“Muito mais do que um baú, tenho um armário inteiro repleto de lembranças dele”, diz Eric Nepomuceno sobre Leonel Brizola22 de janeiro de 2022,
Neste sábado, 22 de janeiro, Leonel Brizola estaria fazendo cem anos. Foi-se embora no dia 21 de junho de 2004, aos 84.
Muito mais do que um baú, tenho um armário inteiro repleto de lembranças dele. Nos conhecemos em 1978, numa das primeiras visitas que Brizola – então abrigado nos Estados Unidos de Jimmy Carter, depois de ter precisado sair fugido do exílio no Uruguai – fez a Lisboa. Fomos apresentados por Darcy Ribeiro, e nunca mais nos afastamos.
Dessas lembranças, quero começar mencionando uma: a campanha vil, insidiosa e permanente que as Organizações Globo (jornal, emissoras de rádio, revistas, televisão) moveram contra ele quando era governador do Rio de Janeiro (1983-1987, e depois entre 1991 e 1994).
Desde sua volta ao Brasil, é verdade, todos os meios do conglomerado de comunicação do oligopólio que domina o setor se lançaram com sanha sobre Brizola, mas nenhum como as Organizações Globo.
Nem mesmo Lula, na presidência, foi vítima de semelhante avalancha de mentiras e manipulação dos fatos como ele.
E por que começo com essa lembrança? Porque de alguma forma todos tratam se registrar o que seria o centenário de Brizola com um mínimo do respeito que nunca tiveram por ele em vida.
Outra razão é o meu espanto ao ler no Globo deste sábado 22 de janeiro a quantidade de erros primários e imperdoáveis contidos no texto assinado por Maiá Menezes e Chico Otavio.
Entre outras bobagens, mencionam Carlos Lupi, atual presidente do que restou do PDT fundado pelo grupo liderado por Brizola, como o estudante entusiasmado pela figura política que viajou para o Rio Grande do Sul só para ouvir o seu discurso no túmulo de Getúlio Vargas, em 1977.
Ora: em 1977 estava exilado no Uruguai. Ele só voltou em 1979, e mesmo assim – e isso, claro, o Globo não conta – com limitações: das grandes figuras do exílio, foi o único impedido pela ditadura apoiada pelas Organizações Globo a entrar pelo aeroporto do Galeão. Foi obrigado a entrar por terra, vindo do Uruguai. Será mesmo que o estudante entusiasmado estava lá, se não lembra nem a data correta?
Diz também que Lupi o conheceu pessoalmente na banca de jornal que tinha perto do apartamento de Brizola na avenida Atlântica.
Nada disso: Lupi tinha, sim, uma banca de jornal, mas na rua Prudente de Moraes, em Ipanema, perto do hotel Everest, onde Brizola e família se instalaram quando vieram para o Rio depois da volta do exílio.
São erros tão primários que todo o resto do texto, que trata mais de mostrar divergências entre os netos do líder político inconteste que de sua figura e trajetória, se esvai.
De novo, o jornal que tanto o maltratou em vida o maltrata até hoje.
Amanhã volto com mais da minha memória desse gigante brasileiro.
ERIC NEPOMUCENO ” BLOG BRASIL 247″ ( BRASIL)