GUEDES LUTA PARA SALVAR DOIS EMPREGOS NO BRASIL. JÁ BOLSONARO APENAS UM

CHARGE DE MIGUEL PAIVA

Após terem suspendido o auxílio emergencial de R$ 300 no início do ano, momento mais letal da pandemia, contribuindo com a fome e as mortes por covid-19, Jair Bolsonaro e Paulo Guedes apresentam o governo como socialmente responsável ao anunciar um Auxílio Brasil de R$ 400. Criaram o problema e agora vendem a solução.

Guedes empurrou o retorno do auxílio emergencial o máximo que pode nos três primeiros meses do ano, torcendo para que a pandemia arrefecesse e ele se tornasse desnecessário. Quando isso ficou insustentável (o centrão percebeu que a demora no retorno do benefício respingaria neles eleitoralmente), o ministro fez chantagem grossa, condicionando o pagamento de novas parcelas do auxílio emergencial à criação de “um novo marco fiscal, robusto o suficiente para enfrentar eventuais desequilíbrios“. Tentou aprovar uma de suas pautas – o fim da exigência de gastos mínimos do poder público em educação e saúde – como contrapartida.

Ou seja, dar autorização para remover dinheiro do SUS (Sistema Único de Saúde) e do recém-renovado Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica) para devolver o auxílio. Tirar dos pobres para dar aos paupérrimos, portanto. A proposta acabou enterrada diante do absurdo, mas a demora provocou estragos.

Ao mesmo tempo, a demora na retomada do auxílio serviu politicamente a Jair Bolsonaro. A suspensão do benefício durante uma quarentena baixada pela escalada de contaminações ajudou sua campanha para empurrar pessoas de volta às ruas.

Desde o começo da pandemia, o governo adotou a estratégia de forçar uma contaminação em massa, contando com uma inviável imunidade de rebanho. Bolsonaro queria todos voltando ao trabalho para que o impacto econômico fosse menor e isso lhe causasse menos transtornos em seu caminho para a reeleição. Com a ajuda do Gabinete Paralelo da Saúde, formado por negacionistas, e dos dados manipulados da Prevent Senior, tentou convencer os brasileiros que remédios inúteis, como a cloroquina e a ivermectina, os protegeriam da morte.

O pior é que, ao sabotar o isolamento social, Bolsonaro e Guedes contribuíram para o prolongamento da pandemia e, portanto, para a extensão da crise econômica, uma vez que quarentenas malfeitas reduzem mais lentamente a circulação do vírus.

Pagar uma renda aos trabalhadores pobres neste momento é mais do que fundamental, seja via extensão do auxílio emergencial, seja pelo Auxílio Brasil – o cover malfeito do Bolsa Família de Bolsonaro. Mas isso deveria ter sido planejado desde o ano passado, construindo um projeto robusto para garantir inserção social e apontando de onde sairiam os recursos. Isso, claro, é esperar demais em um governo voltado mais ao desmonte do que à construção. E que não sente empatia por ninguém além de si mesmo.

Guedes luta bravamente para salvar dois empregos no Brasil, o do presidente e, portanto, o dele. Já Bolsonaro, apenas o dele. E, se chegar a hora e Paulo for uma pedra no meio da reeleição, Jair vai pedir o desquite, mesmo que, no fundo, goste de seu ministro genuinamente bolsonarista.

Ouvir Bolsonaro e Guedes, depois de sua sabotagem aos mais pobres no início do ano, dizer que estão preocupados com o “social” quando a palavra “reeleição” está estampada em suas testas, dá uma azia grande. Azia só comparável a ouvir o mercado se indignar com o rombo no teto de gastos, após ter se calado diante de ataques às instituições democráticas, micaretas golpistas, desmatamento da Amazônia e, claro, mais de 605 mil mortos.

LEONARDO SUKAMOTO ” SITE DO UOL” ( BRASIL)

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