O leilão dos economistas é uma loucura.
Está chegando ao fim essa distorção de colocar a economia como centro de todas as políticas públicas, uma miragem que nasce com o Cruzado, se fortalece com o Real e passa a dominar o debate público desde então.
Na última década, os gênios do mercado e da mídia foram monocórdicos, pautando a discussão dos temas nacionais: só Lei do Teto, ajuste fiscal, reformas (sejam quais forem), metas de inflação, em uma inversão total da gestão da coisa pública.
Em qualquer empresa organizada, primeiro se definem os planos de crescimento. Depois entra o financeiro estimando o custo.
Agora, passou a onda. 4 anos de Michel Temer, 4 de Bolsonaro, já deu. Não tem teoria monetária que recoloque os economistas no centro do debate.
Por esses dias, o país ruindo, miséria disparando, Bolsonaro destruindo todas as políticas públicas, o BNDES sendo esvaziado e o economista Affonso Celso Pastore pontifica: a taxa de juros neutra subiu! E seus pares comentam, que sabedoria! Que conhecimento! É o novo Anhanguera! E ele é nomeado pela classe o guru econômico do Sérgio Moro.
É matéria prima para candidatos a Eça de Queiroz.
Assim como Rosângela Moro, foi a esposa de Pastore, Cristina Pinotti, quem montou o marketing do marido. No auge da Lava Jato, descobriu um bom mercado em seminários sobre os efeitos benéficos do combate à corrupção na Economia.
Em outras áreas, a disputa é intensa em cima de economistas de visibilidade midiática. João Dória avançou sobre Zeina Latif e Ana Carla Abrahão e, obviamente, sobre Henrique Meirelles, todos aprovados com distinção pela academia dos jornalistas econômicos de uma nota só.
O marido de Zeina, Marcos Lisboa, e o de Vescovi, Pérsio Arida, ainda estão aguardando para saber qual barco da 3a Via conseguirá se manter à tona.
Mas o furdunço não para aí. Há uma disputa insana também entre candidatos estaduais.
Por exemplo, o governador João Doria Jr deixou o governo para se lançar candidato à presidência da República. O candidato do governo é Rodrigo Garcia, vice-governador e também secretário de governo e, em outros tempos, ao lado de Gilberto Kassab, peça importante na sustentação política do governador Geraldo Alckmin.
O principal instrumento de campanha será uma sobra de R$ 50 bilhões no orçamento devido à alta da receita, provocada pela inflação, o congelamento do salário do funcionalismo e… e… absoluta falta de projetos. Por falta de projetos do gestor Dória, o dinheiro ficou sobrando e está sendo distribuído a prefeitos amigos.
Por outro lado, com exceção de Meirelles, o acomodatício, Dória conseguiu implodir a área econômica do seu governo. Levou para lá Mauro Ricardo, secretário da Fazenda de todos os governos tucanos, operador de José Serra desde a Zona Franca de Manaus.
Mauro assumiu com fama de cortador de custos.
Nem Mauro, que já tratou com os piores temperamentos tucanos – como José Serra -, resistiu. Pediu demissão. E Dória vai engordando seu maior passivo eleitoral, o temperamento antipático, autoritário.
Não é por outro motivo que Rodrigo está tratando de montar o seu staff e encontrar um jeito de não ser confundido com a grosseria de Doria
O leilão se prolonga para a Prefeitura de São Paulo, onde o Prefeito-não-me-recordo-o-nome pretende montar sua própria equipe, desfazendo-se da que herdou de Bruno Covas. E quem é o guru do Prefeito-não-me-recordo-o-nome? O ínclito Michel Temer.
Enquanto isto, os gestores de fundo montam uma ginástica curiosa em relação às eleições: tratam de manter viva a chama da terceira via, mas não porque acreditem nela. É para poder criar um gatilho contra as quedas continuadas da Bolsa e alta do dólar.
O mercado vive de expectativas de curto prazo. Se aprovar tal reforma, a bolsa sobe; se não aprovar, a bolsa cai. E embarcaram no jogo de expectativas criados por Guedes, apostando na alta da bolsa e na queda do dólar.
Levaram uma fubecada de dar gosto. E, agora, precisam criar uma expectativazinha, por mais pobrinha que seja, para ganhar algum respiro.
Tentaram a expectativa dos gurus de presidenciáveis, e não colou. Tentaram a expectativa dos presidenciáveis, e nenhum se firmou. Agora, criam o mercado futuro de expectativas: se, lá na frente, dom Sebastião descer dos céus montado em um alazão, alguma terceira via irá firmar, reduzindo os prejuízos com a Bolsa e com o dólar.
E toca a acompanhar economistas desfilando nas passarelas da mídia, como aquelas misses de sorriso tímido dizendo-se leitoras do Pequeno Príncipe.
LUIS NASSIF ” JORNAL GGN” ( BRASIL)