COMO A POLÍTICA E A ECONOMIA PODEM DEFINIR OS RUMOS DO BRASIL EM 2022 ?

CHARGE DE AROEIRA

Há uma nuvem de incertezas que paira sobre o futuro do Brasil em 2022. Embora a pergunta feita no título desta matéria possa apresentar respostas distintas, tornando improvável determinar com absoluta certeza os rumos do país, há caminhos que já estão traçados e apontando para alguns cenários.

A retomada econômica do Brasil, por exemplo, é um dos temas que certamente farão parte das discussões para o ano que vem. As eleições, presidencial e estaduais, assim como a dicotomia entre Bolsonaro e Lula, dominarão a agenda dos brasileiros que anseiam pelo fim da crise social no país deflagrada pela chegada da covid-19, ainda em março de 2020.

Entre as incertezas, um consenso

Os indicativos das dificuldades que o Brasil enfrentará não são poucos. O PIB nacional caiu 0,1% no terceiro trimestre. O país também vive uma recessão técnica. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) projeta crescimento de 1,2% para a economia brasileira em 2022; e a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) diz que o PIB do país deve aumentar 1,4%.

É preciso lembrar, porém, que essas estimativas levam em conta a normalização das cadeias de abastecimento global. O problema, entretanto, é que a covid-19 insiste em não chegar ao fim, apresentando novas variantes e maiores problemas para os países que escolheram conter gastos públicos e não investir em seus parques industriais.

No campo da política, Fábio Vasconcellos, professor da ESPM, comenta que a vitória de Lula, líder nas pesquisas, ainda está longe de ser confirmada e dada como certa. Desta forma, qualquer prognóstico sobre o pleito de 2022 é premeditado, pois é preciso esperar o avanço de algumas candidaturas que podem “roubar” votos do presidente Bolsonaro, como Sergio Moro e João Dória.

Por mesma essa razão, isto é, a ausência de clareza quanto ao projeto político que assumirá o país, Juliana Inhasz, economista do Insper, afirma que ainda é impossível determinar se o Brasil crescerá 0,5% em 2022, como aponta o Boletim Focus, ou se terá uma expansão negativa.

“Isso pode ser explicado pelo atual estado da nossa economia. Os nossos fundamentos não apontam para o crescimento, pois temos problemas estruturais, e nessas eleições, muitos investidores estarão em um modo de espera”, comentou.

‘É a economia, estúpido’

A despeito do projeto político que sairá vencedor nas urnas em 2022, a economia tende a ser o balizador das discussões ao longo das campanhas presidenciais. A frase “É a economia, estúpido!”, do marqueteiro de Bill Clinton, James Carville, que virou case de marketing eleitoral, com toda certeza fará parte dos debates.

Neste sentido, as previsões de Juliana Inhasz não são agradáveis para os brasileiros. Ela acredita em “um crescimento muito baixo”, ou provavelmente negativo. “Essa projeção de 0,5% [do Boletim Focus] sinaliza apenas uma grande incerteza”, afirma em entrevista à agência de notícias Sputnik Brasil.

“Os nossos fundamentos não apontam para o crescimento, porque temos problemas estruturais, e temos um ano eleitoral que muitos investidores estarão em um modo de espera. Não está fora de cogitação uma redução do PIB. Além disso, a taxa de reprovação do governo eleva a desconfiança”, analisa.

Segundo ela, a inflação em 2022 ficará menor do que em 2021. “Imagino que voltará ao patamar de 4%, talvez 5%; muito motivada pela incerteza que ronda a economia. O dólar também deve ficar mais alto, assim como a taxa de cambio. A crise hídrica deve ficar para trás, o que deve aliviar a inflação”.

O aumento dos salários em 2022 deve ser um problema. “Apesar da inflação, as empresas não vão conseguir essa reposição monetária, então os ajustes estarão abaixo da média”, diz a economista.

Para ela, o reajuste salarial será inferior, e isso fará com que as pessoas reponham menos do poder de compra perdido nos ultimo anos. “Para o consumo, isso representa uma redução nas possibilidade de crescimento para o segmento”, conclui.

Só se fala naquilo…

Há uma razão, conforme aponta Fábio Vasconcellos, para que seja tão difícil determinar os rumos da economia brasileira. O vácuo de liderança deixado pelo presidente Jair Bolsonaro aglutinou partidos políticos nos mais variados espectros ideológicos. “A fragmentação no campo da direita é um problema para essa noção de polarização”, comenta, também em entrevista à Sputnik.

Isso quer dizer que a eleição de 2022 não terá o componente da dicotomia, da polarização, e o que veremos serão extensas alianças partidárias que não permitem predefinições sobre programas de governo. A participação de Geraldo Alckmin na chapa de Lula é, neste sentido, um recado ao mercado.

“O que pode acontecer é um candidato de centro-direita, se houver risco de Lula vencer no primeiro turno, esvaziar outras candidaturas para evitar a chegada de lula. Isso demonstra que existe ainda um eleitorado que não se identifica com o Lula e nem o PT, embora concorde com algumas noções de mundo partilhadas pelo Bolsonaro”, comenta.

A economia deverá ser o principal tema das eleições brasileiras tanto pela desigualdade social do país quanto pelo medo que setores da chamada nova classe média têm de voltarem à pobreza. Além disso, a pandemia atingiu o Brasil duramente, incluindo a segurança material dos brasileiros.


O mercado não esconde o seu medo

Juliana Inhasz explica que o ano eleitoral faz com que a economia entre “em um modo de execução muito diferente”. Para ela, “a verdade é que passaremos o ano inteiro esperando para ver quem será o presidente, e como ele conduzirá a economia. Passaremos o ano inteiro, principalmente empresários e investidores, aguardando uma definição sobre esta eleição”.

Embora esteja incerto quem ocupará o palácio da Alvorada em 2022, os questionamentos para o presidente que vier a ser eleito, diz Juliana Inhasz, serão os mesmos: “o próximo governo vai gastar mais do que esse que aí esta? Qual será a condução da política econômica, fiscal e monetária?”

“O cenário de incertezas em 2021 vai se refletir na redução da atratividade do Brasil para os investidores, tanto externos quanto internos. Esses investidores devem ponderar os riscos políticos, econômicos e fiscais que o país enfrentará”, diz a economista.

Federações partidárias, o que isso quer dizer?

As questões acerca do mercado financeiro levantadas por Juliana Inhasz, analisadas no âmbito da ciência política, precisam levar em consideração que, a partir de 2022, o Brasil terá um novo sistema político, formado pelas federações partidárias.

O instituto das federações partidárias foi regulamentado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em 14 de dezembro. A resolução determina que dois ou mais partidos com registro no TSE poderão reunir-se em federação, com abrangência nacional, sendo registrados conjuntamente pela Justiça Eleitoral.

As legendas que se unirem em uma federação deverão permanecer na nova instituição por, no mínimo, quatro anos. A agremiação que se desligar antes desse prazo não poderá ingressar em outra federação e, ainda, não poderá celebrar coligação nas duas eleições seguintes.

Na esquerda, PT e PSB discutem uma ampla aliança para facilitar a governança de Lula, caso ele seja eleito, dentro do Congresso. Na direita, o DEM articula com o Podemos a criação do União Brasil, no que pode vir a ser mais poderosa força político-partidária do país.

Fábio Vasconcellos explica como funciona a novidade. “Os partidos se movimentam na direção de federações porque as cláusulas de barreira impulsionaram essa discussão”, comenta, enfatizando em seguida que “as federações podem permitir que pequenos partidos superem as cláusulas”.

“A cláusula de barreira esse ano vai a 2%, e pode extinguir diversos partidos. As federações foram aprovadas para burlar as coligações partidárias. A federação, contudo, agrega outros elementos, e alguns indicativos interessantes, pois esses partidos terão que legislar juntos”, finaliza. (com agência Sputnik Brasil)

GILBERTO DE MENEZES CÔRTES ” JORNAL DO BRASIL” ( BRASIL)

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