L´´ÍDERES MUNDIAIS DÃO AS COSTAS A BOLSONARO, QUE DESCONTA NA IMPRENSA

CHARGE DE AROEIRA

A agressão aos jornalistas pelos seguranças e policiais da Itália foi uma tentativa do capitão de se vingar daqueles que testemunharam e contaram ao mundo sobre o seu fracasso. Nada pior para aquele que quer se esconder, e fazer prevalecer uma versão mentirosa da história, que haja testemunho dos fatos. A saída para o capitão e os seus é a de tentar calar, de intimidar as testemunhas, a imprensa.

Era melancolia disfarçada a conversa mole do capitão com garçons e seguranças no coquetel em que estavam os principais líderes do mundo e perto dos quais não conseguiu chegar – tanto por falta de discurso e competência quanto por absoluta ausência de traquejo social. Treinamento, aliás, que poderia exercitar e menosprezar as dificuldades da diplomacia brasileira em inclui-lo nas conversas relevantes, acontecidas entre os mandatários presentes na conferência do G-20.

O capitão ficou fora da festa.

Assistiu de longe, como a criança olhando pela vidraça as comemorações na casa do vizinho. A cena melancólica, quase pungente (porque representando um país) nos remete ao aprendizado oferecido pela ciência – sim, ela ensina, demonstra e pontua, como determinados gatilhos atuam para desencadear reações emocionais nos indivíduos e, desta maneira, contagiam o entorno da pessoa.

O grande pesquisador da fisiologia e da linguagem das emoções, o psicólogo norte-americano Paul Ekman – popularizado pela série de televisão “Lie to me” (Minta para mim), inspirada no seu trabalho, e pelo filme Divertidamente, que ganhou um Oscar de melhor animação em 2016 – identifica, entre as sete emoções básicas, a raiva e a tristeza.

A expressão desses sentimentos, por meio das expressões emocionais, expressões faciais e movimentos do corpo, permite enxergar como a pessoa está respondendo a estímulos internos, de memória, por exemplo, e externos, sensoriais, de escuta, fala, toque, olfato, e a maneira como responde a eles.

A ausência de controle emocional, ou seja, respostas impulsivas, desmedidas ou fora de contexto, geralmente acontecem quando a pessoa tem pouca ou nenhuma consciência dos próprios sentimentos, atuando como um míssil teleguiado, disparado por uma autoridade com vontade própria. Essa autoridade podem ser experiências ruins mal elaboradas e não superadas, estabelecendo modelos de comportamento agressivos, de ansiedade, entre outros.

A tristeza, segundo Ekman, tem como gatilho principal o sentimento de perda. Entre as perdas universalmente reconhecidas está a de não ser convidado para uma festa para a qual todas as pessoas da sua posição o foram.

O que assistimos no coquetel dos participantes do G-20 foi a exclusão – na festa, o que o capitão viu foram os chefes de Estado pelas costas. As rodinhas dos chefes de Estado fechadas em animadas conversas, e o capitão de longe, de fora. A sua expressão, mal disfarçada com riso travado, era de tristeza, pela falta de pertencimento, quando seria o natural que fosse um dos atores na cena.

Por mais que a retórica da autoexclusão tente mostrar que não fazer parte é uma escolha política, prevalece, sem dúvida, o fato que todos estavam de costas para ele. Apenas os garçons e seguranças, por dever de ofício, lhe fizeram companhia.

A tristeza, quando não reconhecida por aquele que a sente, pode se expressar na raiva. E foi o que se viu em seguida. A agressão à imprensa, testemunha do fracasso, da condição de pária político e social. O testemunho da desimportância do indivíduo que tem o mandato de uma das nações mais importantes do mundo, em especial quando se trata do debate ambiental, escancarado na cobertura jornalística.

Na conversa acontecida no primeiro dia da cúpula, única registrada com um chefe de Estado, presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, o capitão tentou impingir a sua narrativa, porém mais uma vez a imprensa fez a checagem. E as suas histórias foram desmentidas.

A tentativa de fazer parte de alguma coisa levou a capitão para perto da sua origem familiar. Vai à pequena Anguillara Veneta, terra de seu bisavô. Nem aí teve sossego. Ao ignorar em ações e teses a COP-26, o capitão foi alvo de manifestantes contrários a uma homenagem a ele naquela cidade. Ali mais que ignorado, foi repudiado.

Não à toa, o capitão quer se livrar dos mensageiros – a imprensa – para fazer prevalecer as suas versões. E, quem sabe, ser convidado para alguma festa em que não seja ele o patrocinador.

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