Bolsonaro vaga entre a esperteza e a indigência intelectual, a provocar um cenário de desolação, incomunicabilidade, tristeza, com comportamentos bizarros, estranhos, fúteis.
Isso é o Teatro do Absurdo, que Martin Esslin batizou no fim da década de 50, surgido com o clima desalentador do pós-guerra.
Bolsonaro superou em peripécia, não em qualidade, os autores Samuel Beckett, Ionesco, Adamov e Arrabal. É um campeão mundial do Absurdo.
O pior é que estamos sendo envolvidos. A mídia sobretudo, e a sociedade, em parte, estão sendo iludidos e levados a dar muita importância a ele.
Bolsonaro é um sujeito perigoso, conseguiu destruir Bebbiano, desmoralizar Moro, defesnetar Mandetta, encolher Pazzuelo, trazer pela coleira Guedes e seu “chigaguismo”.
Se alguém se deixar hipnotizar, acaba dominado.
Claro, que um presidente da República precisa ter seus atos divulgados. Mas, basta isso e ponto. A tarefa é muito grande , não vamos ampliá-la, como disse Franco Montoro. Basta divulgar.
Não devemos lhe dar palanque e audiência o tempo todo sem parar. Diante de tantas barbaridades, cabe ignorá-lo.
Rir é um ato de resistência, disse Paulo Gustavo, ignorar é um ato de repúdio. Reduz o protagonista ao ridículo de sua verdadeira dimensão.
No início da semana, levou-se horas discutindo a vacinação das crianças, os efeitos colaterais da vacina infantil a facada, após um camarão mal mastigado. Faz sentido? Não.
Não há um remédio sequer que não tenha efeitos colaterais discriminados em bula e de risco do paciente. Remédios são dados porque o balanço de ganhos e perdas é favorável. Nunca são isentos de alguma ação negativa no organismo.
Não saber mastigar um camarão é problema de quem o faz, investigar pela terceira vez um ato, em que avisado pela segurança, Bolsonaro insistiu em se expor e as investigações não provaram o que ele quer, para ser vítima oura vez é outra. E a mídia entra nessa. Bolsonaro já disse em live que não vai deixar de viver e vai comer o que quiser. Quem come pedra, sabe o intestino que tem. Cda indigestão vamos voltar à facada?
A mídia está mordendo a isca que Bolsonaro, que gosta de pescar, joga. Ela tenta ficar 24 horas, de forma repetitiva e até cansativa, provar que ele está errado. não carece.
É como resolver o mesmo teorema mil vezes. Ele está errado e fala absurdos, chega.
Os números de pesquisa mostram, que apesar de Bolsonaro falar, 71% já vacinaram algum filho, 13% não têm opinião e que 16%, gastemos o tempo que se gastar, não vão vacinar. Não adianta insistir.
Cerca de 80% da população brasileira entendeu a importância da vacina e 20% não quer entender, não é por insistência que se irá fazê-lo. Podemos até repetir a importância, mas não com a intensidade e frequência que se faz. Chega de dar bola a Bolsonaro. Ele é carta que se aproxima de sair do baralho.
Vamos discutir na mídia o que interessa ao Brasil:
-pobreza, fome, geração de emprego e renda.
Vamos cobrar dos candidatos, COMO eles farão isso e esquecer os absurdos de Bolsonaro. Colocá-lo em evidência, é o desejo dele. Precisamos perceber.
Estamos em período ruim, com cerca de 13 milhões de desempregados, 29% há dois anos sem emprego. É disso que devemos cuidar na mídia em vez de dar espaço a Bolsonaro.
Vem aí mais recessão, em parte apoiada pelos economistas de alguns candidatos, que apregoam corte de gastos desnecessários. Há no Orçamento Geral da União, sem precisar precipitar mais despesas, dinheiro suficiente, se realocado, para fazer frente à extrema pobreza e à pobreza no Brasil, dando dignidade aos brasileiros.
Essa discussão segue encoberta, enquanto pessoas passam fome literalmente. O que é mais importante? Colocar Bolsonaro em destaque ou cuidar dos brasileiros vulneráveis?
Muita gente na mídia está aceitando gastar horas na facilidade de bater em Bolsonaro, semelhante a empurrar bêbado em ladeira, em vez de perscrutar nossos candidatos e saber como vamos sair desse encantamento da Idade Média instigado pelo presidente.
Os candidatos saem pela tangente, e seus “alter egos” se perdem em generalidades e bondades da boca para fora, ora tentando agradar o mercado financeiro e as elites empresariais, ora buscando fazer média com os mais pobres. Fantástico, o show de enrolação.
O que importa não são ideias, e sim como implantá-las. Vamos a elas, chega de Bolsonaro e seu Teatro Absurdo.
JOSÉ LUIZ PORTELLA ” SITE DO UOL” ( BRASIL)