O problema de alguns jornalistas são as bolhas em que vivem. O sujeito isola-se no seu nicho retrógrado e dele não sai, nem sequer olha para fora. Apega-se a meia dúzia de dogmas e deles não desgruda. Contorce-se em palavrórios para fazer o leitor crer em algo que o mundo já demonstrou irreal. Por exemplo, o trabalho desregulado.
O Estadão publicou – me escapa o nome do autor – que um dos “erros” da campanha de Lula à Presidência da República (líder absoluto, com 48% de intenção de voto) é pregar a reversão da reforma trabalhista de Michel Temer, a qual constituiria um largo passo rumo à modernidade trabalhista.
O elogio à precarização do trabalho cumpre o mantra neoliberal de excluir o Estado da vida humana, como se um ente superior – o mercado ou coisa que o valha – fosse capaz de civilizar a cabeça do patrão brasileiro, um explorador por definição (salvo raras exceções).
O IBGE informa hoje um desemprego no país de 13,5 milhões de pessoas – taxa de 12,6%, o dobro da média mundial. A taxa de subutilização do trabalhador é de 26,5%. A subutilização diz muito sobre as novas formas de trabalho e emprego, que, sem retoques, nada mais são do que bicos.
O emprego formal – “carteira assinada”- é apregoado como desestímulo a contratações, pelos “altos custos trabalhistas” que envolve. Trata-se de uma bobagem primária. Patrões demitem ou deixam de contratar quando seus produtos ou serviços não vendem, e seus produtos ou serviços não vendem quando o consumidor ganha mal ou está desempregado. Mais ou menos como a historinha do biscoito Tostines.
A mentira de que a desregulamentação estimula o emprego confirma-se com uma olhadela nos números. Ao término do primeiro governo Dilma Rousseff, em 2014, antes da quase destruição da CLT, o desemprego era de 4,8%. A volúpia por modernizar as relações de trabalho, nos moldes temeristas, não gerou empregos e contribuiu com a paradeira da economia.
Este colunista recorda-se de quando foi entrevistar o ex-ministro Eros Grau, do Supremo Tribunal Federal. Terminada a conversa, o magistrado pergunta se eu estava de carro ou chamaria um táxi. Nenhuma das duas opções – eu me mandaria de Uber. Grau indignou-se, primeiro, por me arriscar a ser conduzido por um motorista não profissional; segundo, por usar os serviços de trabalhador tão precarizado. Confesso ter ficado um pouco envergonhado: a indignação de Eros Grau deveria ser a de todos nós.
O que o Estadão pretende é açular os ânimos dos patrões que ainda leem o jornalão. A campanha de Lula acerta porque se dirige ao trabalhador, que abomina ser explorado. Votará em quem o defende.
PAULO HENRIQUE ARANTES ” BLOG BRASIL 247″ ( BRASIL)