Apesar das chuvas terem voltado a destruir o Sul da Bahia na última quinta (23), deixando, até agora, 18 mortos, 16 mil desabrigados e 58 cidades embaixo d’água, Jair Bolsonaro (PL) se manifestou sobre a tragédia apenas nesta segunda (27), com uma postagem burocrática no Facebook e no Twitter. O silêncio em meio às férias do presidente estava pegando mal.
Na postagem, listou algumas ações do governo federal na região e afirmou que os ministros João Roma (Cidadania) e Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional) estão por lá. Dessa forma, terceiriza, mais uma vez, a sua gestão. O que é compreensível, uma vez que ele não saberia o que fazer se coubesse a ele tomar decisões.
Claro que Jair não é um Messias capaz de andar por cima das águas, nem um Moisés a ponto de afastá-las. Mas a presença do líder do país no local de uma catástrofe, além de prestar solidariedade e demonstrar empatia com as vidas perdidas, ajuda a mobilizar recursos e energia.
Na primeira onda da catástrofe, há duas semanas, Bolsonaro preferiu participar de uma formatura de aspirantes da Marinha no Rio de Janeiro a visitar o Sul da Bahia e o Norte de Minas Gerais. Diante das críticas, sobrevoou a região e bizarramente usou a tragédia para atacar as medidas de isolamento social que salvaram vidas na pandemia. Ao invés de levar conforto, transformou a morte em mais um palanque eleitoral.
E não só isso. Durante sua visita a Itamaraju (BA), no dia 12, equipes de imprensa foram agredidas por seus seguranças e fãs diante de seus olhos e ele não fez nada.
Agora, mais uma vez, Jair preferiu entregar as responsabilidades a seus assistentes enquanto se preocupa com ações visando à sua reeleição e com suas férias. Deve chegar ainda nesta segunda em São Francisco do Sul, litoral de Santa Catarina, onde está prevista a sua passagem de ano.
Vale lembrar que essas viagens não saem de graça para nós. Ele e sua equipe de apoio custaram para nós cerca de R$ 1,8 milhão em hospedagem alimentação, passagens aéreas e gastos no cartão corporativo no Carnaval deste ano, na mesma São Francisco do Sul. E ele já tinha usado R$ 2,3 milhões dos cofres públicos para curtir o final do ano na mesma São Francisco do Sul e no Guarujá (SP). Um total de R$ 4,1 milhões.
O mais irônico disso tudo é que, em 23 de julho de 2019, ele brigava para aparecer no Sul da Bahia. Naquele dia, inaugurou o aeroporto de Vitória da Conquista após uma disputa sobre a paternidade da obra com o governador do Estado, Rui Costa (PT). Os recursos federais foram liberados durante as gestões Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB), mas surfou em cima.
Para o nosso azar, o presidente gosta é de um bom comício e festinha. Trabalhar, contudo, não é com ele não.
LEONARDO SUKAMOTO ” SITE DO UOL” ( BRASIL)