O ingresso na política partidária se dá justo na agremiação que, no passado bem distante, lançou Jânio Quadros e a marcha da vassourinha anticorrupção à Presidência. Mas hoje, para fazer Moro rebolar na eleição, o Podemos abriga políticos envolvidos em suspeitas de corrupção. Isso sem falar do alinhamento quase total à agenda bolsonarista no Congresso. O GGN listou abaixo 8 perguntas e respostas para você ficar por dentro da movimentação de Moro com vistas à eleição de 2022.
1 – Quando Sergio Moro assina a carta de filiação ao Podemos?
A ficha de filiação de Moro ao Podemos será abonada em Brasília no dia 10 de novembro de 2021. O ex-juiz já encerrou seu contrato com a consultoria norte-americana Alvarez & Marshall, onde trabalhava desde que pulou do barco de Bolsonaro. O partido planeja transmissão ao vivo do evento pelas redes sociais a partir das 10h. Há expectativa de que a esposa, Rosangela Moro, também seja filiada.
2 – Quem convidou Sergio Moro para se filiar ao Podemos?
O cortejo ao ex-juiz teria sido feito especialmente por duas figuras: o senador Álvaro Dias, do Paraná, e a deputada federal Renata Abreu, de São Paulo. Renata é sobrinha de um dos fundadores do Partido Trabalhista Nacional, que substituiu o antigo PTN, partido de Jânio Quadros. Mas a família Moro também tem relações com Flavio Arns, hoje senador.
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3 – Qual cargo Sergio Moro vai disputar em 2022?
Moro tem alguns caminhos: poderá disputar a Presidência da República pelo Podemos, tentando romper a polarização entre Lula e Bolsonaro, ou ser candidato ao Senado. Não se sabe ainda se a vaga no Senado seria a destinada ao estado do Paraná – já que Álvaro Dias, padrinho de Moro, pode tentar a reeleição – ou São Paulo.
4 – Sergio Moro tem apoio de outros partidos para ser a terceira via?
Se for o candidato do Podemos à Presidência da República, Moro pode, sim, arregimentar apoio de outros partidos. Uma das opções, inclusive, será discutida nesta semana. É que Moro vai vai se encontrar com o vice-presidente do PSL, deputado Júnior Bozzella (SP). Da fusão do PSL com o DEM nascerá o União Brasil. A nova legenda já chega dividida na disputa presidencial: uma parte quer dar apoio à candidatura presidencial de Moro, mas outra parcela prefere apoiar a reeleição de Bolsonaro, enquanto uma terceira corrente defende candidatura própria do DEM, que poderia ser com Luiz Henrique Mandetta, ex-ministro da Saúde, ou José Luiz Datena (que está de malas prontas para o PSD de Gilberto Kassab). Datena, contudo, vem dizendo que pretende disputar o Senado por São Paulo, a reboque da possível chapa Geraldo Alckmin (que se filiará ao PSD) e Marcio França (PSB) para o governo do Estado.
5 – É verdade que, no passado, Sergio Moro negou um dia entrar para a política?
Sim. Em 2017, Moro disse à revista Veja que entrar para a política partidária “poderia colocar em dúvida a integridade do trabalho que eu fiz até o presente momento” na Lava Jato. Em entrevista ao Estadão, ele também afirmou que “jamais” entraria para a política com o intuito de disputar cargos eletivos.
6 – É verdade que Sergio Moro entrará em um partido com casos de corrupção?
Sim. Sergio Moro provavelmente terá de responder pelos casos de corrupção que envolvem seus futuros correligionários. O Estadão já levantou que há investigados no comando do partido Podemos e com mandato. Renata Abreu, por exemplo, é alvo de inquérito na Justiça Eleitoral por suposto uso de candidatura laranja em 2018. Ela, que é presidente nacional do Podemos, nega qualquer ilícito. Já o secretário-geral do partido, Luiz Claudio Souza França, foi filmado com R$ 38 mil em espécie recebidos das mãos do ex-secretário de Relações Institucionais do DF, Durval Barbosa, na Operação Caixa de Pandora, também conhecida como mensalão do DEM.
7 – O partido de Sergio Moro apoia o governo Bolsonaro?
Com Moro chegando ao partido, o Podemos já lançou o slogan “nem esquerda, nem direita, para a frente”, numa tentativa de apresentar-se como alternativa a Lula e Bolsonaro. Mas os números não mentem: a bancada do partido no Congresso vota alinhada ao governo do extremista de Direita. Números do Congresso em Foco apontam que os deputados do Podemos votaram a favor das matérias de interesse de Bolsonaro em 81% dos casos. No Senado, o governismo se deu em 78% das votações. Em sua defesa, o Podemos pode lembrar que votou contra a proposta de tirar o Coaf de Moro, então ministro da Justiça, e de ampliar o fundo eleitoral para R$ 5,7 bilhões em 2022.
8 – Como Sergio Moro aparece nas pesquisas?
Faltando um ano para a eleição de 2022, o desempenho de Sergio Moro nas pesquisas é insuficiente para levá-lo ao segundo turno. Em setembro de 2021, ele apareceu em quarto lugar (5% das intenções de voto) na pesquisa Ipec, atrás de Lula (45%), Bolsonaro (22%) e Ciro Gomes (6%).
Pesquisa Ipespe divulgada nesta quarta-feira, 3 de novembro de 2021, mostra Moro em quarto lugar de novo: Lula teria 41% das intenções de voto, contra 25% de Bolsonaro. Ciro (9%), Moro (8%) e Mandetta (3%). Na disputa entre Lula e Moro em eventual segundo turno, o petista venceria por 52% contra 34% do seu antigo algoz.
9 – Quais serão as pautas de Sergio Moro?
Apesar de ter tido a imagem arranhada pela Vaza Jato e sofrido derrotas em série no Supremo Tribunal Federal – que o declarou suspeito e anulou os processos contra Lula que tramitavam em Curitiba – Moro deve usar o discurso anticorrupção em sua empreitada ao Palácio do Planalto ou ao Senado. Seus artigos para a revista CrusoÉ indicam outros temas que também devem ser abordados pelo ex-juiz: a crise entre os Poderes, que aprofunda o cenário de imprevisibilidade institucional e respinga na economia, que, por sua vez, por andar mal das pernas, inviabilizada o planejamento de novas e melhores políticas sociais, que devem ser “inclusivas”. Moro defende acabar com o clientelismo e burocracias para “honrar os direitos constitucionais de todos: educação, saúde, segurança, justiça, seguridade social, emprego ou renda mínima para existência digna e, claro, liberdade e ausência de discriminação.”
10 – Sergio Moro atrairá outros nomes da Lava Jato para a eleição?
Ainda não há confirmação de outros nomes envolvidos na Lava Jato tentando ingressar em partidos com vistas à eleição de 2022. Embora, no auge da Lava Jato, Deltan Dallagnol tenha conversado com seus colegas sobre uma candidatura ao Senado, o procurador mergulhou em um ocaso após a Vaza Jato e disse recentemente em entrevista que é sondado por partidos, mas não fechou com nenhum. Ex-decano da Lava Jato, o ex-procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, entusiasta de uma candidatura de terceira via, disse ao Estadão que não descarta a hipótese de se candidatar um dia.
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