CHARGE DE AMARILDO
Local de alguns dos principais continentes exportadores de alimentos, a América Latina registra uma taxa de insegurança alimentar acima da média mundial. Dados divulgados pelas agências da ONU, entre elas a FAO e OMS, revelam essa realidade já atinge 267 milhões de pessoas.
O salto representa, na prática, uma volta à situação que existia na região há duas décadas e, em apenas em um ano entre 2019 e 2020, 60 milhões de pessoas extras não tiveram acesso físico ou econômico aos alimentos na quantidade e qualidade necessárias para sua saúde e desenvolvimento.
Só na América do Sul, a insegurança alimentar passou a atingir 92 milhões de pessoas extras, entre 2014 e 2020. Para as agências, essa classificação se refere às pessoas que tinham ficado sem alimentos e, na pior das hipóteses, tinham ficado um dia ou mais sem comer.
Só no caso brasileiro, são 49,6 milhões de pessoas nessa situação, 24% da população. Em 2014, esse número era de 37,5 milhões. Em recente entrevista, o economista chefe da FAO, Maximo Torrero, revelou que um dos problemas no país foi o fato de que o Auxílio Emergencial criado pelo governo não atingiu o grupo mais vulnerável.
Os dados são considerados como um alerta mundial. A região havia sido celebrada internacionalmente por ter conseguido reduzir a fome. Mas hoje corre o sério risco de não mais atingir as metas estipuladas em 2015 pela ONU de acabar com a desnutrição até 2030.
Na América Latina inteira, 40,9% da população vive uma situação de insegurança alimentar moderada ou severa, uma taxa bem acima de 30% da média mundial. Entre 2014 e 2020, essa taxa subiu em 16 pontos percentuais e, se a pandemia agravou a crise, as agências da ONU alertam que a região já dava sinais preocupantes de aumento da fome antes mesmo da covid-19.
Ainda assim, mais da metade do aumento da fome na região coincidiu com a pandemia. De fato, a subida da taxa entre 2019 e 2020 no continente foi a maior entre todas as regiões.
De acordo com as agências, as estatísticas “indicam um retrocesso na luta contra a fome”. “Voltamos aos níveis de 15 anos atrás e estamos perdendo a batalha contra todas as formas de desnutrição”, alertam as instituições.
Na América do Sul, em 2020, a prevalência de insegurança alimentar moderada ou grave era de 39,2%. Entre 2014 e 2020, houve um aumento significativo de 20,1 pontos percentuais, passando de 18,7% para 39,2% em seis anos, duplicando assim a prevalência de pessoas nesta situação.
A variação entre 2019 e 2020 foi de 9,1 pontos percentuais e a região somou 168,7 milhões de pessoas afetadas por uma insegurança alimentar moderada ou grave.
Entre 2014 e 2020, houve um aumento de 121% no número de pessoas que viviam com insegurança alimentar moderada ou grave, o que representa um aumento de 92 milhões de pessoas em seis anos. Só no último ano, o aumento foi de 40 milhões de pessoas.
JAMIL CHADE ” SITE DO UOL” ( GENEBRA / BRASIL)