A 427 DIAS DO FIM DO MANDATO, BOLSONARO ABANDONA O GOVERNO E SÓ FAZ CAMPANHA

CHARGE DE MIGUEL PAIVA

De passagem por Brasília, entre uma e outra viagem da campanha reeleitoral pelo país, Bolsonaro voltou a despachar hoje durante uma hora no Palácio do Planalto.

A agenda presidencial previa para esta quinta-feira apenas dois compromissos, de 30 minutos cada um, como informa meu amigo Ancelmo Goes, o sempre atento colunista do Globo.

O primeiro, com o deputado federal Marcos Pereira, do Republicanos _, não por acaso, o partido da Igreja Universal pelo Reino de Deus, do bispo Edir Macedo.

Depois, ele receberia, como de costume, o subchefe para Assuntos Jurídicos da Secretaria-Geral, Pedro Cesar Sousa, que é quem leva as pastas com os despachos para o presidente assinar.

Fora disso, ele só participará de uma cerimônia pelo Dia do Servidor Público. E encerrará o expediente com a tradicional live das quintas-feiras, direto do Palácio da Alvorada. Na última, que deu o que falar, associou as vacinas anti-Covid à Aids e o vídeo acabou retirado do ar nas várias plataformas. No Youtube, Bolsonaro foi suspenso por uma semana, pela primeira vez.

Já faz algum tempo que o presidente abandonou o governo, que na verdade não chegou a começar, para se dedicar prioritariamente à sua campanha pela reeleição, em 2022, faltando ainda longos 427 dias para acabar seu mandato.

Bolsonaro procura evitar as idas ao Palácio do Planalto, onde só se encontra problemas para resolver. Eu sei como é. Só aguentei trabalahr lá por dois anosTrabalhei lá dois anos, quando a situação do país era bem mais tranquila do que agora.

Por isso, o presidente prefere mil vezes subir e descer de aviões e helicópteros da FAB, para encontrar plateias previamente selecionadas, gritando “Mito!” por onde passa.

Esta semana, foi muito emblemática sobre a atividade presidencial, bem longe de sua mesa de trabalho.

Desta vez, Bolsonaro dedicou-se à região Norte, a encontros com evangélicos, retirantes venezuelanos e garimpeiros clandestinos, e a conceder várias entrevistas a emissoras amigas.

Na terça-feira, logo após a chegada a Roraima, fez um vídeo no acampamento de venezuelanos em Boa Vista, para mostrar a miséria em que vivem aqueles refugiados famintos, acolhidos pelo Brasil, e aproveitou para atacar o adversário Lula e o presidente Nicolas Maduro, para lembrar o perigo que é a esquerda voltar a governar o Brasil, como indicam as pesquisas, como se não governasse um país onde 19 milhões de pessoas estão passando fome e quase 14 milhões estão desempregadas. Mas disso ele não falou.

No mesmo dia, ainda encontrou tempo para visitar uma região de garimpo ilegal dentro da Terra Indígena Raposa Serra do Sol ,em Uiramutã, próximo à fronteira com a Venezuela, onde voltou a defender a legalização da atividade garimpeira que avança impávida sobre a floresta, sob as bênçãos oficiais. .

O Conselho Indígena de Roraima (CIR) criticou duramente a presença de Bolsonaro, ao lembrar que a exploração ilegal de ouro começou ali há cerca de dois anos, em meio a uma invasão generalizada de garimpeiros, incentivados pelas promessas de regularização feitas pelo presidente, como informa a Folha.

“Há uma desestruturação social das comunidades indígenas porque jovens estão deixando de trabalhar nas lavouras das aldeias. De maneira mais ampla, lideranças relatam que o garimpo ilegal na região das serras tem agravado o uso abusivo de álcool, cujo consumo é proibido em terras indígenas, e de drogas ilícitas, como a maconha”, diz o documento do CIR.

De Roraima, Bolsonaro voou para Manaus, no Amazonas. Lá o seu principal compromisso foi participar da 1ª Consagração Pública de Pastores Evangélicos, onde fez um discurso.

O resto do tempo ele passou dando entrevistas por vídeo para a TV Jovem Pan News, a nova emissora bolsonarista inaugurada na quarta-feira, onde aproveitou para se queixar do Tribunal Superior Eleitoral.

“Olha os problemas que eu enfrento, olha o julgamento no TSE de ontem. A que ponto chegou o TSE? Estão atrás de mim ainda achando que eu cometi fake news durante a campanha, queriam cassar a chapa”.

Em seguida, mirou no relatório final da CPI da Covid aprovado no dia anterior, que o acusou de crimes contra a humanidade, entre outros.

“Quem tem um pouco de juízo sabe que foi uma palhaçada aqui lá. Foi a CPI do Renan. Para fora do Brasil, a imagem é péssima. Acham que as pessoas estão vivendo uma ditadura aqui (…) que eu matei gente na Covid. Isso influencia. Gente que quer investir no Brasil não investe”.

Ora, vejam, na cabeça do presidente, nossa imagem no exterior é ruim, não pelos desmandos do seu governo, mas pelas revelações feitas ao longo da CPI sobre os vários crimes cometidos por ele e seu governo no enfrentamento da pandemia.

Bolsonaro não parou de falar nem durante o intervalo comercial, sem perceber que suas redes sociais continuavam transmitindo ao vivo. Virou-se para os assessores e perguntou: “Presta atenção, pessoal, quanto vocês acham que vale a vaga para o Supremo?”. Sem concluir a frase, desabafou. “Então, é isso aí, é o Brasil. A gente apanha pra cacete”.

Nos últimos tempos, ele tem-se queixado frequentemente do cargo que ocupa. Parece que não vê a hora de cair fora, mas disputa a reeleição 24 horas por dia, não pensa em outra coisa. Não é estranho? Para mim, isso só pode ser masoquismo.

O caldo entornou no programa seguinte, o Pânico na Jovem Pan, quando o comediante André Marinho perguntou se quem pratica “rachadinha” deveria ser preso (dois filhos do presidente, Flávio e Carlos, que não foram citados, são investigados pelo MP do Rio exatamente por isso). Como André, filho do empresário Paulo Marinho, ex-aliado e atual desafeto do presidente, insistisse no tema, Bolsonaro abandonou o programa, que virou um bate-boca generalizado.

Pois Bolsonaro, ainda iria, em Manaus, mais uma vez, ao programa do seu amigo Siquêra.Jr, da RedeTV, um bolsonarista raiz, especialista em só levantar bolas para o presidente.

No final da noite, o presidente voltou para Brasília, onde ferve a discussão sobre a PEC dos Precatórios, a última tábua de salvação do governo para implantar o Auxílio Brasil de 400 reais no ano eleitoral. Por falta de acordo com a oposição e divisões no Centrão, Arthur Lira, o fiel presidente da Câmara dos Deputados, achou melhor adiar a votação para a semana que vem, que tem um feriado no meio para atrapalhar.

É dura a vida de presidente da República…

RICARDO KOTSCHO ” SITE DO UOL” ( BRASIL)

https://outline.com/jJFWe7

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