Mentira é o nome de fake news, o recurso que o capitão usa para trapacear a ciência e a democracia.
Um vexame que o capitão quer impingir ao país, como se todos nós, brasileiros e brasileiras tivéssemos a mesma cepa que ele. Mereceu desmentidos de todos os costados. Não, vacina não dá Aids; não, não há estudos sobre isso. Não há indícios. É mentira.
O obscurantismo é a meta; e o poder, o foco.
Castigado por plataformas de redes sociais, por divulgar mentiras, o capitão se aconchega em outros regaços. Cultiva a esperança de vitória com o discurso de ódio.
O endereço.
Uma foto internacional de 01, o primogênito do capitão, com a sua consorte, foi feita em Dubai. Vestido de sheik, com pompa de quem flutua sobre a lei.
Fica em Dubai a sede do Telegram. É para essa plataforma que o capitão se mudou quando o WhatsApp, Facebook e Youtube começam a fechar (ainda que timidamente) o cerco sobre as fake news.
Banido temporariamente do Youtube e apagado circunstancialmente do Facebook, porque mentiu com desfaçatez e preconceito sobre a relação entre vacina e Aids, o capitão tem acolhimento entre os seus, no aplicativo obscuro nas regras e nos processos, em que se libera geral para qualquer troca e oferecimentos – mentiras, crimes, negócios não auditáveis.
Foi para lá que se mudou Trump, depois que a opinião pública americana soube da sua conclamação à violência, na fatídica invasão do prédio do Capitólio, em 6 de janeiro deste ano. Trump está definitivamente banido do Twitter. Reside no Telegram. Onde tudo pode.
Quer armas, drogas, pornografia, pedofilia, terrorismo, tudo fica à disposição naquele endereço que desafia qualquer regulação. E está à disposição também o espaço para discursos que sustentam teorias conspiratórias, negacionismo e arregimentação de mercenários de qualquer natureza.
O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) não achou provas para condenar a chapa vitoriosa em 2018, pelo uso abusivo da rede WhatsApp com mentiras contra o PT e em benefício do capitão, denunciadas em reportagem dez dias antes das eleições e posteriormente detalhada em livro pela autora, Patricia Campos Mello.
Faltou regulamentação.
O capitão, obsessivo na sua busca pela impunidade, tem a seu soldo discurseiras que organizam argumentos para defender o indefensável. Foi o Lira que, diante do disparate premeditado da fake news sobre vacina e Aids, lançou um “se” não for verdade o que foi falado pelo capitão… mereceria punição.
Na Grécia antiga, em tempos de Platão e Aristóteles, grassaram pseudo filósofos, os sofistas. O pensamento deles se baseava na defesa de argumentos, ainda que falsos, para defender uma ideia. “(…) Os sofistas não tinham amor pela sabedoria nem respeito pela verdade […]. Corrompiam o espírito dos jovens, pois faziam o erro e a mentira valer tanto quanto a verdade” (CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2000.p. 43).
O sucesso da mentira se deve à falta de acesso ao conhecimento. E a perversidade no uso de plataformas sem lei é conhecida.
O capitão chora no banheiro. Nós, brasileiros e brasileiros, nas ruas, no descampado da incúria, diante do mundo, envergonhados.
Será que o Congresso Nacional vai precisar aprender, depois das eleições de 2022, que o Telegram deve ser regulado, e que deve ser contido o faroeste de sofistas mal-intencionados, agindo nas plataformas que se oferecem sem pudor para espalhar mentiras?
Quantas vidas mais?
OLGA CURADO ” SITE DO UOL” ( BRASIL)