Bolsonaro pode ter sido o único governante a circular pelos salões e corredores da reunião do G-20 em Roma com a companhia de um ajudante de ordens fardado e com todos os adereços militares a que tem direito.
Deve ter sido o único que, em conversas com colegas, exaltou o fato de ter formado um governo militar. Bolsonaro disse em conversa com o turco Recep Erdogan que é protegido por generais. Era um genocida exibindo-se para um déspota.
Em conversa com Angela Merkel, disse que não é tão mau como a imprensa afirma. Bolsonaro foi a Roma para se defender, mas acabou sendo exposto como um homem assustado.
Foi a Roma para fugir dos líderes que estão em Roma. A cena patética em que anda sozinho pelo salão e conversa com assessores, um segurança, um tradutor e com os garçons, e não com outros chefes de governo e de Estado, é a imagem que se repete.
Bolsonaro prefere conversar com os garçons porque não sabe o que dizer numa roda de conversa com líderes mundiais.
Na hora do aperto, ele escapa e come ou bebe alguma coisa, como fez em Nova York. É preciso fazer algo, e comer é a saída, para disfarçar sua condição de penetra.
Todos acharam as suas turmas em Roma. O presidente da Argentina, Alberto Fernández, participava de uma roda, enquanto Bolsonaro procurava a proteção de quem servia bebidas e canapés num canto.
Poderia ter tentado chegar perto do grupo onde estava Erdogan, que talvez o protegesse. Sem ter o que dizer aos garçons, tentou ser engraçado sobre a vitória do Brasil contra a Itália na Copa de 70.
Bolsonaro é um tiozão que tenta fazer piadinhas com um jogo que ocorreu há 51 anos. Sua estratégia é a de buscar sempre o refúgio de uma bobagem, para que o tempo passe e ele fuja da possibilidade de uma conversa séria.
Juntando todos os medos que sente, esse de não ter não lastro para uma troca de ideias é apenas um deles. Bolsonaro exalta seu governo de militares e mostra ao mundo que anda sob a proteção de um ajudante de ordens fardado porque tem medo.
Tem medo da exposição das suas platitudes, tem medo de falar e ouvir, por não dominar nada do que os outros falam, e tem medo de ser flagrado por um colega do G20 cometendo uma gafe.
Bolsonaro fugiu das rodas de conversa em Roma porque temia ser filmado dizendo uma besteira para o mundo todo. Escondeu-se por ser incapaz de pensar.
Lula falava com todos eles, com a ajuda de tradutores, e se entendia com Obama, com Merkel, com Putin. Bolsonaro é um problema para os tradutores.
Fugiu da foto de líderes na Fontana di Trevi por temer ficar ao lado de alguém que o provocasse sobre o que ele não domina.
Bolsonaro tem medo sempre que sai do conforto do cercado do Alvorada, do círculo de bajuladores e das motociatas. São temores acionados pelas suas ignorâncias.
É por medo das gafes que não irá à Conferência das Nações Unidas para a Mudança do Clima em Glasgow. Não é porque possa ser exposto a críticas, mas porque teme pagar micos.
A situação de Bolsonaro é a da tartaruga que subiu na cerca e não sabe nem mesmo pedir para que a tirem dali. Ele tem medo de ser exposto a constrangimentos pessoais tanto quanto teme que sua vida fique complicada no curto prazo.
Bolsonaro teme pelos filhos, pelas facções formadas em torno dos filhos e pelo futuro dos cúmplices dos blefes do golpe.
Teme que o procurador-geral perca o controle dos indiciamentos pedidos pela CPI, teme a debandada do centrão, a infidelidade dos militares e o que Alexandre de Moraes ainda não fez mas é capaz de fazer.
Poucas pessoas, estando ou não em cargos públicos, sentem tanto medo hoje no Brasil quanto Bolsonaro.
MOISÉS MENDES ” BLOG BRASIL 247″ ( BRASIL)