A OMS (Organização Mundial da Saúde) aponta que a variante ômicron está levando o mundo a registrar um número inédito de contaminações pela covid-19, com um aumento de 71% em apenas uma semana e atingindo o recorde de 9,5 milhões de contaminações. Nas Américas, o aumento em apenas sete dias foi de 100%, contra 68% na Europa.
Mas, graças à vacinação, a agência identifica uma dissociação entre as taxas de transmissão e o número de mortes. Na semana que terminou no dia 2 de janeiro, o número de mortes foi de 41 mil, uma redução de 10% em comparação aos sete dias precedentes. Nas Américas, a redução de mortes foi de 18%, enquanto no Brasil a queda foi de 16%, para um total de 664 casos.
A OMS, com sede em Genebra, concedeu uma coletiva de imprensa nesta quinta-feira, em meio a índices recorde em países como França, EUA, Reino Unido, Itália, Portugal, Israel ou Turquia. Para a agência, os números vão continuar a subir nesta semana, já que, em apenas dois dias, 2,5 milhões de casos diários já foram registrados.
Na semana que terminou no dia 2 de janeiro, o maior número de casos foi registrado nos EUA (2,5 milhões), com um aumento de 92%. O Reino Unido vem em segundo lugar, com 1,1 milhão de casos, seguido pela França, com 1 milhão de novas contaminações e aumento de 117%. Em termos de regiões, a Europa continua a liderar, com 5,3 milhões de novos casos.
De acordo com a entidade, as evidências apontam que, onde a mutação chegar, ela dominará em questão de poucas semanas. Tedros Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, estimou que o mundo registrou o maior número de novos casos de transmissão na semana passada. E, segundo ele, o que se conhece é apenas uma parcela da realidade, já que os números são subestimados. Ele também destaca o atraso ao lidar com o acúmulo de testes e autotestes não registrados.
“O tsunami de casos é tão grande que estão sobrecarregando hospitais, que estão sendo inundados”, disse. Segundo ele, além de o vírus matar, essa lotação de hospitais está levando a um aumento no número de óbitos por outras doenças, já que pacientes não conseguem ser tratados.
Tedros ainda apela para que a variante ômicron não seja categorizada como sendo “suave”. “Mesmo que pareça ser menos severa, especialmente entre vacinados, ela não pode ser categorizada como suave”, declarou. “A variante está levando pessoas ao hospital e matando”, disse.
Ômicron não será a última variante
Mike Ryan, diretor de operações da OMS, acredita que é “prematuro” pensar que a variante ômicron é a última mutação do vírus. Para ele, o mundo não está fazendo o suficiente para impedir a transmissão da covid-19 e, com isso, as chances de novas mutações continuam.
“O vírus tem muita energia e bilhões de pessoas ainda não estão vacinadas. Isso é oportunidade para se espalhar. Mas não estamos fazendo o suficiente para evitar isso”, disse.
Maria van Kerkhove, diretora técnica, tampouco acredita que essa seja a última variante. “Não será a última. O vírus continua a se desenvolver”, declarou.
OMS aguarda informação de Sinovac sobre ômicron
A aposta da OMS para frear a onda e evitar mortes é ampliar e acelerar campanhas de vacinação. “Vacinas funcionam contra todas as variantes”, disse Maria.
A entidade, porém, admite que ainda aguarda para obter informações mais completas sobre o impacto da nova variante sobre as vacinas chinesas produzidas pela Sinopharm e Sinovac. A OMS considera que os dois imunizantes são “importantes” na resposta global e, portanto, uma avaliação deve ser realizada.
Mas o que mais preocupa a agência é que, diante da proliferação inédita do vírus, um número importante de países continua a ter baixas taxas de vacinação. Ao final de 2021, 92 países não tinham atingido a meta de imunizar 40% de suas populações e 30 deles apresentavam cobertura inferior a 10%.
De acordo com Tedros, no atual ritmo de distribuição de doses, 109 países não atingirão o objetivo de vacinar 70% de suas populações até julho.
Quando vai terminar?
Se em 2020 a OMS insistia que a pandemia poderia estar encerrada em 2022, esse prazo agora não é mais claro. Bruce Aylward, diretor de vacinas na OMS, insiste que o mundo “não precisa terminar 2022 vivendo ainda uma pandemia”.
Para Ryan, está “nas nossas mãos” o fim da pandemia. Mas isso vai exigir distribuir vacinas aos países mais pobres. “Se não conseguirmos distribuir vacinas, vamos estar falando da mesma coisa ao final de 2022, o que seria dramático”, disse.
Para ele, “é improvável que o vírus desapareça”. Sua meta é a de conseguir uma baixa taxa de transmissão e acabar com a fase aguda da crise. Isso, na prática, significaria a queda importante em números de mortes e dissociar a explosão de contaminações e óbitos.
Nessa lógica, Tedros acredita que a 1ª geração de vacinas não é perfeita para evitar a transmissão. Mas ela tem sido eficaz na redução de hospitalização e mortes.
Tedros ainda voltou a criticar a disparidade no acesso às vacinas. Segundo ele, enquanto alguns países já começam com a quarta dose a sua população, muitos países sequer contam com vacinas para todos seus médicos.
“Doses de reforço não vão terminar a pandemia”, alertou. Para a OMS, o surgimento de variantes e o fim da fase aguda da crise exigirão que as vacinas cheguem aos países mais pobres.
“A desigualdade é o maior fracasso de 2021. Desigualdade mata pessoas e empregos”, concluiu.
Ômicro não é gripe normal e “Brasileiros, não desistam”
A OMS ainda destinou uma mensagem aos brasileiros, depois que o número de novos casos voltou a subir. “A maior mensagem para todos os brasileiros é de não desistir. Estamos nessa juntos e vamos sair dessa juntos. Temos os instrumentos para superar e temos como reduzir a transmissão”, disse Maria van Kerkhove.
Ela, porém, admitiu que a ômicron “complicou a situação”. “Não é uma gripe normal. Pode ainda gerar efeitos grave em quem não foi vacinado, mais velhos e pessoas vulneráveis”, alertou.
Para Maria, o momento é ainda de cautela. “Decisões pessoais precisam ser tomadas”, disse. Segundo ela, pessoas precisam voltar a manter distância e usar máscaras adequadas. “É inútil usar máscaras abaixo do nariz”, afirmou. Ela também voltou a insistir no papel de ventilação e das quarentenas, ainda que em períodos mais curtos se houver teste em número suficiente.
JAMIL CHADE ” SITE DO UOL” ( GENEBRA / BRASIL)