CHARGE DE LAERTE
A sinalização de um futuro Ministro da Fazenda deflagraria uma discussão infindável sobre temas econômicos, jogando para segundo plano seu foco principal, que é o combate à miséria e a retomada do desenvolvimento.
Um dos grandes desafios de Lula, em sua campanha presidencial, será administrar os egos do partido. O favoritismo do candidato já acendeu a centelha de uma disputa surda para ver quem consegue emplacar o próximo Ministro da Fazenda.
A rigor, há dois grupos em disputa, o de Aluizio Mercadante, presidente da Fundação Perseu Abramo (o think tank do PT) e Gleisi Hoffmann, a presidente do partido. E há Fernando Haddad, candidato ao governo de São Paulo, mas que poderá se habilitar ao Ministério da Fazenda, em caso de derrota.
Mercadante tentou emplacar como candidato o ex-Ministro Nelson Barbosa. Mas há grande resistência no partido, depois da atuação de Barbosa em 2014 e 2015. Grupos do partido acham que ele se aliou ao mercado contra Guido Mantega e endossou acriticamente o pacote Joaquim Levy.
Lula procurou desautorizar Mercadante ao seu modo. Primeiro, incumbiu Guido Mantega de escrever o primeiro artigo sobre as propostas do candidato. Não foi apenas para reabilitar Mantega – que saiu machucado de sua atuação em 2014 – mas, principalmente, para desautorizar as tentativas de Mercadante sem sinalizar qual seria sua preferência.
Depois, na coletiva de quarta-feira, à chamada imprensa independente, levou consigo Gleise e se permitiu algumas piadas sobre Mercadante durante o almoço. Agora, há um movimento de Mercadante e Gleisi atrás de um economista ministeriável para chamar de seu.
Provavelmente essa disputa ficará pairando no ar. Primeiro, porque Lula não necessita de um posto Ipiranga, como Michel Temer ou Jair Bolsonaro. Na coletiva ele demonstrou ter ideias claras sobre o que pretende. E uma de suas estratégias será esvaziar as discussões sobre Lei do Teto, política monetária, Banco Central etc. A sinalização de um futuro Ministro da Fazenda deflagraria uma discussão infindável sobre temas econômicos, jogando para segundo plano seu foco principal, que é o combate à miséria e a retomada do desenvolvimento.
Em relação aos temas econômicos, não haverá mais discussão sobre mercado x Estado. A onda mercadistas se esvaziou após os fracassos de Temer e Bolsonaro-Paulo Guedes. A grande discussão será sobre a forma de política de desenvolvimento, para não repetir erros de políticas passadas.
LUIS NASSIF ” JORNAL GGN” ( BRASIL)