A notícia de que Deltan Dallagnol pediu exoneração do cargo de Procurador do Ministério Público Federal e pretende entrar para a política encerra o capítulo de uma história que há anos vem sendo traçada e denunciada.
Por mais que a Operação Lava Jato tenha seus méritos, principalmente o de desnudar um grandioso esquema de corrupção e de punir, inclusive com penas de prisão, algumas pessoas que de fato precisavam ser punidas, seus métodos ilegais e, principalmente, seu objetivo final agora ficam por demais escancarados. Nunca, jamais, em hipótese alguma a Lava Jato foi apenas sobre o essencial combate à corrupção em nosso país.
A imagem estrategicamente muito bem trabalhada feita pelos Procuradores e pelo pretenso paladino – mor da justiça, o ex-juiz e ex-ministro Sergio Moro, cai por terra, fica desmoralizada e eternamente manchará a justiça de nosso país diante do que agora presenciamos.
Moro, que desde os primeiros momentos em que assumiu a Lava Jato se mostrou um juiz suspeito, já que parcial, trilhou dia após dia, com atos ilegais e conchavos, seu caminho, até o momento de lançar sua candidatura à presidência da República. Dallagnol, com sua fala de ares messiânicos, falsamente preocupado somente com o combate à corrupção, mostra agora a que veio com sua provável candidatura.
A Lava Jato, para Moro, foi sempre um grande projeto pessoal, e para isso às favas a Constituição, os direitos e garantias fundamentais, a liberdade e a inocência. Tudo vale para atingir aquilo que realmente sempre almejou: o poder.
Para Deltan, agora o mesmo caminho será trilhado. Em um vídeo publicado em suas redes sociais, tentou justificar sua saída do MPF. O mesmo ar messiânico, a religiosidade, o discurso vazio. Segundo ele, a opção de deixar o cargo se deu em razão da fragilização dos instrumentos de combate à corrupção e dos incentivos à impunidade. Em um país com a terceira maior população carcerária do mundo e em que Tribunais Superiores julgam casos de pessoas famintas que são presas por furtar comida, falar em impunidade parece um contrassenso. No mais, se o poder público tem criado mecanismos para impedir a investigação de políticos, por exemplo, isso se deve ao fato de o atual Presidente da República, que Deltan é diretamente responsável por ajudar a eleger, estar desestruturando a Polícia Federal e controlando setores da Procuradoria-Geral da República.
Dallagnol sai do Ministério Público pela porta de trás, falando em voto consciente e pedindo para o público seguir seus próximos passos nas redes sociais. Um candidato nato, atuante em um processo que, além ter prendido ilegalmente pessoas, condenado inocentes e quebrado grandes empresas, servirá agora como sua plataforma eleitoral.
Finalizo expressando minha solidariedade à imensa maioria dos competentes e vocacionados Procuradores e Procuradoras do MPF e dos Juízes Federais, que, independentemente da minha discordância pontual ou do acerto ou erro de suas decisões, pautam suas condutas nas investigações e nos processos sob o prisma da legalidade. A esses, como cidadão, minha homenagem.
A Justiça é muito maior do que nomes, rostos, vaidades e projetos.
AUGUSTO DE ARRUDA BOTELHO ” SITE DO UOL” ( BRASIL)