O advento da internet e a adesão das pessoas às redes sociais colocou o negócio dos jornais em cheque. A crise se inicia nos anos 90 e persiste até os nossos dias
.Não é o primeiro desafio dos chamados jornalões na luta pela sobrevivencia.
Em seus primórdios, os impressos da mídia corporativa tiveram que enfrentar o surgimento do rádio e da televisão.
No primeiro momento, o rádio não passava de um difusor musical, depois com o advento das novelas, programas de auditório, séries policiais, programas humorísticos e noticiosos radiofônicos, consolidou-se como uma das grandes preferências do público.
O “ Repórter Esso “, como dizia seu slogan, “ o primeiro a dar as últimas e testemunha da história” foi o mais importante noticioso do rádio e da televisão brasileira.
Antes da estreia oficial, de forma experimental, o programa foi ao ar pela Rádio Farroupilha de Porto Alegre.
A primeira edição foi ao ar em 28 agosto de 1941 pela Rádio Nacional do Rio de Janeiro, iniciando a cobertura da Segunda Guerra Mundial e a última em 31 de dezembro de 1968, na voz de Roberto Figueiredo, que em prantos disse boa noite.
Heron Domingues e Luis Jatobá, seus locutores, ficaram famosos nacionalmente.
Seu conteúdo eram notícias do Brasil e do mundo, dos famosos, figuras públicas, feitos científicos, astros e estrelas do cinema e o modo de vida dos Estados Unidos. As notícias eram fornecidas pela agência noticiosa americana United Press. O DNA estrangeiro dava alta credibilidade, mas não deixavam de ter um certo componente ideológico.
Na televisão, o “Repórter Esso” começou em 10 de abril de 1952, na Tv Tupi do Rio e de São Paulo, nas vozes de Gontijo Teodoro, no Rio, e Kalil Filho, em São Paulo. Seu fim na tv ocorreu em 31 de dezembro de 1970.
A televisão iniciou sua trajetória contratando profissionais do rádio, do teatro de revista e do cinema, mas desde o seu nascimento as notícias tiveram espaço, por influência de seu fundador Assis Chateaubriand , antes de ser dono de radio, jornal e televisão, que formavam os Diários Associados, praticava o jornalismo.
A conjuntura para a mídia escrita corporativa enfrentar a internet e as redes não poderia ser pior. Os jornais, como empresas, estão fragilizados.
Enfrentando queda nas receitas e migração dos leitores para o universo da internet, os administradores dos jornais tiram da cartola métodos que sempre souberam manejar com maestria: promover os famosos ” passaralhos ” em baciada , que consiste em substituir os profissionais mais tarimbados e melhores remunerados, pelos jovens aspirantes à jornalistas, com múltiplas tarefas e salários menores.
A segunda solução dos jornalões para sobreviver: colocar na internet o conteúdo dos jornais impressos, procedimento que não adiou a crise que estão enfrentando.
Coube à “Folha de São Paulo” mostrar o único caminho nesse novo universo online: criar o site Uol , desenvolvido por Caio Túlio Costa, que teve início em 28 de abril de 1996, com sucesso até nossos dias com noticiário e colunistas plurais.
Ao reagir à nova situação, os jornais das famílias Marinho, Frias e Mesquita só deixaram de lado um pequeno detalhe: quem agora dá a notícia em primeira mão são as rádios, a televisão e a internet.
Os leitores de notícias se questionam: por que devo comprar jornal na banca , se já tomei conhecimento do que aconteceu pela internet, rádio e tv ?
Os jornalistas considerados ultrapassados ou jurássicos, que foram afastados das redações pelos “passaralhos”, criaram blogs e sites independentes no universo online, e passaram a antecipar com êxito o que a mídia impressa corporativa não faz.
Profissionais experientes, com fontes próprias e diversificadas, sempre em busca do contraditório, os blogs e sites passam a realizar reportagens investigativas que os jornais abandonaram, por serem reféns das assessorias de imprensa, dos interesses do Deus mercado e por transformar o “pensamento único” como a versão dos fatos..
Eles serão o tema do próximo artigo deste blog.
Restou um novo caminho para a mídia impressa corporativa, mas eles não souberam ou puderam trilhar: interpretar e contextualizar a notícia que a internet, o rádio e a tv tinham difundido na véspera.
Mas como fazê-lo, se na primeira fuga dos anunciantes, os profissionais tarimbados foram afastados em levas de 50 a 100 por vez, e a mão de obra agora incorporada, em sua maioria oriunda da área acadêmica, não frequenta a rua, vive pendurada no celular, só acredita no que a internet difunde e sempre acessa as mesmas fontes?
O panorama atual é esse: os jornais repetindo no dia seguinte o que todos já sabem na véspera.
Hora da verdade: queda nas vendas, enxugamento das redações e desaparecimento de muitos títulos.
O mais recente: o jornal popular “Agora”, da família Frias, sucessor da “ Folha da Tarde”, destinado ao consumidor de menor poder aquisitivo, mais vendido em bancas do que a própria “ Folha de S.Paulo”, inspirado nos jornais ingleses do conglomerado da família de Rupert Murdoch, que deixa de circular a partir de 29 de novembro.
No panorama da mídia impressa corporativa, o que dá para ler com credibilidade na “Folha de S.Paulo”, no meio de centenas de palpiteiros de renome que fazem de suas opiniões o nirvana do noticiário, são os colunistas Janio de Freitas, Conrado Hübner Mendes, Mônica Bergamo, Rui Castro, Gregório Duvivier, José Simão, Delfim Netto, Drauzio Varella, Zeca Camargo, Josimar Melo, Átila Itamarino, Mário Cesar Conti, Cristina Serra, Patrícia Campos Mello, Rinaldo Azevedo ,Guilherme Boulos, Muniz Sodré , Álvaro Costa e Silva, as charges de Laerte Coutinho, Benett, Jaguar e Montanaro, tiras de quadrinhos e outros jornalistas especializados como Paulo Vinícius Coelho ( PVC), Tostão, Mauricio Sycer, Cristina Padiglione e Juca Kfouri.
No jornal dos Mesquita: Sérgio Augusto, Ignácio de Loyola Brandão, Milton Hatoum, Gilberto Amendola, Marcelo Godoy e Rolf Kuntz são as leituras que valem à pena.
Em “ O Globo”, o jornal dos Marinho, o mais bem editado e escrito do pais, reportagens especiais com assinatura de Chico Otávio, o Segundo Caderno, o noticiário e os colunistas esportivos, a revista dominical “Ela”, a cobertura de ciência, saúde e tecnologia, os textos de Joaquim Ferreira dos Santos, Leo Aversa, Zuenir Ventura, Roberto da Matta, Pedro Doria, José Eduardo Agualusa,Flávia Barbosa, Janaína Figueredo, Elio Gaspari, Dorrit Harazim, Flávia Oliveira, Cacá Diegues, Artur Xexéo ( que há pouco nos deixou), Nelson Motta, Luis Fernando Verissimo ( no momento se restabelecendo de um problema de saúde), as colunas de Lauro Jardim e de Bernardo de Mello Franco merecem destaque.
No jornal “ Valor Econômico”, mesmo sendo de propriedade da família Marinho, são relevantes as análises de Maria Cristina Fernandes, Pedro Cafardo, a edição da revista semanal em papel jornal “ Eu & Fim de Semana”, onde podemos desfrutar da coluna do sociólogo José de Souza Martins e do cientista político Fernando Abrucio, análises, reportagens e excelentes entrevistas, além do noticiário nacional e internacional, que tornam a publicação de economia e negócios o melhor jornal brasileiro.
PS: sétimo artigo sobre a imprensa brasileira.
Patricio Bentes “ ALLTV” ( Brasil)
Patricio Bentes é jornalista e sociólogo