simplificar o atendimento distribuindo pedaços de Procedimento Investigativo Preliminar. Equivale a uma pizza branca.
É um bom chef. Paga bem a seus auxiliares. Em dezembro de 2021 liberou aproximadamente 80 milhões para pagar benefícios à sua turma. O maior contemplado foi José Robalinho Cavalcanti que, apesar de ter um salário de R$35.4 mil, recebeu R$446 mil. Algo assim como as filhas do Coronel Ustra, que por ter sido agraciado com uma promoção post-mortem ao cargo de Marechal, garantiu à prole um significativo incremento em suas pensões. Em ambos os casos um incremento polpudo, mas justificável. Ustra, por ter sido exímio torturador, o que o tornou ídolo do inqualificável Bolsonaro e Robalinho por comandar a filial da pizzaria em Brasília.
Como nem todos podem se alimentar em seu balcão, o pobre Augusto é vítima das más línguas. Agora mesmo está sendo acusado por uma ONG, Transparência Internacional, que produz o Índice de Percepção da Corrupção, principal indicador de corrupção no mundo, de ser leniente com os casos que lhe são apontados. Estão dizendo que não faz nada além de pizzas! Mas não é para isso que existe a Pizzaria Geral da República? O relatório de 2021 nos aponta também a relação entre corrupção e direitos humanos. Caberia às pizzarias exercerem um controle sobre o assunto, mas já que os três primeiros colocados – Dinamarca, Finlândia e Nova Zelândia – obtiveram nota 88 e o Brasil apenas nota 38, querem botar a culpa em nosso pizzaiolo.
Posto em brios, explicou não existir alinhamento sistemático do Pizzaiolo Geral da República com o ocupante do Planalto.
Fazendo a ligação da corrupção com direitos humanos, deve ser por inexistir esse alinhamento que nada fez de concreto a respeito das denúncias contidas no relatório da CPI da COVID.
Mas é bom que tome cuidado. Quem lida com forno acaba se queimando.
LYGIA JOBIM ” BLOG BRASIL 247″ ( BRASIL)
Jornalista e advogada, integra o Coletivo Verdade, Memória, Justiça e Reparação